TERRA: UMA EXPERIÊNCIA DE DEUS
Em 1980, a humanidade contava com 5,4 bilhões de seres humanos; gado: 1,3 bilhões; porcos, ovelhas, cabritos, cavalos, búfalos e camelos: 2,7 bilhões; aves: 11 bilhões; seres vivos selvagens presumíveis: 50 bilhões.
Ajeitar todos esses seres vivos em seus devidos lugares é, convenhamos, dose para leão! Mas, não um leão qualquer.
Os historiadores antigos – embora não houvesse ibope naquele tempo – já se prendiam às narrações históricas estonteantes que mais pudessem atrair a atenção dos leitores pelos ‘séculos dos séculos’: assim como fazem nossos escritores, repórteres e apresentadores de hoje, enfocando, quase que exclusivamente, a miséria, a corrupção, os crimes hediondos, as orgias, enfim, as aberrações humanas.
Imagino que se houvesse uma lei mundial proibindo as televisões de explorarem o que acontece de pior no mundo, limitando a disputa pela audiência na divulgação de projetos humanitários, de paz e de conhecimento científico, elas teriam de fechar as portas. A inclinação humana para o mal é qualquer coisa mais que intrigante.
Não há, nem jamais haverá uma lei assim porque, generalizando, desde o mais miserável, ao mais poderoso dos seres humanos, todos vivem explorando as desgraças e os escândalos que acontecem no mundo.
Religiosos, humanistas, políticos…, todos os credos e etnias, do Antártico ao Ártico, inclusive aqueles que exaltam os mandamentos, na hora dura da comprovação, fraquejam ou condescendem.
Falar, pregar, ensinar, convencer os outros por meio da retórica, ainda continua sendo a carapaça que esconde a verdade: armadilha para os incautos que não resistem as premissas bem-dispostas. Cumprir, agir, dar o exemplo, mostrar pelos atos o que se prega: eis a questão.
A bola da vez, agora, é a guerra que os americanos sustentam contra os terroristas. Se, de fato, eles fossem a nação mais inteligente – como tentam fazer o mundo acreditar – concluiriam que o caminho não é o da força. Aliás, como é difícil entender um país que se autodenomina guardião da Democracia, desprezar as negociações e o entendimento!
Na verdade, depois de tentarem convencer o mundo de que são os melhores, imbatíveis e poderosos; depois de se propalarem um Golias cheio de armadura e força, tornaram-se incapazes de engolir a pedrada desfechada pela funda de um ermitão das cavernas do Afeganistão. Buscam água na Lua, mas não encontram o Osama ben Laden na Terra.
Com o orgulho ferido, estonteados, surpreendidos como um leão sonolento o seria nas estepes do Serengeti por um chacal atrevido, esqueceram toda tecnologia e sapiência e partiram para a ignorância, criando uma crise mundial cuja consequência poderá se transformar na terceira… e última guerra mundial. Mas, qual é a explicação para que seres humanos inteligentes ajam irracionalmente?
Na Natureza, todas as vezes que algum cataclismo ou o comportamento humano irresponsável desfaz sua harmonia, ela, tácita, mas implacavelmente, vinga-se. Na maior parte das guerras (com a exceção das civis), a causa é a divisão injusta dos bens comuns aos seres vivos existentes.
Colocando-se num prato da balança a população mundial, e no outro, as moradias, a desproporção é gritante. Então, a miséria avassala a humanidade; os egoístas defendem a qualquer preço as suas comodidades; a revolta dos injustiçados voluma-se e o caos acontece.
A ganância sem limite de uns poucos ocasiona a miséria da maioria. É como se um ladrão viesse à sua casa e, primeiramente levasse seus eletrodomésticos; depois retornasse e carregasse sua roupa e assim fosse agindo até deixá-lo sem nada. Neste caso, se esse ladrão imaginário tivesse em você a subsistência, também ficaria arruinado.
Os Estados Unidos alcançaram a posição de nação mais rica e poderosa do mundo explorando os países subdesenvolvidos, sendo os principais culpados pela maior parte da miséria que impera no mundo. Está chegando o momento em que terão de voltar de muitas dessas casas com as mãos vazias. E por mais medroso ou covarde que seja um ser vivo, tendo alguma chance, antes de ser liquidado, irá reagir, como sempre fará um pequeno gavião ferido contra o caçador que se agacha para agarrá-lo e dar-lhe fim.
O problema mundial da desigualdade cada vez mais se aproxima do limite. Para se ter uma pequena ideia, o Brasil que é tido em situação confortável de credibilidade (acredite se puder), deve, hoje (outubro/2001), 671 bilhões de reais. Por mais que se renegocie, o calote parece apenas uma questão de tempo. Daí ao conflito extremo, apenas um pulinho.
Eles querem, a gente diz que não tem; eles não acreditam; aparecem os embargos, e nada se resolve. Mamaram demais e as tetas não dão mais leite e eles precisam desse leite.
É desumano admitir, mas há tempo em que as guerras ou as pandemias são necessárias ou, quando nada, utilizadas para consertar os estragos do egoísmo humano. É como se fosse um edifício carcomido cuja solução é implodi-lo e erigir outro no lugar.
O planeta representa a casa da família humana. Logo, todo ser humano deveria ser herdeiro com direitos iguais sobre tudo o que nela existe. Mas, há os gananciosos, os egoístas que oprimem seus irmãos; há, também, oprimidos que não fazem por onde merecer qualquer consideração. Convenhamos: é um problema difícil de ser resolvido.
A guerra que se arma contra o Iraque, apesar de injusta por um lado, é necessária por outro. Se a humanidade (e aqui as religiões também entram) não entender a necessidade de frear o crescimento geométrico da população, o equilíbrio se dará de forma estúpida e violenta, através das guerras ou de alguma pandemia. Sempre haverá problema quando muita gente disputa o mesmo espaço. Deixar que os humanos aprendam por si é quase uma judiação de Deus à sua criação. Mas não tem outro caminho para aprendermos o presente da mais ampla liberdade.
A pequena ave de rapina ferida vai reagir, ferir, também, o forte agressor. Vai ser praticamente exterminada, mas, renascerá das cinzas! Nunca um povo derrotado o será completamente. O amor à pátria não depende de grandes exércitos. Voltará sempre até que a insensatez dos egoístas reconheça que nada se resolve pela força, definitivamente.
Não há mais como, algum povo eliminar outro povo. Um país poderá vencer várias batalhas contra outro país, mas jamais poderá viver tranquilamente dentro dele. Israel que o diga!
Com o passar dos séculos, a divisão mundial, aparentemente acomodou-se, mas ainda há alguns prejudicados que não se conformam. Tais conflitos ainda perdurarão por muitos séculos.
Deus não tem pressa, nenhuma pressa. Ele sabe das injustiças, mas não tem pressa, porque a Terra é mais uma de suas experiências.
Se as coisas não se ajeitarem, o Criador entenderá que “Sua experiência” não deu certo. E aí, todo mistério apocalíptico desvanecer-se-á diante da geração que cair na desdita de estar presente.
A paz só acontecerá quando a divisão justa for feita, ou seja, nunca. Logo, viveremos assim, estupidamente, até a consumação dos séculos.