Ó QUI, Ó!
Livaldo Fregona – Escrito em 2005
Está chegando o dia de o povo decidir se deseja que criem, ou modifiquem mais uma lei estúpida, idiota e possivelmente desnecessária ao País. A opinião de cada um de nós em nada modificará o estado de coisas que anda ocorrendo internamente, ainda mais se observarmos que as mazelas da insegurança nacional não decorrem do excesso de armas nas mãos da população, mas de alguns policiais desonestos e de parte do sistema judicial e prisional descaracterizados.
Tanto faz promulgarem leis proibitivas como não: os bandidos brasileiros, ou estrangeiros bandidos instalados aqui, sempre conseguirão AR15, granadas, fuzis e tudo o que desejarem, mesmo porque há bandidos infiltrados em todos os órgãos públicos, principalmente na polícia. Os bandidos, como se sabe, são fora-da-lei. Já é ilegal matar, e eles matam. É ilegal roubar, e eles roubam. Se o comércio de armas se tornar ilegal, os bandidos vão continuar fortalecendo seu arsenal no mercado negro como sempre fizeram. Nós também, se quisermos, não ficaremos desarmados. O que há de comércio escuso, de estoques preventivos de lojas de armas em caso de proibição, não está no gibi. Aliás, os comerciantes podem até estar torcendo para que o SIM vença: ganharão mais, porque a exploração será certa: ainda mais quando o explorado não poderá abrir o bico e nem reclamar do preço exorbitante cobrado.
Esse estado de coisa jamais terminará enquanto nossa Constituição for escrita e aprovada por políticos que só pensam em si. Os milhões de artigos e incisos da Constituição Federal, assim como as leis estaduais e municipais, se divididos por dois, darão resultados exatos de divisão, sendo 50% de PROIBIÇÃO OU REGULAMENTAÇÃO e 50% de BRECHAS para escapar das proibições e regulamentações. Na verdade, as tais brechas são como labirintos, cujas saídas só são conhecidas pelos “engenheiros” que as construíram. Não é por outra razão que os “ladrões de galinha” mofam nas prisões e os de “colarinho branco” mal passam algumas semanas nos luxuosos apartamentos da Polícia Federal. Os ladrões que já roubaram, só ficam na cadeia se ainda não roubaram o suficiente…. Ou se não houver mordomo por perto!
Na semana passada, o coronel Pedro Ribeiro, comandante da 3ª Companhia da Polícia Militar de Imperatriz, numa entrevista pela televisão, desabafava: “Num único mês prendemos o mesmo elemento três vezes por assalto à mão armada. Nossos policiais – correndo risco de vida – prenderam-no por três vezes e, por três vezes, a justiça o recolocou nas ruas. Nas três vezes ele portava arma. A gente prende pela manhã e a “justiça” solta à tarde. Como nos culpar? ”
Cobertíssimo de razão, Coronel! Assim não dá!
Os juízes implicados, por sua vez se defendem: “É a Lei e estamos aqui para cumpri-la”. Mas, que merda de lei é essa? Para mim, o juiz que apenas aprendeu aplicar o que está escrito na Lei, ainda que seja honesto, não será um juiz justo. Lembra-me, digamos, um árbitro de futebol que confirma o gol em toda bola que entrar.
Um juiz pode falar vários idiomas, ter pós-doutorado em Harvard, ser autor de muitos livros sobre o assunto e revelar-se um mau juiz na hora da sentença. Currículo, não é garantia convincente. É preciso sensibilidade para perceber no acusado – mesmo com toda retórica de presumíveis provas de inocência, inclusive de testemunhas – a mentira não constada nos laudos. Dois mais um pode ser mais que três, desde que a mulher esteja grávida. É a barriguinha acentuada que a sensibilidade de um bom juiz não pode passar despercebida.
Agora me vêm com essa de referendo: mais um dia torrando o saco da gente, quando poderíamos apanhar um caniço e passar o dia sob um ingazeiro às margens do Tocantins, pescando mandis. Mais de duzentos milhões estão saindo dos cofres públicos para que esse referendo aconteça. Que a maioria escolha uma das opções, tudo continuará do mesmo jeito. Bandidos e os não bandidos que quiserem, sempre conseguirão as armas que desejam.
Esse gasto é análogo às obras eleitoreiras de início de campanha, tipo rodoviária de Imperatriz, ponte sobre o rio Araguaia, asfaltamento da Transamazônica e milhões de outras obras inacabadas que existem por aí. A última ajuda do Governo Federal aos estados para equipar a polícia e combater a violência, não chegou a cem milhões. O poder público brasileiro tem uma larga tradição em abster-se de enfrentar os problemas de forma realista e racional para buscar soluções no mundo do faz-de-conta.
Armas não servem para nada de bem, concordo. Deveriam ser proibidas no mundo todo. No soco teríamos alguma chance contra esses excluídos revoltados, que se justificam na inconformidade às injustiças sociais. No fundo, eu não condeno a maioria dos bandidos. Lamento apenas que eles não descontem nos causadores diretos de seus problemas. Normalmente sequestram pessoas inocentes, arrombam lares pobres, tomam bicicletas de crianças… Bandidinhos queridos, mirem nos culpados maiores e diretos de seus algozes! Porque não “revistam” as cuecas dos maus políticos ou as maletas dos deputados e senadores do Esquemão? É aí que vai todo dinheiro que poderia torná-los homens honrados e honestos. Por que sugar ainda mais os miseráveis e injustiçados como vocês?
Mas, voltemos ao Referendo do dia 23 de outubro de 2005. Armas só causam desgraças, concordo. Mas, por que não estender o Referendo para os cigarros e as bebidas? Quais os benefícios dos cigarros e das bebidas alcoólicas, além de cânceres, hálito insuportável e milhares de acidentes e assassinatos por mês? Engraçado, né? Nossos políticos não pensaram no fumo e no álcool. E nunca irão pensar, porque para manterem as mordomias, eles precisam de dinheiro, de muito dinheiro, e os impostos destas drogas são fundamentais.
A saúde da população, as famílias que perdem seus filhos em acidentes e brigas causadas pela embriaguez… ah, isto não tem importância! Filhos? Os pobres fazem outro logo mais à noitinha. E fazem mesmo, à revelia. Fazem milhares por noite, lá e cá. Morrem: um na barriga, outro nos primeiros meses, outro, com certeza, numa cachaçada futura…, mas, sempre sobrará unzinho que, sem educação, irá tomar o bastão e perpetuar a miséria, a violência e os gordos salários dos espertos.
Jamais se resolverá qualquer problema por meio de lei. O que qualquer nação violenta e pobre precisa para se desvencilhar do caos, é priorizar a EDUCAÇÃO. Note com é difícil uma pessoa formada, trabalhar na limpeza de ruas e esgotos; note com é impossível, a um pobre analfabeto, consultar um doente. Os milhãozinhos que estão gastando com o Referendo das armas, já representariam um bom começo.
A violência sempre existirá em qualquer lugar do mundo, mas que não seja por burrice, desonestidade ou incompetência do poder público, como acontece aqui no Brasil. Ainda bem que vi e ouvi pela TV, que os senadores elaboraram um documento reconhecendo a EDUCAÇÃO como único caminho para o progresso e o desenvolvimento do País. Aleluia! Mas acreditem: só reconheceram.
Ah, estava esquecendo! Que tal um referendo para saber se o povo quer, ou não, continuar sendo representado pela classe política? Será que eles teriam peito para arriscar um referendo desse? Por que não fazem um referendo para que o povo decida se as mordomias dos políticos e do Supremo devem continuar ou não?
Podem acreditar: pelo excesso de propaganda, pela divulgação exagerada, pelos milhões gastos nessa estupidez, ELES estão querendo chegar a algum ponto que desconhecemos, mas que, por certo, lhes será vantajoso se cairmos na armadilha. Desviar a atenção, então apontada para o mensalão? Mensalinho? Ofuscar a possibilidade de novas denúncias de corrupção? Receber propinas de outros países exportadores de armas em que o Brasil é concorrente? Não sei, mas sinto no ar que estão querendo chegar a algum lugar desejado por ELES!
Sempre é a mesma história: uma farsa por trás de uma questão com apelo popular e emocional para garantir interesses baixos e desonestos. Todos sabem que as pessoas que estão governando este país não merecem a confiança do povo, todos sabem que as coisas no Brasil não são como parecem ser.
Mais uma vez estão enganando, tirando o bumbum da hipodérmica e deixando o povo espetado. Pode crer: é assim. Quem viver, verá. Livrar as famílias de possíveis e esporádicos acidentes fatais com armas, juro: é a última coisa que passou pela cabeça dos promotores desse REFERENDO.