“DEIXE QUE OS MORTOS ENTERREM SEUS MORTOS”
2009
Pois é! Também eu me postei frente à TV Senado, das 19h de um dia, às 2h do dia seguinte (3 e 4 de 3/2009) para aprender, ao vivo e em cores, sobre o processo de cassação do governador eleito do Maranhão, ou não. Nunca – eu e alguns amigos e familiares – nos sentimos tão desinformados juridicamente. Burros mesmo! Sabendo-se que a decisão já estava tomada e que, pelo menos nós podíamos ser poupados do sacrifício de passar horas “admirando” um bando de atores de toga.
A cada 30 minutos da logorreia de um dos cinco “pretores” emproados sob negras e fantasmagóricas togas, éramos obrigados a baixar o volume e especular sobre o lado em que o “cabra” estava. Afinal, ele estava a favor da cassação, ou contra?
Eram tantos os “ad quo; animus abutendi; caput; dolo res ipsa; habeas corpus; interpretatio cessat in claris; ipsis verbis; mutatis mutandis; data venia; stricto sensu; vacatio legis e sine qua nons que, sinceramente, nem sei para quê transmitiram aquilo ao vivo. Bem podia ser somente lá para as bandas da Itália, onde ainda encontramos admiradores de Marco Túlio Cícero e Lúcio Sergio Catilina. Se o povo também pudesse ser ouvido, eu tentaria, depois, é claro, de uma cerimoniosa data venia, lembrar-lhes do vox populi, vox dei. Ora, vendendo o voto, ou por opção, o povo “botô o homi no trono”, logo, só ele, o povo, devia ter o direito de tirá-lo. Contrariamente, para quê votar, se todos os políticos, com raras exceções, jogam sujo para não perder as mordomias?
E aquela plumagem toda – aliás, gostaria de saber sobre o alfaiate das togas do supremo: como foi perfeito no significado. Ora se parecem com urubus saciados, ora com aves de rapina ameaçadoras – transparecendo honestidade, saber e justiça.
Nesse dia, ali estavam apenas para confirmarem o contrato anteriormente lavrado. Convencer o povo, para eles era a parte mais fácil: retórica a nós, incompreensível. Quem não percebeu, tanto o pró-Roseana do redator e do Presidente, como o pró-Jackson dos dois ministros mais novos? O Presidente deliberou – com sofreguidão e entusiasmo – o resultado dos votos. Deu para perceber? Não tenho muito a contestar, porque sei que não há, no mundo, um único ser humano totalmente neutro, diante de duas opções.
E minha turminha e eu, acuados em nosso canto de ignorância jurídica – ad argumentandum tantum – protestávamos: aquele “cabra” ali com cara de criança revoltada não havia votado a favor? É, achei que estava a favor, sim, mas talvez não tenhamos ouvido, nem tomado conhecimento do animus lucrandi – observava alguém já latinizado, cheio de malícia, quase deslocando a mandíbula num bocejo de sono, lá do canto da poltrona.
E, finalmente, lá pelas duas da madrugada, consumou-se mais uma prova incontestável de que, de fato, nós brasileiros continuamos espólio da mixórdia de nossos colonizadores: aqueles “párias” criminosos que os portugueses nos enviaram para deles se livrarem: tipo a nossa antiga, hoje formosa, Ilha Grande. Para mim, aquela peça teatral não passou de uma tremenda encenação do que já havia sido aprovado pelos “búzios”. É…., pouca coisa tem mudado entre os Tavares: o da Ribeira Grande e o do Maranhão! Paradigmas não se mudam assim, de um “século” para outro. E se há um estado que defende a “cultura” a unhas e dentes, com certeza este é o Maranhão. Pelo menos na política, somos imbatíveis. Alagoas, Pará, São Paulo, Rio de Janeiro… diante do Maranhão, não passam de aprendizes ou meros coadjuvantes.
De uma coisa estou certo: o velho Sarney é a raposa mais astuta, camufladamente vingativa e politicamente poderosa, que já pisou no lombo deste gigante adormecido em berço esplêndido. Êta véio porreta, sô! E, como dizem por aí: toma dinastia! Ainda bem – não que eu esteja torcendo – que contra o transcorrer do tempo não há conluios que adie por mais de um século: nem para a velha e esperta raposa!
Quanto a mim – parte do povão que sou – considerado estrume do tal gigante adormecido, já acostumado a revoadas de varejeiras diferentes, NÃO TÔ NEM AÍ! De lá ou de cá, para mim, nada vai mudar. Se a observação transparece reclamação, com certeza é porque lamento pelo meu País. Sei que – pelo menos por enquanto – não tem santo, nem o mais graduado, que dê jeito. Nem os nacionais. Se São Frei Galvão – de braços dados com Santa Dulce dos Pobres – ressuscitassem e se tornassem candidatos a vereadores, não conseguiriam cinco bicicletas para a carreata de campanha deles. A não ser…..