AO LADO DO TRAVESSEIRO
APRESENTAÇÃO:
Nasci na roça, nasci original. Meus avós vieram de Vêneto (IT). Meus pais passaram para mim aquilo que lhes ensinaram meus avós. Eu aprendi e guardei os ensinamentos deles. No auge da minha juventude, um sacerdote secular alemão convenceu-me a ser padre secular. Fui para o Seminário Nossa Senhora da Penha, em Vitória, capital do Espírito Santo.
Ali me ensinaram que o Deus dos meus pais não era o verdadeiro, ou, pelo menos, o mesmo deles. Fiquei sem saber em quem acreditar. Comecei a procurar a verdade, mas ela estava escondida “numa imensa e escura floresta”. Adentrei cegamente nessa selva de mistérios até deparar-me com um grande círculo do qual saíam dezenas de atalhos – as religiões e seitas. Como uma “rosa dos ventos”, cada atalho seguia em direção diferente. Segui, uma por uma, (lendo livros atinentes) e todas terminaram num mesmo ponto indefinido: mata escura que se estendia indefinidamente (apenas deduções de cabeças humanas). Depois de ter andado por quase todas, voltei ao círculo inicial e, pelos vestígios que deixara, fui retornando ao ponto da partida: ao Deus dos meus pais.
Os sinais já pouco existiam e então me perdi de vez. “Marquei o rumo do Sol” e fui seguindo como podia. As roupas do espírito esgarçaram, a fome e a sede da verdade foram aumentando mais e mais.
Fui-me sentindo um verme numa poça de lama que secava; um peixe lançado nas areias do deserto; um caíque em alto-mar, em plena tempestade…
Desesperado, juntando as últimas forças, arrastei-me enquanto pude. Adormeci e sonhei que alguém me prestava socorro. Quando acordei estava no aceiro outra vez, exatamente no lugar em que havia começado minha procura. Lá adiante, no lugar de sempre, a minha casa. Corri para lá e já meus pais me esperavam de braços abertos.
Abracei-os, lavei o rosto, tomei rapidamente o desjejum, esfreguei as mãos, olhei os raios do sol que adentravam pela janela e, durante um ano, sofregamente, fui relembrando os detalhes da vã caminhada: o tempo de minha “vã procura”, já que Deus é inexplicável e somente encontrado pela fé.
Separei retalhos, pedacinhos, dicas que, agora sei, se remendadas, constituirão o caminho que tanto procurei desordenadamente. Como acreditava Jung, eu já não era original, e sim, cópia: um produto do meio perdido nos tantos paradigmas criados pela humanidade.
SOBRE O LIVRO
Este não é um livro para ser lido de uma só vez. Foi escrito para ficar ao lado do travesseiro, para ocupar aqueles minutinhos que antecedem o sono. Aprende-se mais num parágrafo bem meditado do que num livro de mil páginas lido às pressas.
São acontecimentos e narrações curtinhas, mas que encerram temas para muitas horas de meditação.
Diante de tantas injustiças, sofrimentos e descasos aos reais valores, se Deus não existisse, teríamos de inventá-lo. É imprescindível que a justiça seja exercida um dia.
Se alguém está convicto de que a vida termina com a morte do corpo, eu o invejo, desde que não esteja fingindo para justificar sua insensatez.
Não escrevi novidades: não há mais nada de novo a dizer neste planeta. Muita gente já escreveu coisas semelhantes, usando estilos e palavras diferentes. De qualquer forma, é impossível conhecer tudo: às vezes é preferível criar a buscar. E foi pensando, aproveitando observações, adaptando ideias, intertextualizando temas, que o livro surgiu.
Muitos pensamentos vieram-me pela Internet, sem autoria. Tratei de adaptá-los e refazê-los, segundo minha ótica de ver o mundo e a vida. Não é um livro religioso, embora encerre estímulo, esperança, coragem e fé. Faz contraponto com “A Procura”, escrito por mim no ano de 1984. De lá para cá, incansavelmente, como um garimpeiro munido de apenas um estilete, tentei remover montanhas de dúvidas para encontrar o diamante da verdade: devemos ser bons, andar direito, amar o próximo, seguir os mandamentos de Deus e aguardar sermos dignos de sua misericórdia.
Aprendi que não é preciso ser perfeito, mas lutar para sê-lo, o quanto possível, segundo os dons que recebemos ao nascer. Se você já conhecia a ideia da mensagem, repense-a; se não, medite sobre a verdade que encerra. Algumas foram pouco mexidas, pois “não há necessidade de mudar o que está bem dito”; outras, porém, serviram-me apenas de inspiração. Outras, ainda, foram decantadas de meus momentos de meditação, segundo o ângulo de minhas verdades.
De alguns capítulos aqui explanados, transcritos em parte ou adaptados, sem citação de autoria, peço desculpas, assim como as peço pelas ilustrações, ora aproveitadas da Internet, ora montadas por mim no intuito de completar, visualmente, a ideia. Com a nova tecnologia, há milhões delas disponíveis e, quase sempre, sem qualquer referência da origem. Minha intenção não foi plagiar nada nem ninguém, apenas disseminar e enaltecer as virtudes, na esperança de ajudar a quem estiver precisando. Outro pedido de desculpas faço-o pelo uso da primeira pessoa em algumas narrativas. Quis com isso apresentar fatos e ser testemunha deles.
ZERO À ESQUERDA
0.9 e 9.0
Cinquenta e seis anos é uma idade em que os médicos aconselham vigiar mais de perto os infortúnios físicos que chegam com o tempo. Embora eu também fosse um daqueles que acreditavam que coisas ruins não aconteceriam comigo, resolvi consultar um urologista: é que percebi que estava urinando com dificuldade e que, a cada mês, mais vezes eu acordava à noite para ir ao banheiro.
Foram-me pedidos: PSA, ULTRA-SONOGRAFIA e TOQUE RETAL, devidamente na ordem. Enviei o sangue para o Endo Center de São Paulo e, quinze dias depois, curiosamente, eu lia: “Valores de referências (basais): até 4.0 ng/ml. Resultado: 9.0”.
Telefonei para o médico e senti-lhe a preocupação. Mas ainda não era nada alarmante. Fui então para a ultrassonografia e, apesar dos indícios, nada foi visto que pudesse assegurar o pior. A dúvida persistia, porque se houvesse tumor, ele ainda não havia atingido o estágio irreversível. O toque retal seria o veredicto. O médico marcou para a outra semana, o que me deu todo tempo para repensar a vida. É que eu percebia a grande e maldita chance de haver sido tristemente premiado.
Naquela eterna vigília eu apanhava o exame de PSA, examinava e reexaminava, procurando uma saída para amenizar o resultado que apontava o perigoso aumento de células cancerígenas no organismo. De repente o sol de minha vida foi perdendo o brilho; a brisa que me suavizava o rosto quente parecia-me, agora, dura bofetada…. Nem as flores já me fascinavam tanto! Era apenas um pouquinho da angústia que o próprio Jesus sentira no sítio de Gethsemani.
Enquanto eu aguardava o dia da consulta, ficava cismando o que me estaria reservado para os últimos anos. À noite a insônia me levava a passear pelo passado. Lembrava-me dos sonhos, das lutas, dos planos… do desejo de ser alguém. Agora, tudo ruía, implodia-se ante a ideia do irreversível. Então eu, que sempre pedi fé, agarrei-me aos fiapos conseguidos implorando a Deus que me livrasse de tamanha desdita.
Tirei o carro da garagem, apanhei os exames já feitos e ganhei a rua do consultório. Ia devagar como se estivesse querendo adiar a sentença. Pelo caminho, sentindo um grande calor no rosto, entreguei-me nas mãos de Deus mais uma vez. Pedi a Ele que, se fosse possível, mudasse tudo, porque eu estava com muito medo de “saltar no escuro”, sem a certeza de Suas mãos poderosas a me ampararem. E naquele trajeto eu pude acreditar que, se Deus quisesse, podia livrar-me daquele câncer na próstata.
Subi pela escada, triste e vagarosamente. Quando chegou minha vez, entrei como se fosse um menino levado pelas mãos protetoras de sua mãe. Talvez lendo em meus olhos o temor, o médico ficou por vários minutos conversando comigo, remexendo com as mãos os exames que eu lhe entregara. Tentou consolar-me com as chances de sucesso aumentadas com as novas técnicas operatórias descobertas e com brincadeiras que pouco amenizavam minha grande tensão.
Cabisbaixo, eu apenas escutava, sem desviar o pensamento das promessas de Jesus Cristo: “Se pedirdes com fé, meu Pai ouvirá”. E eu pedi com o que acumulara de fé em minha vida de pedidos. E aquele pouquinho me lembrava apenas de que, para Deus, nada é impossível.
De repente, o médico tomou o exame de PSA nas mãos e começou a reabri-lo. Senti meu coração disparar. Em seguida, ajeitou os óculos sobre o nariz, afastou a cabeça como a buscar melhor foco, firmou o olhar, pôs o indicador em cima de um ponto e observou sorrindo:
– Mas o senhor me passou um bom susto, heim!
– Como assim, doutor?
– O resultado é 0.9 e não 9.0.
Embasbacado, mais feliz do que envergonhado, eu acorri a seu lado e olhei atentamente: de fato, ali estava, estranhamente reescrito, 0.9. Sem dizer nada voltei para minha cadeira e ao sentar deparei-me com um lindo quadro de Jesus… e Ele parecia sorrir.
Como sou um simples ser humano – o mais incrédulo dos cristãos – recaí novamente na dúvida de que podia ter-me enganado, várias vezes, quando li e reli o resultado. Ao examinar a próstata, o médico confirmou: nada de grave, graças a Deus!
No fundo, no fundo mesmo, eu tinha certeza de que havia acontecido mais um milagre: desses tantos que acontecem diariamente na vida de todos nós e que relutamos a admitir.
PEDIR SEMPRE
Com fé ou sem ela, peça!
Hoje queria falar com quem já fraquejou muitas vezes em sua decisão de mudar de vida. Amigo, não desista! Continue pedindo. Peça com a fé que tiver, com pouca ou sem nenhuma… no silêncio e na balbúrdia… de pé ou caído. Não esmoreça. Enquanto estiver respirando é sinal que Deus está aguardando e que ainda há tempo. Mesmo não sentindo qualquer emoção ou arrependimento, peça. Faça do pedir, uma dependência.
FREI ELIAS BALDELLI
Não me inveje! Nas atribulações do dia a dia começou a se tornar comum a figura de um velho frade capuchinho. Dias antes do falecimento de minha mãe encontrei esse homem debruçado perto da cabeceira dando a ela a Unção dos Enfermos. Velhinho, pobre, humilde, aparentemente triste, a pé na chuva ou no sol, ele andava pelos longínquos bairros de Imperatriz levando conforto aos moribundos. Sempre que o via imaginava refletida nele a minha alma capenga de fé. Mas, em meu interior eu acreditava que não era assim. Só mesmo uma grande fé podia manter aquela vida desprendida, aquela abnegação, aquela doação plena em prol do semelhante e da salvação da própria alma. Devia ser maravilhoso acreditar na caducidade desta vida e nas maravilhas que aguardam aqueles cuja única fortaleza é Deus.
Os dias foram passando. Numa quinta-feira, subindo a Avenida Luís Domingues (Imperatriz – MA) vi, de longe, aquele homem emblemático caminhando sob o sol causticante, cabisbaixo, compenetrado em sua esperança e missão. Sempre quando o via, alguma coisa estranha acontecia comigo. Era como se uma voz tentasse me dizer alguma coisa. Para ser sincero, nem sei como freei o carro rente a ele. Desacostumado a caronas ele apenas afastou-se um pouco e continuou caminhando com as têmporas molhadas de suor. Acelerei mais um pouco, passei alguns metros dele e na passagem, chamei-o. Ele aceitou entrar no carro.
Devagarzinho fui dirigindo, conversando com ele que, como imaginava, mais gostava de ouvir do que de falar. Relatei o que estava acontecendo comigo e da minha inveja por não possuir a fé que via nele. Disse-lhe que estava sendo difícil seguir os ensinamentos de Jesus, tendo como estímulo uma fé tão pequena.
Quando parei o carro em frente à Igreja de São Francisco, ele destrancou a porta, entreabriu-a, virou-se, fitou-me bem no fundo da alma e, simplesmente, disse:
– Não me inveje, filho!
Calmamente fechou a porta e com suas sandálias rotas, cabisbaixo, quase triste e muito cansado, foi desfazendo os curtos degraus da igreja. Foi então que pude perceber que o mais importante não era acreditar, mas sim, querer acreditar.
QUANDO PARTIRMOS, COMO SERÁ?
Escrevo este livro – já não como escravo de minhas fraquezas – mas livre como uma águia que plana sobre altas montanhas.
Em abril de 97 perdi dois irmãos com uma diferença de quatro dias de um para o outro. Morreram de infarto fulminante, embora ambos houvessem realizado um check-up com previsão médica de que, do coração, não morreriam tão cedo.
Enquanto eu ficava pensando na vida e nas tantas oportunidades a mim dadas, o mano Jayr me consolava com contundente observação:
“A Alemanha e o Japão tornaram-se mais fortes depois de massacrados e humilhados. A dor e o sofrimento fortalecem.”
Sempre temos medo do desconhecido, porém, ao vivê-lo, percebemos que não é tão feio. Hoje fico pensando: se os manos foram capazes de enfrentá-lo, eu também serei. A incerteza que me atormenta a respeito do que irei encontrar do outro lado da vida, quando chegar a hora, terá seu desfecho, tenha eu medo ou coragem.
Se segundo algumas crenças vamos mesmo nos encontrar do outro lado, já tenho metade da família lá. Hoje, sentimos saudades dos que foram; amanhã, quando já tivermos ido, sentiremos saudades dos que ficaram. Mas isso só iremos saber quando estivermos lá.”
Obs.: O mano Jayr que tanto me aconselhava, enquanto eu redigia os últimos capítulos deste livro, também foi vítima de infarto fulminante.
POR QUE NÃO MORRI?
Os desígnios de Deus
Estou me vendo com os olhos da memória. Não saberia precisar minha idade. Sei que era pequeno e que corria e conversava com as pessoas. Talvez, quatro anos. Há mais de meio século, o norte do Espírito Santo possuía uma das mais belas e ricas florestas do mundo. Muito acidentada, Marilândia, que apenas contava com algumas casas, um campo de bochas e uma capelinha, mostrava a Natureza em toda plenitude. Córregos límpidos esgueirando-se por entre troncos centenários de jacarandás, jequitibás, louros, vinháticos, moçutaíbas, ipês, perobas…, apenas para citar as mais nobres, eram uma constante a se perder de vista. Ainda me lembro bem de nossa casinha sobre um monturo de capim-pernambuco, com meus pais e irmãos mais velhos lutando no amanho da terra.
Com as imensas florestas da Mata Atlântica ainda exuberantes, a Natureza mostrava seu perfeito equilíbrio, nunca faltando chuvas nos tempos das plantações. E quando elas apertavam mais, advinham as enchentes que faziam os rios transbordarem, espalhando piabas, acarás, jundiás, traíras, moreias e mandis por todos os lados. Era o que chamávamos, como crianças sem qualquer conhecimento de coletivos, de “enxames”. Nessas horas saíamos pelos pequenos pastos, correndo na água suja sob o perigo das jararacas e surucucus, “caçando” rãs e peixes presos nas poças que se formavam.
Lembro que éramos apenas quatro famílias que somavam uma dezena de meninos. Naquele tempo, lá, qualquer rapaz com dezessete anos, de fato, podia ser considerado menor. Digo isso porque quando a “natureza” se fez sentir em mim, tive um grande medo achando que estava doente. No entanto, energia havia na rapaziada: energia para dar e vender. Lembro que eles corriam, gritavam, pulavam no leito cheio e sujo do riacho, sem medo nem cansaço. Eu os acompanhava e queria ser igual. Por isso, não bastou me proibirem de também pular no leito do riacho num dia de enchente. Pulei e desapareci como “um machado sem cabo”. Logo abaixo havia um grande remanso onde tiriricas vicejavam nos barrancos. No vaivém das marolas alguém viu uma de minhas mãos atracadas nas folhas cortantes de uma tiririqueira. Quando me tiraram, eu já estava desmaiado, com a barriga maior do que a de um baiacu aborrecido.
Mesmo tendo ficado debaixo da água por mais de três minutos, sobrevivi. E, tenho certeza, esse episódio teve a mão de Deus.
Por causa disso, hoje, quando caminho perdido em minhas crises existenciais, lembro-me de Deus, da responsabilidade dele por me haver permitido chegar à velhice.
Sinto que, como criança eu já podia estar no céu e que, agora, tenho de lutar e contar com a misericórdia dEle para conseguir.
Por isso, quando vejo um cisco de fé boiando no oceano de minhas dúvidas, como uma formiguinha, eu monto nele, esperando que as correntes me transportem aos pés de Deus.
O BIRIBÁ MAIS LINDO DO MUNDO
Quase morrendo pela boca, lá estava o biribá! Amarelinho na ponta de um dos mais altos galhos da fruteira. Apenas ele permanecia ali, livre até das mais longas varas da capoeira há pouco cortadas para aliviar o pasto. E eu o olhava com a boca cheia d’água, tropeçando nos estrepes pontiagudos da roçada que margeavam o córrego Liberdade. Tentei arremessar toletes: cansei o braço sem alcançar a altura. Fiz menção de desistir, mas alguma coisa que nascera em mim, não permitiu. Olhei, pensei, decidi: grudei-me no tronco, alcancei a primeira forquilha, encavalei-me e fui subindo, subindo até alcançar a direção. Mas o galho que sustinha o fruto era fino e já estava até emborcado das tentativas de outros que, prevendo o perigo, desistiram. O fruto era lindo! Solitário na ponta do galho, amarelinho…. No ponto de ser degustado. Não me contive.
Fui à junção do galho no tronco: ele cedeu um pouco, mas parecia resistir. Escorreguei-me um pouco mais: o galho baixou, mas parecia que não iria quebrar. Fui escorregando por ele. Já via o biribá a alguns palmos de minha mão. Eu iria conseguir. Já não pensava na resistência do galho. Estiquei a mão direita, mais… e mais… e mais um pouquinho… O galho não resistiu. Caí de costas. Fiquei sem sentidos.
Quando voltei a mim, vi-me metade dentro do riacho Liberdade, metade sobre as pernas do João Marquioli: um colono de meu pai que, por acaso, passava pelo local ao voltar de sua roça. Ele me arrastou para a margem e me jogava água no rosto enquanto balbuciava alguma oração. Acho que ele fazia isso.
O mundo todo rodava e eu sentia meu corpo inteiro anestesiado. Meus membros não obedeciam qualquer ordem cerebral. Só meus olhos giravam nas órbitas, sem saber ainda o que havia acontecido.
Ao perceber que eu recobrara os sentidos, o João puxou-me um pouco para cima e correu para avisar meus familiares. Levaram-me nos braços e me deitaram na cama, sobre um colchão de palha de milho. Meu corpo, até então anestesiado, começou a sentir dores, e meus membros já podiam se movimentar levemente. Meu pai aproximou-se. Ele era duro quando precisava ser, mas o mais compreensivo e bondoso pai do mundo nas horas graves e, principalmente, nas doenças.
Arreou o cavalo Queimado e saiu em disparada para Marilândia, em busca do Dr. Nikman, um médico alemão banido de sua pátria no fim da Segunda Guerra. Ele me examinou e profetizou, dizendo que eu teria sérias sequelas para o resto de meus dias. Depois foi ao biribazeiro, examinou a altura, os estrepes que poderiam ter-me traspassado de um lado para outro, e disse para o meu pai:
– “Agorra eu acreditar em milagres!”
NUNCA DÊ CHANCE AO AZAR
Escapando mais uma vez.
Lá íamos nós, teimosos e inconsequentes, três horas, sem luar.
Os focos de nossas lanternas clareavam curtos espaços naquela escuridão metuenda, em que apenas o chirriar de corujas assustadas e o cricrilar de centenas de grilos denunciavam o crime de desrespeito contra uma reserva biológica de Linhares, no Espírito Santo. Por uma vazante de chuvas que levava ao riacho Quirino, eu ia à frente, abrindo picada com meu facão Corneta, afiadíssimo. Atrás vinha o mano Jayr, médico pediatra de Linhares, no Espírito Santo. Hoje, falecido.
De repente, eu olho para trás e vejo que ele me segue com o cano de seu rifle automático apontado em minhas costas. É que os rifles não tinham alças e eram transportados nas mãos. Então observei:
– Mano, vire esse diabo de cano para trás!
Ele obedeceu, dizendo antes que não havia perigo, pois estava sem bala na agulha e travado. Retruquei que nunca devemos dar qualquer tipo de chance ao azar. Ele riu, dizendo jocosamente que não gastaria uma bala em mim, a não ser que já fosse mascada.
Não mais que cinquenta metros depois, a arma dele disparou sozinha. Ele ficou paralisado, como que petrificado diante do que havia acontecido. Sentou-se sobre uma raiz de pequi, esfregou o boné na testa suada e observou:
– Há coisas que jamais irei conseguir explicar nesta vida! Esta arma não podia ter disparado sozinha! Ela estava sem bala na agulha, desarmada e travada.
“FILHO, UM DIA DEUS PODE ESTAR DISTRAÍDO”
A vida por um centímetro
Aos 13 anos eu despertava para as caçadas. Seguia meu irmão Adalho por todos os lados que ele fosse com a espingarda na mão. O mano foi o melhor caçador do Espírito Santo, numa época em que se podia caçar à vontade. Naquele tempo, embora Haeckel tenha usado a expressão Ecologia pela primeira vez em 1866, os ecos da destruição já sentida na Europa ainda não ecoavam pelo mundo selvagem dos rincões capixabas. E não havia um só feriado ou domingo que o nosso mano mais velho não arreasse o seu cavalo Queimado, metesse o Tiozinho e o Rondante (seus dois cachorros de estimação) nos balaios e saísse pelos grotões à cata das pacas. E eu… sempre atrás dele.
Meu pai, já um pouco adoentado nesse tempo, caçava por perto, em locais que não precisassem de muito esforço físico. Nestas, o mano Adalho não ia, para que as pacas tivessem mais chance e o velho se divertisse por mais tempo. Eu, porém, acompanhava tanto um, como outro. Era só um deles dar o sinal e eu já estava pronto, com uma Rossi 32 nos ombros.
Nesse dia meu pai e eu fomos caçar umas pacas que viviam num capão de matas dos Lorenzonis, contíguo ao vilarejo. Meu pai já andava devagar, sem aquele vigor de quem pisara e desbravara aquele mundo hostil. Ia sempre com uma espingarda Du Moulin sem cães – grande novidade que o mano Adalho havia há pouco adquirido.
O cachorro que sempre acompanhava meu velho não fazia parte da dupla famosa do mano, mesmo porque meu pai temia “desamestrá-los”. Levava, então, o Chapocão, um cão retaco, esbranquiçado, de grosso nariz e latido grave e metuendo. Meu pai sempre dizia que se paca falasse, aquelas dos Lorenzonis, certamente, já rogavam inúmeras pragas àquele cão que lhes havia decorado as tocas e que, em várias e frias manhãs, obrigava-as a deixar o abrigo quentinho para se atirarem na água gelada do córrego Macaco.
Pois bem, a gente soltava o Chapocão e arriscava uma das dezenas de trilhas que iam à água. Durante anos perseguimos aquelas pacas: durante todos aqueles anos nenhuma delas perdeu a vida. Só Deus sabe quantos galopes eu dei pela beira do córrego Macaco tentando cercar aquelas pacas que pareciam saber sempre a trilha em que eu me encontrava vigiando.
Num dia qualquer, quando eu corria pela mata como um louco para cercar uma delas, o cão direito de minha espingarda Rossi enganchou em alguma coisa, armou pela metade e, ao escapar do empecilho, desceu e detonou o cartucho. Como o engancho havia puxado a coronha para trás, os canos ficaram em direção à minha cabeça. O tiro arrancou-me o boné deixando os cabelos arrepiados para cima e todos queimados de pólvora. Algumas gotas de sangue escorreram-me pelo pescoço e cheguei a imaginar que estava ferido de morte.
Meu pai chegou logo. Examinou, reexaminou e depois deixou escapulir:
– Filho, cuidado para não arriscar tanto a vida, porque um dia Deus poderá estar distraído.
“SER JOVEM É BOM PORQUE PODE MORRER E RESSSUSCITAR MUITAS VEZES”.
O futebol, durante 50 anos, fez parte da minha vida como o sangue que me corre nas veias. Com 17 anos eu já fazia parte do América F. C. de Colatina, time que disputava o campeonato regional juntamente com a U.A.C.E.C., o Vila-Nova, o Colatinense, o São Silvano, o São Vicente e o Marilândia. A U.A.C.E.C. sempre foi a melhor equipe. Era formada apenas de estudantes do Colégio Estadual Conde de Linhares e dificilmente havia um jogador com mais de 20 anos. Logo que a U.A.C.E.C. passou a disputar o campeonato estadual fui convidado e aceitei jogar como meia-armador da equipe. Dos 18 anos até os 56, nunca mais tirei a camisa 10 das costas.
Na U.A.C.E.C. os treinamentos eram pesados até mesmo para jovens em pleno vigor físico como nós. Obrigavam-nos a colocar um companheiro nos ombros e subir e descer as escadarias do Estádio Municipal pelo menos três vezes seguidas. Depois vinham outros exercícios e o treino coletivo.
Num dia muito quente, com o sol a pino, o técnico exagerou nos exercícios. Eu sentia o rosto quente demais: parecia estar com labaredas a poucos centímetros. Mesmo assim corria, pulava, exercitava. Depois de uns 30 minutos dos últimos exercícios mais pesados, fomos dispensados. Eu trabalhava na Odontótica Capixaba do amigo Neil Pacheco, polindo pontes móveis. Precisava almoçar e estar lá em menos de uma hora. Por isso saí na frente, entrei no banheiro, abri o registro… e foi tudo o que vi.
Às 17h30min abri os olhos. Estava num hospital, com o calção suado no corpo, rodeado por meus companheiros e pela diretoria do time. Enquanto muito assustado eu procurava situar-me, o médico entrou. Tomou meu pulso, examinou várias partes do corpo, fez algumas perguntas e concluiu:
– O bom de ser jovem é que se pode morrer e ressuscitar muitas vezes!
“VIGIAI E ORAI, PORQUE NÃO SABEIS O DIA NEM A HORA”
Aos 13 anos eu já acompanhava as caravanas de caçadores que saíam de Marilândia – ES para os diversos lugares do Brasil. Durante mais de 40 anos carreguei comigo seis ampolas de soro antiofídico. De dois em dois anos eu tinha que comprar seis ampolas novas, porque, fora de lugar adequado, elas estragavam. Embora nunca tivesse sido picado por qualquer serpente, por dezenas de vezes fui seriamente ameaçado. Houve dias que eu não posso evitar de classificar como milagre, ter escapado da picada.
Até hoje o costume continua o mesmo: se entro na mata, levo o soro comigo. E foi assim que, em 1994, quando capturava um tipo de inhambu vulgarmente conhecida pelos caboclos como “nambu taquara”, na mata do senhor Alcides, no município de Açailândia – MA, o soro que carreguei durante quase meio século salvou a vida de um amigo.
A surucucu-papagaio cravou-lhe as presas no pescoço no exato momento em que ele se esgueirava sob uma pequena árvore que havia perto de nossa choça. Em menos de cinco minutos, o meu amigo José Bigode estava prostrado nas folhas, lívido como um boneco de cera. A língua, os olhos… tudo estava branco. As roupas dele ficaram molhadas como se ele tivesse caído num riacho. Quando acabei de preparar a injeção, pensei que nem mais valesse a pena aplicá-la, pois o percebia morto. Apliquei as seis ampolas e em menos de meia-hora ele estava de pé, caminhando comigo como se nada tivesse acontecido.
Quarenta anos carregando, aparentemente em vão, aquelas ampolas! Lembrei, então, do que Jesus Cristo nos alertou: “Vigiai e orai, porque não sabeis o dia nem a hora.”
POR UM TRIZ
A surucucu-pico-de-jaca
Nesse tempo já havia agentes florestais protegendo a fauna de Linhares – ES, principalmente as reservas Federal e da Cia. Vale do Rio Doce. Por isso, os caçadores que insistiam no esporte proibido tinham de tomar algumas precauções para não acabar sendo fichados na Polícia Federal como contraventores.
Para diminuir o risco, meu cunhado Arlindo e eu entramos na floresta biológica à meia-noite, pois não queríamos correr o risco de “pagar mico” aos companheiros. Sempre que os guardas flagravam alguém, a notícia corria pelos jornais, rádios e televisão, além de os agentes fazerem questão de desfilar com os caçadores pelas ruas da cidade. Ninguém queria passar por tamanho vexame… nem se livrar da dependência de perseguir os alígeros.
Por ser o mais novo, na mata eu sempre ia à frente abrindo a picada. O companheiro, normalmente, levava minha arma. O Arlindo era um exímio localizador de macucos no poleiro, por isso, com ele, eu sempre entrava mais cedo na floresta. É que os macucos piam durante a noite e a gente os achava e abatia ainda no poleiro, antes que o dia amanhecesse.
Nesse dia caminhávamos por dentro do riacho Cupido, que se transformara em imenso igapó prenhe de açaí… e de surucucus, que sempre preferiam aqueles lugares por causa de sua alimentação preferida: os anfíbios e roedores. Num determinado ponto encontramos uma moita enorme à nossa frente, formada pela galhada de um paraju arrancado por alguma tempestade. Sem muita opção, resolvi passar por baixo, abrindo com o facão uma estreita passagem. Na verdade, eu estava rompendo a moita no peito. Foi quando o meu cunhado que vinha logo atrás, puxando-me fortemente pela cintura, gritou exclamativo e assustado:
– Nossa Senhora! Veja que cobra!
Eu jamais fui de constatar primeiro em tais emergências. Por isso, movimentei-me célere pra trás e, na investida, joguei meu cunhado de pernas para cima, ao que ele, depois, desabafou:
– Da próxima vez vou preferir o perigo da surucucu!
Ao ver seu recinto desrespeitado a enorme cobra elevou-se do solo a um metro de altura e estava pronta para defender-se, picando-me no rosto. Do jeito que eu ia distraído e decidido, com certeza, não iria acontecer outra coisa.
Mesmo depois que nos afastamos ela continuou defensiva, tremelicando a cauda, com os olhos fixos na gente. Fiquei tão nervoso que precisei disparar vários tiros para abatê-la: as mãos tremiam muito e me dificultavam a mira.
Escapara mais uma vez!
GRATIDÃO ETERNA
Meu amigo, meu Anjo da Guarda!
Foram meses penosos escalando morros frios e estreitas veredas ameaçadoras pelos recantos mais ermos de Cachoeiro do Itapemirim -ES e adjacências. Meu amigo chamava-se Hido Canal: um homem retaco, extrovertido, cabelos ruivos encaracolados, cujo grande sonho era dar o melhor para a família dele. Embora passássemos semanas longe de casa, com toda chance do mundo para estripulias extrafamiliares, ele jamais falava sobre o assunto. Nas tardes de fim de semana preferia apanhar um caniço, arrancar algumas minhocas e perseguir os lambaris dos regatos gelados que desciam das encostas.
Hoje, uma cova simples guarda meu amigo, vítima de um auto disparo no coração num dia em que suas forças sucumbiram às inexplicáveis provações que a vida lhe impôs. Mas ele continua no fausto sagrado de minha gratidão. Foi ele quem, numa tarde, quando cansados retornávamos de uma incursão, arrastou-me violentamente pela camisa, no exato momento em que eu, sem perceber, ia entrando debaixo de um ônibus da Viação Itapemirim.
Tentávamos cruzar o asfalto para matar a sede com um copo de leite com Nescau, na lanchonete que ainda hoje lá existe, em Safra, no cruzamento para a terra de Roberto Carlos.
Caí sentado no acostamento, enquanto o veículo, ainda ziguezagueando pelo asfalto, deixava ver pela janela um punho cerrado em impropérios. Certamente o motorista, diante de minha irresponsável distração, refazia-se também do susto. Lívido, com as pernas tremendo, com os olhos ainda cheios de fina areia levantada e arremessada no vácuo do ônibus, agarrei-me nas calças do amigo e – ainda lembro – cão fiel algum talvez tenha dispensado um olhar mais convincente de gratidão.
Com certeza, como um anjo de Deus ele havia salvado minha vida… mais uma vez.
QUEM VIU NÃO ACREDITOU
A cabeça teria de ser esfacelada
Com o rosto amarelo pelo suco de uma manga-rosa recém degustada, eu acabara de entrar no “quitungo” dos Falquetos, nossos vizinhos mais próximos. Embaixo, uma roda pelton de madeira, com seus intermitentes tapinhas monótonos na água da bica, acionava uma verdadeira parafernália de polias de madeira e correões. Impulsionadas, as palhetas dentro do tacho giravam rapidamente, revolvendo a mandioca passada no rodete e enxugada nos tipitis dependurados. Lembro que quase toda minha família estava lá trabalhando: minha mãe raspava as raízes; minha mana Elda lavava-as e as deixava num balaio perto do Brando, que as passava no rodete; meu pai vigiava os tipitis e o forno…. Naquele tempo, o Adalho, mano mais velho, estava aprendendo odontologia prática; o mano Dolmino, as artes de ferreiro, que lhe valeram a alcunha de “brusa-fer”; o Jayr, já estudava fora. Eu e a caçula Leide vivíamos aumentando o trabalho dos demais.
Andando pra lá e pra cá, abocanhando um punhado de farinha na distração de meu velho, acabei encostando num grande eixo de ferro que rodava a um palmo do assoalho do sótão. E ali, distraído, comecei a brincar com ele, colocando alguma coisa para que nele ficasse girando. De repente minha camisa foi apanhada pelo eixo e, como o pano era resistente, ergueu-me violentamente. Sem saber como passei entre o eixo e o sótão, caí desmaiado do outro lado. Quando abri os olhos estava nos braços de minha querida mãe, e o remédio vinha em gotas mornas de lágrimas desesperadas. Paulatinamente fui sentindo aquelas mãos sedosas de polvilho acariciando-me o rosto e dezenas de anjos ajoelhados a meu lado, proferindo orações desconexas.
O espaço entre o eixo e as tábuas do sótão não media 20 cm, e mesmo assim passei… e continuei vivo.
QUE SERÁ DESTE MENINO?
Manter-me vivo deve ter sido difícil até para os anjos.
O pé de laranja-seleta mantinha apenas os frutos mais altos. É que, no meio da laranjeira, havia um grande casulo de marimbondos tapiucabas. Sempre importunados por toletadas que visavam derrubar os frutos, eles viviam com suas asinhas retesadas e ferrões avermelhados expostos e ameaçadores.
Os mais velhos e sensatos já haviam dado os frutos por perdidos. Eu, porém, inconsequente e guloso, não me cansava de maquinar planos a fim de chupá-los. E numa tarde, devagarzinho, comecei a subir pelo pé. Desviando dos espinhos e sempre de olho nas tapiucabas, fui progredindo. Cheguei a passar por elas, mas não sem ser percebido. Sempre atentas e irritadas elas abandonaram o interior da casa e se puseram em volta, em posição de guarda, prontas para o ataque.
Comecei a colher as laranjas e colocá-las por dentro da camisa com as pontas amarradas. Mas as pontas desataram e as laranjas desceram, excitando as vespas que subiram determinadas. Não foram necessárias mais que algumas ferroadas: despenquei lá de cima, ferindo-me nos galhos espinhentos e acabando espetado na ponta de um dos mourões do chiqueiro. A acha penetrou entre a coxa e a nádega esquerda, deixando-me quase empalado.
Novamente, no meio dos gritos, apareceu minha querida mãe, suarenta, com seu lenço na cabeça e a saia esvoaçando:
– Filho, filho, você acaba se matando e me matando também – ouvi-a dizer sem saber como me tirar lá de cima.
Nossa casa era – como toda casa da roça daquele tempo na região – de madeira, sem forro, apenas com tábuas separando os quartos. Qualquer barulho de um lado era ouvido no outro. Por isso não me foi difícil ouvir meu pai e minha mãe concordarem angustiados:
– Que será deste menino, meu Deus!
Ainda hoje carrego a cicatriz e a lembrança das varejeiras combatidas a creolina.
SIM, DEUS EXISTE
Sequestro relâmpago
Três revólveres apontados em minha direção a menos de três metros. Naquele momento uma grande angústia apossou-se de meu coração e, sem mesmo pensar, pronunciei o nome de Deus. Senti que o meu dia chegara e, entre todas as formas de morrer, certamente, aquela era a que menos eu desejava. Protegi a nuca com as mãos entrelaçadas e dei os primeiros e trôpegos passos, totalmente arredios às determinações cerebrais. Como foi difícil caminhar para a morte!
Atrás de mim o pelotão abespinhado aguardava a hora dos disparos. Minutos de desolação, fraqueza ante o fim iminente.
Quando dei os primeiros passos um estampido ecoou, assistido apenas pelos respingos de um temporal que há pouco se fora, e de lampejos da tempestade que seguia ao longe em fragores. Parei indeciso: na proximidade do fim, é muito difícil pensar! Num esforço supremo pronunciei o nome de Deus e continuei andando. Quando a barriga desnuda tocou nos fios de arame farpado da cerca, ouvi as portas do carro baterem e o roncar kracatoano do motor, já sem os canos de escapamento.
Respirei fundo e olhei para o alto, onde nuvens retardatárias corriam atrás daqueles cogumelos eletrificados que chispavam a terra com a luminosidade de mil geradores. As estrelas já podiam ser vistas como olhinhos de mil anjos do Senhor. Senti o prazer de haver nascido mais uma vez.
Aqueles respingos gélidos que salpicavam meu corpo febricitante causavam-me a sensação de ter descido de outro mundo com a curiosidade dos primeiros astronautas a tocarem a lua. Tudo parecia estar sendo visto e sentido pela primeira vez.
Chegava-me, de além-mar, a primeira resposta que um dia tanto fiz, sentado na praia Santa Helena, lá no Seminário Menor dos padres seculares, na capital capixaba, olhando o incomensurável das águas do Atlântico: onde estás, meu Deus?!…
Nu, pela escuridão da noite, fui caminhando. Já bem longe explodiam os trovões. O firmamento negro abria-se ante a força dos raios enquanto, por cima, milhões de estrelas piscavam aflitas no infinito. Mas todo aquele aparato dantesco ainda era menos Deus do que o silêncio profundo que emergia, enchendo minha alma de fé: sim, Deus existia.
Eu não poderia, sozinho, ter escapado com vida.
SORTE OU MILAGRE?
Há dúvidas que nunca serão dirimidas.
Embora pareça paradoxal, a maioria de nós dá mais valor à vida quando ela já pouco deveria significar. Na trajetória de nossa existência há tempo em que atiramos ouro pela janela e tempo em que buscamos cobre entre espinhos e pedras.
Aos 20 anos eu dirigia sempre, nas estradas asfaltadas, a uma velocidade média de 120 quilômetros. Achava divertido. Numa dessas minhas viagens – tendo ao lado meu inseparável amigo e cunhado Arlindo, a quem raramente chamava pelo nome – eu retornava de Nova Alegria – BA, onde havia adquirido uma área de matas para extração de madeiras.
Já próximo à cidade de Linhares – ES, ao passar pela Reserva Federal, mudamos o assunto para nossa próxima investida naquelas selvas que eram nossos sonhos… e pesadelos. O carro trafegava em alta velocidade. O trecho era reto e por isso vimos, ainda longe, um caminhão Volvo que vinha em suspeita estabilidade. Fizemos um rápido comentário e continuamos. Mais ou menos a 200 metros, o caminhão foi tomando o meio da pista em direção à minha mão. Em poucos segundo ele ocupou toda minha faixa. Meu cunhado Arlindo, gritou:
– Cuidado, o motorista está dormindo!
Não tenho a mínima lembrança de ter raciocinado ou pensado numa estratégia para escapar daquele momento trágico. Lembro apenas que meu cunhado gritou pelo nome de Nossa Senhora e que me vi em ziguezague pela pista. Embora imprensado, passei pelo acostamento cheio de saibros soltos, arremessando-os contra as árvores da Reserva, fazendo um barulho ensurdecedor. Quando equilibrei o carro na pista, quase não tive mais forças para pressionar o freio. Desci, respirei fundo, e ao olhar para meu cunhado, vi-o sentado no meio-fio com ânsias de vômito. Com o barulho da derrapagem, o motorista do Volvo acordou, acertou o caminhão e estacionou. Saiu do carro, sentou também no meio-fio e baixou a cabeça pensativo. Ele e nós ficamos assim por um bom tempo: pelo menos até o sangue retornar a seu devido lugar.
À MINHA FILHA DRIELLY
Paráfrase
Apenas nesta manhã eu vou sorrir quando ver você acendendo suas velinhas e enchendo a casa de incenso. Rirei, mesmo estando preocupado. Quero deixar você escolher o que vestir e dizer que está ótima. Permitir que vá passear no shopping, ao cinema com suas amiguinhas e, mais tarde, quando o sol estiver sumindo, sair com você para a “Beira Rio” e ficar vendo você suar em seu skate, enquanto converso com o vendedor de espigas na orla da lagoa.
E quando a noite chegar vou tirar o telefone do gancho, manter o computador desligado, sentar com você na varanda, estender a toalha, brincar de bruxa, jogar baralho…
Não vou gritar nenhuma vez, nem mesmo resmungar quando você reclamar com a empregada ou responder à sua mãe. Apenas hoje não vou me preocupar com o que vai ser quando crescer. Ficarei atento quando me contar o que aconteceu na escola ou dizer de seus namoricos.
Quero segurá-la em meus braços, contar-lhe uma história sobre como apareceu e como sua mãe e eu aprendemos a amá-la. Apenas nesta noite eu vou deixar que fique com o chuveiro elétrico ligado durante meia-hora e, prometo: não vou ser impertinente. Ficarei acordado com você até tarde assistindo os Simpsons como se fosse o filme mais desejado de minha vida. E, pela manhã, que “A vaca e o frango” seja o programa mais importante da televisão.
Quero ficar a seu lado por horas, perder os noticiários, a decisão do campeonato e comentar as peripécias dos Simpsons. Apenas nesta noite, enquanto eu passar meus dedos entre seus cabelos para que o sono invada seu corpinho cansado, não lhe pedirei para rezar comigo. Quero apenas que durma como uma criança cansada e feliz.
Depois, quando estiver ressonando, ficarei pensando nas mães e nos pais que procuram por entes perdidos, que visitam a sepultura de seus filhos ou que estão nos hospitais chorando, por dentro, de desespero. Então lhe darei um beijo de boa-noite, vou segurá-la um pouquinho mais forte por um pouco mais de tempo, e dizer:
– Obrigado, meu Deus! Sei que, apesar de tudo, a filha que me presenteou é a melhor do mundo.
GRANDES ESCAPADAS
Sempre por um triz
Com um quite de capturar pássaros às costas eu caminhava pela floresta. De repente, muito próximo, um piado de macuco. Ao lado, a sapopemba de um pequi. Coloquei o que carregava ali. Estendi a choça em torno da catana, cortei umas folhas de pindoba para camuflar, armei o laço, dispus os alto-falantes e voltei para dentro do esconderijo. Ao agachar-me para ajeitar a cadeirinha, os pios que estavam no bolso da camisa caíram no meio das folhas. Agachei-me ainda mais e comecei a procurá-los. Estava muito escuro lá dentro por causa da choça e das folhas da camuflagem. Baixei então quanto pude para melhorar a visão. Ao esfregar a mão pelas folhas percebi que algo avançara no meu rosto. Por reflexo me esquivei pulando para fora da catana. Arranquei as folhas para clarear o local e pude perceber a jararaca que, pela graça de Deus, não me acometera no rosto.
Uma semana depois, num dia de chuva, estávamos na sede da fazenda. Quem convive em fazendas sabe que, principalmente em regiões quentes como o Maranhão, as cobras gostam de se proteger dentro das casas no período de muita chuva.
O mano resolveu pregar umas tábuas soltas do banheiro e me pediu para que eu lhe levasse o martelo e alguns pregos. Deviam estar numa caixa de papelão em cima de uma prateleira improvisada, bem perto do telhado. Fui até lá, alcancei o interior da caixa, esticando o braço quanto podia. Pelo tato percebi o martelo e alguns maços de pregos. Retirei-os e os levei, mas não eram os pregos que o mano desejava. Então voltei e como havia muitos maços de diferentes tamanhos, resolvi descer a caixa para olhar melhor. Assim fiz, e quando ia metendo a mão, outra jararaca que lá chamam de “rabo-seco”, deu o bote. Novamente num reflexo consegui livrar-me, pode-se dizer, por milagre.
Muitas vezes – porque sempre vivi em contato direto com a Natureza – passei por momentos iminentes de grandes perigos, principalmente com ofídios, e sempre algo me protegia como se não se cansasse de me dar oportunidades.
NÃO CONFIE EM COISA RUIM
Uma arma sempre pode esconder uma bala
O médico piauiense Dr. Joel Coelho, entreabriu a porta e entregou a arma automática ao Adalho, meu irmão mais velho. A pergunta comum e de segurança, veio rápida:
– Está com bala na agulha?
– Não. Tirei-as todas, pode verificar.
Pernoitamos na casa do amigo Paulo Gava, cuja fazenda fazia divisa com a Reserva Federal. Naquele tempo eu seguia meu irmão, pois ainda era muito inexperiente. Lembro que não dormi durante a noite. O desejo de entrar, pela primeira vez numa floresta quase intocada, criava-me uma emoção incrível. Rolei a noite toda e fiquei feliz quando o grande relógio de parede bateu, avisando que era hora de levantarmos. Fui rapidamente ao quarto do mano:
– Já ouvi – disse ele, enquanto fazia alguns exercícios de alongamento.
Paulo, o anfitrião, também levantou e foi fazer uma farofa para que passássemos o dia. Eu estava certo de que não iria precisar: a tensão seria alimento sobejo.
Enquanto eu lavava o rosto na pia da sala de jantar, o mano arrumava o picuá, sentado numa cadeira a alguns metros de mim. De repente, um estampido. Senti uma pequena queimação, tipo areia arremessada com força na barriga. Ao mesmo tempo que esfregava a mão, virei-me para o mano. Ele estava lívido e imóvel: parecia uma estátua de cera. Gaguejou:
– Pegou em você?
Olhei então para o lugar que ardia e vi salpicos de sangue: eram pequenas e rasas perfurações ocasionadas por estilhaços vindos da parede. A bala havia passado rente a mim e se chocado contra os azulejos do entorno da pia.
Apesar de o médico ter garantido que estava vazia, havia uma bala na agulha.
O LUGAR E A HORA ERRADOS
Teria explicação aceitável?
Minha esposa vinha, há anos, adiando a retirada de um mioma do útero, mesmo com médicos dizendo que deveria extraí-lo o quanto antes, pois estava aumentando de tamanho a cada ano. Por medo… ou por obra “do destino”, ela continuava carregando aquele incômodo. Reclamava sempre de cansaço, principalmente quando voltava de suas caminhadas na Avenida Beira-Rio: lugar que se tornara apropriado para tal. Nessas caminhadas, entre os tantos, o Dr. Milton Lopes sempre estava lá. Devido nossa longa amizade, minha esposa sempre caminhava com ele e conversavam sobre os assuntos prediletos dele: política e políticos.
No dia oito de março de 1999, minha esposa resolveu extrair o mioma e, para tanto, começou a fazer os exames solicitados pelo cirurgião Dr. Lima. A operação foi marcada para o dia 10 e assim foi feito. No dia 13, ao invés de estar na Beira-Rio, caminhando ao lado do Dr. Milton Lopes, encontrava-se no quarto 107 do Hospital Santa Maria, convalescendo-se.
Num flash, a televisão em sua frente anunciava extraordinariamente: “O MÉDICO E POLÍTICO MILTON LOPES DO NASCIMENTO ACABA DE SER ATROPELADO NA AVENIDA BEIRA-RIO PELO JOVEM ROBERVAL LISBOA VIANA QUE, EMBRIAGADO, TRAFEGAVA EM ALTA VELOCIDADE”.
Imaginei, então, se os milagres cessaram mesmo no mundo ou se eles acontecem e somos insensíveis para percebê-los! Se não estivesse no hospital, certamente minha esposa estaria lá caminhando, ao lado do Dr. Milton.
SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA
Em minha vida de sofreguidão em busca de acreditar sem ver, acabei encontrando Santo Antônio. Como nossos filhos pequeninos que nos pedem picolé ou chocolate, aprendi a pedir a ele favores mirabolantes.
Certa vez, um filhote de macuco, com três semanas de vida, desapareceu. Procurei, juntamente com meus familiares e funcionários, o dia todo e, ao sair para a caminhada das 17 horas, pedi a Santo Antônio que o fizesse aparecer. Às 18 horas retornei. Começava a escurecer. Toda minha família ajudava-me a procurá-lo, porque a noite se avizinhava. Na sala, minha filha Drielly e seu namorado Bogdan, assistiam a um filme. De repente, mesmo com as penas de uma das asas cortadas, o macuquinho baixou voando no meio deles.
Em junho de 2011, a ararajuba Mariá, assustou-se no ombro de minha filha Kizy e, com esforço – porque também tinha as penas de uma das asas cortadas – voou e ultrapassou o muro. Abrimos o portão eletrônico e acorremos incontinenti para a rua. Misteriosamente, ela desapareceu. Passamos dois dias e duas noites procurando, anunciando na TV e nas rádios locais. Nada.
Novamente apelei para Santo Antônio, pedindo ajuda à amiga Kássya, que foi quem mo apresentou, falando maravilhas sobre ele. Minha fé e confiança ainda não são suficientes para convencer ninguém, nem o benevolente santo.
Na manhã seguinte, às 4h30min, minha filha acordou com o chamado da ararajuba Mariá. Desceu a escada de sua casa, contígua à minha, acordou-me e juntos corremos para o quintal. A ave, que antes vivia nos ombros de minha filha, encontrava-se no açaizeiro mais alto, bem na ponta de uma das folhas. O apego das duas era muito grande.
Minha filha a chamou pelo nome e ela desceu, pousando no chão, ao lado dela. Depois subiu em seu dedo e foi para o ombro: estava suja, sedenta e faminta.
Liguei imediatamente para a Kássya que dispensou qualquer agradecimento, dizendo que todos os dias recebemos favores dos céus, mas não acreditamos.
AS TANTAS CHANCES
Hoje sei que a vida que tenho não me pertence. Algo me mantém vivo por razões desconhecidas. Tantas vezes já estive a metros ou a segundos da morte e, mesmo assim, continuo aqui. Mas não será para sempre. Em breve estarei, como os meteoros, mergulhando no infinito, deixando apenas um rastro de lembranças para uns, de frustração para outros e, quem sabe, até de saudades para aqueles que viram em mim, um ser humano normal.
Se alguém magoar você, esforce-se para deixar por menos. Nem sempre as pessoas dizem as coisas para nos ofender. É muito comum, quase natural, a gente brincar no momento errado. Pessoa com problema pessoal, ou mesmo adoentada, não aceita brincadeiras. Nesse estado ela se torna uma ferida exposta: qualquer coisa que tocar ali, doerá, mesmo que a pancada tenha sido pequena. Já imaginou se todas as vezes que você dissesse coisas que aos outros desagradassem, eles não o perdoassem?
O VALOR DE BRINCAR
Ajuda sem gastar nada
Saio do meu escritório e encontro, na cozinha, conversando com a moça que trabalha conosco, uma senhora. Viera buscar 50 centavos da verdura que vendera no dia anterior e que, por falta de troco, não recebera. No meu incurável jeito/moleque, fui-lhe dando um bom-dia e começando uma animada prosa. Contei-lhe a brincadeira do Falabela, no Sai de Baixo, quando ele pilheriava dizendo que não gostava de apanhar dinheiro com pobre, porque no outro dia ele estava lá: “Cadê meu real? Cadê meu real? …” Em seguida, a do Tom Cavalcanti, a respeito do homem religioso ilhado pelas cheias. Segundo Tom, ele se negou a pegar uma canoa, depois um helicóptero e por fim foi levado pelas águas e morreu. No céu foi falar com Jesus de sua frustração por ter confiado nele em vão. Ora, disse Jesus: mandei canoa e até helicóptero e você não aceitou. Como ainda pode reclamar de mim?
Aos poucos ela foi mudando o ar de preocupada e também começando a contar histórias. Mais um pouco, ela disse: “Tenho de ir, moço! Foi Deus que o mandou aqui, porque eu estava triste e preocupada e agora me sinto alegre e feliz”.
– Ora!, respondi, eu apenas brinquei e contei histórias. Se fiz alguma coisa de bom, acho que foi sem querer e, com certeza, não me custou nada.
Eu também fiquei mais contente quando ela me disse que voltava levando bem mais que 50 centavos.
BRINQUE E RIA
O quanto puder.
Eu cheguei alegre, contando histórias, rindo como se fosse o homem mais feliz do mundo, mas você estava triste e apenas me perguntou que “diabo” eu tinha visto. Senti que a diferença de estado de espírito havia ferido o coração de minha irmã. Ela não entendia como podia haver alegria no meio das tantas tristezas que estava vivendo.
Quando saí de lá, senti que ela estava mais alegre, e eu… um pouco mais triste.
O COMPUTADOR
É só seguir as regras
Durante 56 anos vivi preocupado em ter fé. Achava sempre que sem ela seria impossível aproximar-me de Deus. Um dia, porém, ao ligar o computador e clicar num ícone, percebi que determinado aplicativo se abria. Assim, todos os dias, quando eu queria abrir aquele programa, eu ligava o computador e clicava em cima daquele ícone. Percebi que mesmo sem poder explicar, as coisas funcionavam.
Foi então que pude mudar de ideia, na certeza de que posso chegar a Deus mesmo com pouca fé, bastando apenas seguir as leis. Há coisas que não entendemos como funcionam, mas funcionam se seguirmos as regras.
PARA NÃO VOLTAR DEPOIS
Siga o caminho certo desde já
Espiritualmente, o caminho certo é sempre o mais tortuoso e mais difícil de ser percorrido. Mas é o único que pode nos dar a graça da felicidade eterna. Aprendi que somente as coisas conseguidas com trabalho e dificuldades têm grande valor.
Caminhei muito por estradas largas e planas que, agora percebo, levaram-me a lugar nenhum. Hoje, mais velho e cansado, convenço-me de que devo voltar e pegar o outro caminho, desbravando matos, subindo morros, escalando montanhas, enfim, diminuindo a distância que criei entre mim e Deus.
OS GRANDES IMPACTOS
E a fragilidade a seguir
O caminhão trafegava com carga acima de sua capacidade. O motorista, um tanto irresponsável, desenvolvia uma velocidade incompatível com o estado da estrada. Um pouco à frente, um grande buraco, um baque surdo, parte da carga fora.
O motorista parou, recolheu os objetos caídos, examinou e, para sua própria surpresa, nada visível havia acontecido ao veículo. Terminou a viagem, descarregou o carro e o pôs na garagem. À noite, ainda comentou com os amigos o que havia acontecido, dizendo que seu caminhão era o “melhor do mundo”.
No outro dia, porém, ao voltar para carregar, num buraco inexpressivo em que nem se diminuía a velocidade, o semieixo partiu, deixando-o na estrada. Surpreso, o motorista não conseguia entender como, na tarde anterior, aquele caminhão, estando pesado e caindo forte num imenso buraco, havia resistido e, agora, quebrava numa estrada praticamente plana, estando vazio.
Não sabia ele que mesmo uma máquina pesada sofre avarias ao ser submetida a um grande impacto. Fragilizada, mais adiante poderá não resistir até mesmo a pequenos baques.
Não imagine que somos diferentes!
DEUS, OS HOMENS E AS AMEBAS
As distâncias.
Quantas vezes perdi horas de sono imaginando como seria possível Deus saber tudo de nós e de todas as coisas. Depois fui crescendo e da roça fui aos colégios. Acabei aprendendo alguma coisa e, mais tarde, com o avanço tecnológico, adquiri um computador. Tenho nele milhares de arquivos e basta um cliquezinho neles e já fico sabendo o que contêm.
Então imaginei um ser vivo rudimentar qualquer, digamos, uma ameba. Fiz de conta que ela soubesse muita coisa de seu mundo infinitesimal. Imaginei, também, a que distância ela estaria de nós, seres humanos, que mandamos foguetes à Lua e fabricamos tantos aparelhos sofisticados.
Foi então que descobri que a ameba jamais irá entender como o homem consegue ir à Lua e voltar. Aí, desisti de querer entender o Criador, pois reconheci que a distância entre nossa inteligência e a Dele é infinitamente maior do que a das amebas em relação a nós.
NOSSOS ADVOGADOS DE AMANHÃ
Lixão de Imperatriz
Em volta do carro, dezenas de olhos esmaecidos, semblantes famélicos; no ar, milhares de moscas procuravam a origem do mau-cheiro insuportável que advinha da sujeira espalhada ao redor dos barracos.
Era difícil a qualquer homem entender a razão de tanta miséria num mundo de, também, tanta beleza, fartura e riqueza.
O padre que havia sido convidado para celebrar a missa, também chegou. Embora sua responsabilidade cristã não demonstrasse qualquer constrangimento, não seria pretensão imaginar que ele não visse a hora daquilo terminar. Então, aproximei-me e lhe falei ao ouvido:
– Com certeza, padre, amanhã essa situação estará invertida. Que eles sejam convincentes diante do Supremo Juiz na hora de nos defender.
RODÍZIO DA VIDA
Tudo passa
Acabo de receber um telefonema. Não podia ser mais triste: doença incurável e acidente grave.
A esposa de meu primo que reside em Wanderlândia – TO, diabética, escorrega, cai e fratura a bacia. Houve gangrena no pós-operatório e se encontra em coma profundo. Era ela quem cuidava de meu primo acamado, desenganado, com câncer no reto.
Meu primo e sua esposa, hoje já se acercam dos 70 anos, mas lembro deles fortes e saudáveis, amigos e solidários em todos os momentos. Retrocedo no tempo e me vejo ontem, também, correndo pelos campos como se a vida nunca fosse terminar!
UM TOURO VENCIDO
A ilusão das riquezas
Conheci-o forte como um touro sadio. Não era gordo: apenas um homem saudável, puro músculo. Era semelhante ao cerne de um ipê: resistente, quase indestrutível. É, quase indestrutível, porque até as mais grossas vigas de aço um dia também se sentirão enfraquecidas, corroídas pela ferrugem dos séculos.
Ele, quando era forte, quando se imaginava eterno, resolveu deixar o sossego de sua terra e enfrentar a Amazônia. Queria terras, fazendas, indústrias…. Os sonhos eram muitos, infelizmente, muitos e banais.
No primeiro ano, a serra-circular levou-lhe os dois principais dedos da mão esquerda. Mas, sobraram três e ele nem seu deu conta que ali, naquele exato momento, começava a morrer. Sua prole era grande e seus negócios iam se desenvolvendo de acordo com seus planos.
Uma palmeira morta, ao ser esbarrada pelo trator, caiu em cima de um de seus filhos, fraturando-lhe a espinha. Foram anos de tratamento e de sofrimento. E o homem forte foi vendendo o que havia ajuntado: bois, fazendas, serraria, caminhões, tratores…. Por fim, os remédios, os hospitais, os médicos, as viagens, o corre-corre para o restabelecimento do filho, levaram-lhe o resto que sobrara. A miséria chegou implacável. E ele a viveu por duas longas décadas, quando descobriu que estava com um câncer no reto. Operação, quimioterapia…, sofrimento indizível.
Numa de suas viagens para a quimioterapia, o ônibus desceu pela perambeira. Ele sofreu – além de um traumatismo craniano – a perfuração de um dos pulmões. Seu corpo ficou em carne viva.
Entre a vida e a morte, longe de sua terra, ficou relegado à compaixão dos vizinhos e de poucos parentes. Sua mulher, velhinha, companheira de tantas coisas boas, agora partilhava também as agruras da vida.
Numa triste manhã ela escorregou, caiu, fraturou a bacia. Foi pela primeira vez na vida a um Hospital. Descobriu que era diabética. A perna gangrenou, foi amputada, mas de nada adiantou. Vinte dias depois, estava morta.
Um mês depois, o telefone tocou em minha casa. Era a filha desse meu parente. Dizia que seu pai queria ver-me antes de partir.
Apanhei o carro e rodei 500 km. Às 11h40min cheguei ao hospital. Lá vi meu primo, antes forte como um touro, agora, um esqueleto cheio de fios e mangueiras, ofegante, buscando um pouquinho de ar dentro dos milhões de metros cúbicos da atmosfera. Estava consciente. Falou meu nome, fez menção de rir. Balbuciou algumas palavras enquanto um filete de lágrima escorria pelas faces fundas de seu rosto.
Tomei-lhe a mão sem alguns dedos. Ele apertou, apertou quanto pode, mas toda aquela força que revirava toros de madeira, que erguia pneus, que alçava o machado… agora era tênue carícia de mulher amada. Não tinha mais forças.
Em volta, filhos e noras, netos e amigos, todos cabisbaixos, assistiam à lição da vida, mas, como sempre, poucos, muito poucos iriam aprendê-la. Alguns até logo sairiam dali, porque havia um negócio a fechar, um telefonema a dar, um dinheiro a receber.
Algumas horas depois eu já estava retornando. Foram 500 quilômetros revisando a lição, lembrando e relembrando a estupidez que cometemos quando debandamos para outros mundos, separando-nos das famílias na ilusão de acumular riquezas, como se com elas pudéssemos comprar um pouquinho de oxigênio para adiar alguns minutos de nossa vida.
Em casa, eu ainda não havia tomado banho quando o telefone tocou: meu primo havia partido, sem nada: nem uma muda de roupa digna levaria para o novo destino.
MESMO NO DESERTO
É só insistir
Hoje, depois de cinco anos enviando cartões a muitos de meus familiares e amigos pela passagem natalícia ou por motivo de outras datas importantes, recebi, também, no dia de meu aniversário, um lindo cartão.
Minha esposa sempre comentava ao me ver preparando os cartões do mês que, possivelmente, muitos nem os abriam.
Hoje, porém, triunfantemente pude ter a certeza de que, mesmo no deserto, há a possibilidade de uma semente nascer.
ADORO O MEU DEUS
Vou à Igreja todos os domingos possíveis. Vou adorar a Deus e agradecê-Lo pela vida que mantenho há 71 anos. É um bom bocado de tempo que já tive para reconhecer que a ganância, as malcriações, o orgulho e o egoísmo não valem a pena. Lá no templo, sem uma fé que justifique, eu adoro meu Deus!
Contudo, não sei quem Ele é, de onde veio, como apareceu, por que se preocupa com a gente…. Não sei o que vai acontecer comigo quando eu deixar este mundo. Não sei de nada, não explico nada, não acredito cegamente em nada. Mas, adoro meu Deus.
Evito muitas coisas de que Ele não gosta, mortifico-me às vezes… Mesmo evitando, ainda acumulo erros para muitos castigos. Mas não sei se serei castigado. Pode não haver inferno, pode ser que, ao cerrar os olhos, tudo se acabe mesmo, como acontece com uma planta espinhosa, com um passarinho ou com uma linda flor. Mas eu insisto: todos os domingos estou lá na minha igreja, olhos fixos no além, procurando meu Deus, adorando-O como posso, implorando um pouquinho de fé, agradecendo como me ensinaram.
E quando volto, vejo nos noticiários a luta que se trava pela sobrevivência e pelo poder. E se deslumbro uma fresta entre as nuvens, investigo o infinito, não ao alcance de minha fraca visão, mas sim da prodigiosa imaginação. Vou além das galáxias, chego ao aceiro do Universo, vejo a escuridão do nada: nem uma pegada viva de meu Deus, apesar das tantas evidências de que uma Inteligência Suprema está por trás de tudo o que existe. Então recuo como cão medroso, olhos para o chão, corpo encolhido e…. E adoro meu Deus.
DOANDO A PRÓPRIA VIDA
Confissão de um médico
Há muitos anos, quando eu trabalhava como voluntário em um hospital, conheci uma menininha chamada Beatriz. Ela sofria de uma terrível e rara doença. A única chance de recuperação parecia ser uma transfusão de sangue de seu irmão mais velho de apenas sete anos de idade que, milagrosamente, havia sobrevivido à mesma doença. O médico explicou toda a situação para o menino e perguntou, então, se ele aceitava doar o sangue dele para salvar a irmã.
Ele hesitou um pouco, mas depois de respirar profundamente, disse:
– Tá certo, eu topo, já que é para salvar minha irmã.
À medida que a transfusão foi progredindo, as bochechas da irmã voltavam a ter cor. Então ele, muito pálido, olhou para o médico e perguntou com a vozinha trêmula:
– Doutor, eu vou começar a morrer logo?
Por ser tão pequeno e novo, o menino tinha interpretado mal as minhas palavras. Ele pensou que teria de doar todo o sangue dele para salvar a irmã!
NÃO DEIXE PARA AMANHÃ
História verdadeira
Os dias correm, as semanas se formam e, antes mesmo que eu perceba, mais um ano termina. Já não vejo meu irmão Jayr, porque a vida é uma corrida rápida e terrível. Ele sabe que gosto dele como nos tempos que estudávamos juntos. Nós éramos mais jovens e mais que irmãos: confidentes irrestritos. Agora somos homens ocupados, cansados de jogar esse jogo bobo da vida, tentando fazer sucesso.
“Amanhã” – eu sempre penso – vou ligar para o mano. Preciso mostrar que ainda o tenho em grande amizade e que lhe sou grato, muito grato por tudo quanto já fez por mim. Mas o amanhã vem, vai embora, e o telefonema fica para depois, mais uma vez. Afinal, ele não irá morrer tão cedo e terei tempo de sobra para matar a saudade. Mas, em plena madrugada, ouço uma voz soluçante ao telefone:
Tio, papai acaba de falecer”.
– Puxa!, exatamente amanhã eu pretendia telefonar pra ele!
MEU PROFESSOR WALFREDO
Os humildes também merecem respeito
Walfredo era o nome de nosso professor de Música. Estava sempre concentrado. Não ria, era obeso e, hoje percebo, vivia deprimido. Nunca o ouvira falar de religião, mas poucos religiosos talvez tenham tido um comportamento mais cristão. Cumpria seus deveres e exigia os nossos, porque sabia o valor de uma boa formação.
Certa feita, numa prova mensal, uma das questões pedia que escrevêssemos o primeiro nome do Sr. Guto, o disciplinário mais justo que encontrei em todo meu tempo de estudante. Nem o próprio sobrinho do Sr. Guto soube responder a questão.
Ao devolver a prova ele justificou, dizendo que, possivelmente, diante de Deus as pessoas humildes têm mais valor do que aqueles que desempenham altos cargos políticos. O Sr. Guto trabalha aqui há 15 anos. Todos os dias, antes de todos nós, ele está aqui, abrindo e fechando portas e janelas, orientando…. Não me parece justo que não saibam que ele se chama Ernesto. Por isso vocês perderam três pontos no mês. No entanto, ganharam a certeza de que todo ser humano com quem convivem tem o direito de ser conhecido e respeitado, não importando seu papel na sociedade.
O FURÚNCULO
Certa feita eu me encontrava apreensivo porque havia enviado uma matéria para o jornal com algumas falhas gramaticais e de digitação. Buscar a perfeição literária sempre fora uma pesada cruz para mim: o mais comum dos mortais. Enquanto tentava corrigir o problema por meio de telefonemas para o jornal, recebi a visita do meu grande amigo Vito Milesi. Ao notar minha ansiedade pelas distrações gramaticais, ele me disse, convincentemente:
– Jamais seremos perfeitos. Afinal, somos apenas humanos. Contudo, a vaidade é inata. Todos nós gostamos de estar com o corpo limpo, bem penteados, barba rapada, perfumados…, mas, dificilmente nos livramos de uma espinha inflamada ou de um furúnculo no nariz. É desagradável e nos torna feios, mas qualquer pessoa compreensiva que nos veja nesse tempo saberá que ter espinhas inflamadas ou furúnculos, é comum… e passa.
Desse dia em diante eu mudei bastante. Tento sempre o melhor, mas não fico apreensivo se minha parte humana se sobressair negativamente.
SEMENTES QUE NASCEM
Adalho, meu irmão mais velho, hoje falecido, era um homem que merecia estar relacionado no Guines Book por ser aquele que menos comentou a vida dos outros e que, jamais fomentou confusão. Sempre que algum de seus filhos, ou mesmo nós, seus irmãos, chegávamos cheios de razão para obter-lhe o aval do revide, ele repetia a história que transformara sua ótica de relacionamento com o próximo. Era usando seu velho refrão “Certa ocasião”, que ele sempre começava:
“Certa ocasião, dois irmãos vizinhos de terra se desentenderam a ponto de ficar inimigos. As casas em que moravam eram separadas por um riacho de cinco metros de largura e haviam sido construídas uma perto da outra, exatamente porque eram irmãos. Agora, porém, “como inimigos” a presença de um constrangia o outro.
Por isso, o irmão mais velho chamou um carpinteiro, contou-lhe a história e empreitou uma cerca de tábuas pela margem do riacho. A ideia era cobrir a visão da casa do irmão mais novo, assim como inibir a presença dele.
Acertados os detalhes, o irmão mais velho viajou dizendo que voltaria depois de 15 dias. Queria evitar novos dissabores com o caçula, que poderia criar problemas com a construção da cerca de tábuas.
Quando o irmão mais velho retornou de sua viagem, viu, no lugar da cerca, uma ponte que facilitava ainda mais a travessia. O carpinteiro ainda dava seus últimos retoques quando ele se aproximou nervoso e ofensivo.
Mas, mal começou a falar, viu o irmão mais novo saindo de casa com os braços abertos, correndo para ele com o sorriso mais afável do mundo. Embora muito confuso, ele recebeu o irmão que se apressou em pedir-lhe desculpas, chorando em seu ombro
Cheio de felicidade, o irmão mais velho logo tratou de demonstrar gratidão ao carpinteiro, oferecendo-lhe emprego em suas terras. Mas o carpinteiro respondeu:
– Não posso aceitar. Tenho ainda muitas outras pontes para construir por este mundo de Deus.
A MELHOR HORA PARA AJUDAR ALGUÉM
De uma hora para outra, aquele homem bom que transmitia segurança e sensatez, desandou. Nós, seus amigos, acorremos solidários: até reuniões fizemos com ele para lhe mostrar o perigo que estava passando. Falou um, falou outro: nada. Escolhemos, então, um de seus melhores amigos, pois entendíamos que a este ele iria ouvir. O amigo escolhido ficou pensativo, criando um momento quase constrangedor. Era como se o tivéssemos ofendido. Depois, usando sua sabedoria, ponderou:
– Eu aceito a incumbência, mas não tentarei demovê-lo agora.
– Mas, quanto mais demorar, será pior – observamos.
– Engano de vocês, companheiros. Nunca se deve tentar estancar uma represa nos primeiros momentos em que se rompe: a força da água certamente nos levaria no turbilhão. É preciso deixar que a avalancha que irrompeu no coração dele diminua. Percebendo que a água está baixando e que os peixes poderão morrer, ele mesmo entenderá que, se não a obstruir, o prejuízo será total.
Quando esse momento chegar, irei falar com ele.
O AMIGÃO CONFIÁVEL
Pedindo sempre, um dia a gente consegue
Passei anos e anos fazendo projeto para mudar de vida. Todos eles eram estabelecidos pela manhã e desrespeitados à tarde. Milhares desses projetos eu fiz, milhares de vezes eu não os cumpri.
Numa noite, porém, tomei mais uma vez a bendita decisão de mudar de vida e, devo confessar, mudei bastante. Isso para mim foi muito importante, porque acredito que não somos responsáveis por certas inclinações que nascem com a gente, mas sim por não as melhorar com o passar do tempo. O assassino que, pela índole ou genética deveria matar 20 pessoas, mas com esforço se controlou em algumas ocasiões e só matou oito, já terá algum mérito.
Por isso não se assuste se encontrar no céu muitos “diabos” e souber que lá não estão muitos de nossos “santos”.
Foi pensando assim que, como uma criança, chamei e fui atendido por Ele. Sinto agora que não há prazer maior do que viver com a consciência tranquila. Sei que vou cair e levantar muitas vezes ainda, mas me alegra confiar na misericórdia de Deus.
Ter Jesus como amigo é obter a salvação ainda neste mundo.
MEU AMIGO DE INFÂNCIA
Não perca o endereço do verdadeiro amigo
Nasci ao lado de um grande amigo. Vivemos muitos anos juntos, caçando de estilingue, pescando jundiás, surrupiando mexericas dos vizinhos…
Cresci e fui cuidar de meus planos, distraindo-me da amizade mais importante de minha vida. Sem Ele, machuquei-me por caminhos difíceis. Tentei reencontrá-Lo.
Não me adiantaram as informações de que estava ali, debaixo de uma alta torre, descansando no silêncio de um sacrário…. Rodei o mundo procurando seu endereço.
De tanto caminhar caí extenuado na orla do caminho. Eu estava longe: havia caminhado demais em direção contrária. Vi-me num deserto, sem água, sem luz… sem saída. Mas, no auge do quase desespero, MEU AMIGO DE INFÂNCIA encontrou-me.
Ele continuava bacana, amigo, forte…. Ao perguntar-Lhe por aonde andava, respondeu-me:
– Eu nunca mudei de endereço.
PARA A FRENTE, COMPANHEIRO!
A persistência.
Em minha frente, dois rapazes: um era forte, de cor branca, cheio de grandes sonhos, revoltado com a ideia de trabalhar por um salário mínimo; o outro era um negro humilde que aceitou, cheio de agradecimentos, o emprego de contínuo numa das tantas repartições da antiga SUCAN, percebendo metade de um salário mínimo.
Dez anos depois, o negro recebia cinco salários mínimos. Construiu uma casa modesta, casou-se. Tem três filhos saudáveis que estudam em bons colégios. O branco, continua aguardando um bom emprego. O tempo já lhe corroeu a beleza e as esperanças. Vive nos bares, jogando canastra, tomando pinga, discutindo futebol.
A vida é uma constante luta e aquele que não esmorece, que não desanima, que caminha mesmo apoiado num cajado ou que se arrasta quando não consegue ficar de pé, certamente chegará na frente do entibiado, daquele que parou.
Não importam os fracassos: eles fazem parte de nós. Nunca existiu e nem existirá um ser humano que passe pela vida sendo sempre venturoso ou sempre infeliz. O intercalar de emoções é a certeza de nossa humanidade.
Qualquer distância, ainda que quilométrica, pode ser medida em centímetros…. Portanto, vamos avançar de qualquer jeito. Se hoje parar, amanhã ficará assustado com a grande distância que o estará separando daquele que, mesmo devagar, a trancos e barrancos, prosseguiu.
ÚLTIMA INSTÂNCIA
Há muitos anos meu grito ecoava pelo Universo, retinindo de estrela em estrela em busca de segurança. E quando minha voz já se transformava em tênue gemido, quando o auge da angústia parecia varrer a última esperança, no meio do vendaval eu O vi caminhando em minha direção. E então estendi a mão… e o Senhor a tomou, salvando-me da tempestade que avassalava minha alma.
Eu estava desesperado, angustiado e com muito medo de continuar caminhando sem saber onde chegar. Definhava de fome de amor e de justiça, as vistas anuviavam, o suor da terrível iminência da derrota banhava-me o rosto cálido. E quando meus olhos já escurentavam, os ventos se organizaram em sons que o amor de Deus traduziu:
Não chore, não se desespere, ainda que sinta o mundo desabando sobre você. Lembre-se que tem a mim como última instância. Antes de armar o cão, grite com força e fé o meu santo nome. Peça-me socorro como quando era indefeso e chorava pelo leite de sua mãe.
E aí sim, se eu não lhe estender a mão, você poderá apertar o gatilho.
É PRECISO ARRECADAR
para desfazer os malefícios da ganância.
Assumo: sou um homem angustiado! Não consigo entender muitas coisas que me parecem estranhas aos seres que raciocinam. Às vezes fico pensando: por que os países não proíbem a fabricação de tudo quanto destrói a paz, a esperança, a saúde e a segurança das pessoas, entre outros, (armas, cigarros, bebidas)? Se essas coisas só prejudicam a humanidade, por que as pessoas que se dizem inteligentes e recebem o privilégio de promulgar leis e representar o povo de seu país, permitem a fabricação? Qual é o benefício que as armas, o fumo e as bebidas traz à humanidade? Impostos? Divisas? Empregos? …. Haverá algum benefício que equivalha a tantos sofrimentos, tantas lágrimas, tanta infelicidade e tantas mortes causadas pelas armas, pelos cigarros e belas bebidas? Os países, por meio de seus governantes, só combatem certos tipos de droga porque os impostos são sonegados.
O NECESSÁRIO
é a condução mais segura para alcançar o destino.
Pode ser que me acusem de malandro, de fraco, de comodista ou coisas piores. Mas não é a coragem que me falta para entrar no mundo dos negócios, tentar ganhar muito dinheiro e possuir muitos bens: é o medo das consequências da riqueza.
Sim, tenho medo do desnecessário, porque ele sempre é tirado do necessário de alguém. Há quem tem muitas casas e há muitos sem elas; há os que têm muita terra, e há milhões sem um pedacinho para construir uma casa; há no lixo sobras e sobras de alimentos, enquanto muitos morrem literalmente de fome.
O maior dos males vem sempre através da ganância e do egoísmo. Quando esses dois cânceres entram no coração de uma pessoa, ela se transforma, torna-se um pouco mais dura, dura, ou muito dura com os mais necessitados.
Tenho medo de querer aquilo de que não preciso. Tenho medo porque vou perder a paz. Tenho medo porque Deus ficará meio zangado comigo se eu não dividir o excesso com os meus irmãos.
QUALQUER LUGAR
O último será ótimo.
Meu encontro com Deus não é a presunção de que estou salvo, mas apenas um novo tempo de esperanças de não mais perdê-Lo de vista. Minha alma já passou fome e sede, perdida, procurando e gritando por socorro. Sinto-me como Sísifo, condenado – não a empurrar uma pesada pedra para o cimo da montanha – mas a seguir Jesus pelos difíceis caminhos da fé.
Sei que o importante não será eu chegar com Ele no pico da montanha, mas sim, terminar meus dias tentando. Ainda que no fim eu esteja no sopé, cheio de escoriações, estarei feliz em fechar os olhos se apenas estiver tentando pela última vez. O objetivo não é ser perfeito, nem o primeiro, mas conquistar um lugarzinho lá no fundo do Reino de Deus. Cada ser humano possui um recipiente reservado à felicidade. Não há dois do mesmo tamanho, mas uma vez cheios, todos se tornam iguais e completos.
CONFORME-SE, É ASSIM MESMO!
Se você matou, roubou… se fez coisa pior, não se desespere, porque um grande santo pode ter pecado mais que você. Com certeza não somos tão responsáveis pelo que somos, senão, pelo que deixamos de melhorar. Você poderia ter feito coisas ainda mais horrendas, enquanto o santo talvez pudesse ter praticado ainda mais o bem. Jamais um mendigo participará de um leilão que envolve milhões de dólares, simplesmente porque ele não tem esse dinheiro. Mas quem o tem, participa, se o desejar.
Quantas noites perdi por ser o que sou! Hoje entendo que nasci assim e que toda minha luta deverá convergir para aumentar um pouco as dracmas que me deram ao nascer. Quem recebeu muito não deve esbanjar: deve aplicar bem para devolver a Deus o capital que lhe foi confiado, acrescido dos juros de sua aplicação; quem recebeu pouco deve esforçar-se para aumentar o pouco que lhe confiaram.
PEDIDO DE DEMISSÃO
Adaptada de autor desconhecido
Venho por meio desta apresentar oficialmente meu pedido de demissão da categoria dos adultos. Resolvi que quero voltar a ter as responsabilidades e as ideias de uma criança de oito anos, no máximo.
Quero acreditar que o mundo é justo e que todas as pessoas são honestas e boas. Quero acreditar que tudo é possível.
Quero que as complexidades da vida passem despercebidas por mim; quero ficar encantado com as pequenas maravilhas deste mundo; quero de volta uma vida simples e sem complicações.
Estou cansado de dias cheios de computadores que falham, montanhas de papelada, notícias deprimentes, contas a pagar, fofocas, doenças, e necessidade de atribuir um valor monetário a tudo o que existe.
Não quero mais ter que inventar jeitos para fazer o dinheiro dar até o dia do próximo pagamento.
Não quero mais ser obrigado a dizer adeus às pessoas queridas.
Quero ter certeza de que Deus está no céu, e de que, por isso, tudo está direitinho neste mundo que Ele dirige.
Quero ir a uma lanchonete simples e achar que é melhor que um restaurante cinco estrelas. Quero admirar um barquinho de papel que flutua numa poça deixada pela chuva.
Quero jogar pedrinhas na água e ter tempo para olhar as ondas que elas formam.
Quero achar que as moedas de chocolate são melhores do que as de verdade, porque podemos comê-las e ficar com a cara toda lambuzada.
Quero ficar feliz quando amadurecer o primeiro caju ou a primeira manga, quando a jabuticabeira ficar pretinha de frutas.
Quero poder passar as tardes de verão à sombra de uma árvore, imaginando castelos e dividindo-os com meus amigos.
Quero voltar a achar que chicletes e picolés são as melhores coisas da vida.
Quero que as maiores competições em que eu tenha de entrar sejam uma pelada na areia, uma queimada…
Eu quero voltar ao tempo em que tudo o que eu sabia era o nome das cores mais importantes, a tabuada, as cantigas de roda: “batatinha quando nasce” e “ô lelê, ô lalá”, e isso não me incomodava nadinha, porque eu não tinha a menor ideia de quantas coisas eu ainda não sabia…
Voltar ao tempo em que se é feliz simplesmente porque se vive na bendita ignorância da existência de coisas que podem nos preocupar e aborrecer.
Eu quero acreditar no poder dos sorrisos, dos abraços, dos agrados, das palavras gentis, da verdade, da paz, dos sonhos, da imaginação, dos castelos de areia…
E quero mais: quero estar convencido de que tudo isso vale muito mais do que o dinheiro que tenho.
Por isso, tomem aqui as chaves do carro, a lista do supermercado, as receitas do médico, o talão de cheques, os cartões de crédito, o contracheque, os crachás de identificação, o pacotão de contas a pagar, a declaração de renda, a declaração de bens, as senhas do meu computador e dos cartões de crédito, as contas no banco… e resolvam as coisas do jeito que quiserem.
A partir de hoje, isso é com vocês, porque eu estou me demitindo da vida de empresário estúpido e iludido.
A simplicidade do universo de uma criança faz muita falta em nossos corações. A ambição e o egoísmo acabam sempre se tornando maiores. Por isso, de vez em quando demita-se! Afaste-se dos sentimentos mesquinhos e pequenos do mundo dos adultos.
ACREDITAR E AGIR
Autor desconhecido
Um viajante ia caminhando em solo distante pelas margens de um grande lago de águas cristalinas. Seu destino era a outra margem. Suspirou profundamente enquanto tentava fixar o olhar no horizonte.
A voz de um homem coberto de idade, um barqueiro, quebrou o silêncio momentâneo, oferecendo-se para transportá-lo. O pequeno barco envelhecido no qual a travessia seria realizada, era provido de dois remos de cedro.
Logo o viajante percebeu o que pareciam ser letras em cada remo. Ao colocar os pés empoeirados dentro do barco, pôde observar que se tratava de duas palavras. Num deles estava entalhada a palavra ACREDITAR e no outro AGIR.
Não podendo conter a curiosidade, o viajante perguntou as razões daqueles nomes originais dados aos remos. O barqueiro respondeu pegando o remo chamado ACREDITAR e remando com toda força. O barco, então, começou a dar voltas sem sair do lugar em que estava. Em seguida, pegou o remo AGIR e remou com todo vigor. Novamente o barco girou em sentido oposto, sem ir adiante. Finalmente, o velho barqueiro, segurando os dois remos, remou com eles simultaneamente, e o barco, impulsionado por ambos os lados, navegou através das águas do lago chegando à outra margem. Então o barqueiro disse ao viajante:
– Esse porto se chama autoconfiança. É preciso ACREDITAR e também AGIR para que possamos alcançá-lo!
A LENDA DAS TRÊS ÁRVORES
Leve adaptação do texto de Paulo César Araújo da Silva
Havia no alto de uma montanha, três árvores que sonhavam o que seriam depois de grandes.
A primeira, olhando as estrelas disse:
– Eu quero ser o baú mais precioso do mundo, cheio de tesouros.
A segunda, olhando o riacho suspirou:
– Eu quero ser um navio grande para transportar reis e rainhas.
A terceira olhou para o vale e disse:
– Quero ficar aqui no alto da montanha e crescer tanto que as pessoas, ao olharem para mim, levantem os olhos e pensem em Deus.
Muitos anos se passaram e, certo dia, três lenhadores cortaram as árvores. Todas três estavam ansiosas em ser transformadas naquilo que sonhavam. Mas, os lenhadores não entendiam de sonhos… Que pena!
A primeira árvore acabou sendo transformada em cocho de animais, coberto de feno. A segunda árvore, virou um simples barco de pesca, carregando pessoas e peixes todos os dias. A terceira foi cortada em grossas vigas e colocadas num depósito.
As três ficaram desiludidas e tristes.
Mas, numa bela noite cheia de luz e estrelas, uma jovem mulher colocou seu bebê recém-nascido naquele cocho de animais. E, de repente, a primeira árvore percebeu que continha o maior tesouro do mundo.
A segunda árvore que fora transformada num barco, num dia de grande tempestade, transportava um HOMEM que, ao acordar, disse:
– Acalmem-se, tenham fé e, num relance, ela entendeu que estava transportando o Rei do Céu e da Terra!
Tempo mais tarde, numa sexta-feira, as vigas da terceira foram transformadas numa cruz e um homem foi pregado nela. Logo, sentiu-se horrível e cruel.
Mas, no domingo seguinte, o mundo vibrou de alegria. E a terceira árvore percebeu que nela havia sido pregado um homem para a salvação da humanidade e que as pessoas sempre se lembrariam de Deus e de seu Filho ao olhar para ela.
As árvores haviam tido sonhos e desejos… mas sua realização foi mil vezes maior do que haviam imaginado. Portando, nunca deixe de acreditar em seus sonhos, mesmo naqueles aparentemente impossíveis de se realizarem.
FRATERNIDADE X EGOÍSMO
O antropólogo Davi Attenborough, numa de suas inúmeras observações testemunhou em um recife de coral, a dependência de um camarão, praticamente cego, a um pequeno peixe de olhar aguçado, chamado Gobião. Não se sabe como nem quando, mas hoje, o camarão não viveria sem o Gobião, de quem depende para avisá-lo dos predadores. Por sua vez, o Gobião, indolente e preguiçoso, também estaria extinto, sem um lugar seguro para dormir a maior parte de seus dias.
Embora totalmente diferentes, nascem e morrem juntos, cada um cumprindo seu papel nos mistérios da vida. O camarão passa a vida com a antena tocando o Gobião e fica totalmente perdido se este se afasta um pouco para recolher alimento. O camarão retribui, cavando, retocando e decorando tocas a gosto do Gobião.
Mas esta não é uma história de quase mistério, singular. Centenas de outras existem, como a dos tentilhões das Ilhas Galápagos; das formigas que cuidam de lagartas; das anêmonas que protegem bernardos-eremitas; dos peixes labros e das cracas que podem mudar de sexo conforme a conveniência; da fidelidade conjugal eterna dos albatrozes; dos caranguejos paguros com suas actínias inseparáveis; dos morcegos hematófagos que regurgitam o sangue conseguido na boca dos que não conseguiram, para manterem a colônia viva; das inúmeras formigas e abelhas, na mais incrível e inexplicável organização de sobrevivência e preservação da espécie.
Os homens – seres inteligentes feitos à imagem de Deus – são os únicos seres vivos que destroem o semelhante por ganância e egoísmo: está longe de admitir que é mais sábio se organizar.
Todas essas coisas impressionantes me fizeram compreender a estupidez de querer entender as coisas do Céu, quando ainda não consigo entender as da Terra.
É SUA VEZ, ENTRE
Quantos problemas ele criava para si e para aqueles que com ele conviviam! Mas era um homem de boa índole, apenas um fraco em suas decisões. Todas as vezes que magoava alguém ou praticava atos indesejáveis, perdia noites de sono, na qual prometia a si mesmo que mudaria sua maneira de tratar as pessoas.
Mas era sempre uma questão de tempo. Na primeira oportunidade que surgia, estava ele lá, enroscando-se no lençol, triste e angustiado por haver ferido um familiar ou um amigo. Um dia, porém, enquanto aguardava a vez para ser atendido num consultório dentário, ele viu sobre a mesinha de centro, um livreto de capa escura: era o Novo Testamento. Apenas para cobrir o tempo, ele o apanhou e abriu ao acaso:
“E nas orações não faleis muitas palavras, como os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por causa das muitas palavras. Não os imiteis, pois, o Pai já sabe de vossas necessidades antes mesmo de pedirdes. Portanto, é assim que haveis de rezar:
Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o Teu nome; venha o Teu Reino, seja feita a tua vontade assim na terra, como no céu. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje, perdoa-nos nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam, e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal.
Porque, se perdoardes as ofensas dos outros, vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas, se não perdoardes aos outros, vosso Pai também não vos perdoará as ofensas.”
Quando a secretária chegou para avisar que era chegada a vez dele, imaginou já ter ouvido aquele chamado: “É a sua vez”.
Ali, naquele momento, sem muitas palavras, ele, de fato, começou a mudar.
O MENININHO
Interferindo no texto de Helen Bukley
Era uma vez um menininho que foi posto a estudar. Na sala de aula, a professora disse:
– Hoje iremos desenhar.
– Que bom, respondeu ele que gostava de fazer desenhos. Ele podia fazê-los de todos os tipos: leões, tigres, galinhas, vacas, trens, barcos…. Apanhou sua caixa de lápis de cor e começou a desenhar, mas a professora interferiu:
– Espere, ainda não é hora de começar. Iremos desenhar flores.
– Que bom – pensou o menino. Ele gostava de desenhar flores com lápis rosa, laranja e azul. Mas a professora disse:
– Espere! Vou mostrar como fazer. E desenhou uma flor vermelha com caule verde.
– Faça assim – disse a professora! Pode começar.
Então ele obedeceu. Virou-se e desenhou uma flor igual à da professora: vermelha com caule verde.
Dias depois, em aula ao ar livre, a professora disse:
– Hoje iremos fazer qualquer coisa com barro.
– Que bom!, pensou o menininho. Vou fazer elefantes, camundongos, carros, caminhões…
Começou logo a amassar sua bolota, mas a professora interrompeu:
– Espere! Não é hora de começar. E ele esperou até que todos estivessem prontos.
– Agora – disse a professora – nós iremos fazer um prato.
– Que bom! – pensou o menininho – sei fazer pratos de todas as formas e tamanhos.
A professora disse:
– Espere! Vou mostrar como se faz.
E ela mostrou a todos como fazer seu próprio prato. Ele achava que podia fazer um prato diferente e mais bonito, mas tinha de obedecer. Sem discutir, amassou o seu barro e fez um prato igual ao que a professora pedira.
E assim, muito cedo ele aprendeu a esperar, a obedecer e a fazer as coisas exatamente como a professora mandava.
Tempos depois sua família se mudou para outra cidade. Lá ele frequentou outra escola e teve outra professora.
E essa professora disse:
– Hoje nós vamos desenhar.
Mas a professora não disse mais nada. Ficou apenas andando pela sala. Logo ela notou que o menininho a olhava sem tomar qualquer iniciativa. Então perguntou:
– Você não quer desenhar?
– Sim, disse o menininho, mas o que devo desenhar?
– Eu não sei, até que você faça.
– Como eu posso fazer?
– Da maneira que você gostar.
– E de que cor? – Perguntou o menininho.
Ora, se todos fizerem o mesmo desenho e usarem as mesmas cores, como poderei avaliar cada um?
– Eu não sei – disse o menininho – e começou a desenhar uma flor vermelha de caule verde.
A MIGALHA E A SOLIDARIEDADE
Ele encostou o carrinho, retirou do bolso um daqueles protetores para filmes de fotografia, espalhou em cima da mesa as moedinhas que estavam dentro e começou a contar. Puxou as de 0,10 para um lado, as de 0,25 para o outro, as de 0,50 mais para perto de si… Das de 0,05 não fez muito caso, empurrando-as mais para longe. Contou e recontou, chegando à conclusão de que havia sido enganado, mais uma vez, em 0,20.
Puxa!, – observou desolado – assim não vou conseguir comprar o gás nem esta semana.
Do outro lado da mesa o patrão apenas observava a prestação de contas, porque o imenso problema do funcionário, para ele era insignificante. Desabafando, o homem, enquanto juntava as moedas, ia contando pequenas lembranças de sua vida:
– Com 17 anos eu já não suportava viver sem mulher. Nossa família toda é assim! Foi quando pai, mãe e uma filha de 17 anos alugaram uma casa pertinho da nossa, lá na Vila João Castelo. Em poucos dias comecei a namorar a moça. Um dia, ela foi à minha casa e meu pai, que era pastor evangélico, tão logo ela saiu, chamou-me para o quarto:
– Filho, você está namorando essa menina?
– Estou, pai. Vou me casar com ela.
– Filho, não percebe que ela tem problemas mentais?
– Tem, mas isso vai passar. A mãe dela disse que logo que ela casar, vai melhorar.
– Não é bem assim, filho!
Mas de nada adiantou. Casei-me seis meses depois. Hoje, temos dois filhos. Um é este aí (com ele, um menino de quatro anos, miudinho, esperto e conversador) e o outro está em casa. Minha mulher nunca melhorou: não cuida do menor, não lava minha roupa, nem quer mais cozinhar na lenha. Acho que vou pedir conselho a Deus e escolher outra mulher.
O patrão continuava calado, ouvindo o desabafo e caminhando pelos escombros daquela terrível miséria. Mostrava-se chateado porque o homenzinho havia deixado metade do pão que lhe havia sido oferecido para um café, quando afirmara estar com muita fome.
Em seguida, respirando fundo, devagarzinho, o pequeno homem ergueu-se, chamou o filho e pediu um saco plástico. Ainda sem perguntar nada, o patrão foi buscar um saquinho. Ele o tomou, recolheu o pedaço de pão que havia deixado, colocou-o dentro e disse:
– Vou levar para minha mulher.
SEMPRE, SEMPRE, ININTERRUPTAMENTE
Ao entrar em casa deparo-me com uma lesma bem no centro da sala. Seus movimentos eram quase imperceptíveis. Apesar de eu ter ficado ali olhando para ela por alguns minutos, não me pareceu ter progredido um centímetro. Mesmo assim ela havia vindo lá do quintal, desfazendo uma distância de aproximadamente 10 metros.
Senti, então, que mesmo devagar, se não pararmos nunca, poderemos alcançar grandes distâncias… Que se pedirmos sempre a Deus as graças de que necessitamos, poderemos conseguir grandes prodígios.
TODOS PODEM CONSTRUIR GRANDES OBRAS
Grandes obras! Milhares de pessoas envolvidas, bilhões gastos, consórcio de países…, enfim, uma grande, uma imensa obra.
Em contrapartida, ali no fundo do meu quintal, com o passar dos dias fui notando um montículo de terra que se elevava com a forma de um cone, tipo miniatura de uma chaminé de grandes fábricas. Se eu pisasse ou mesmo alguém, sem olhar para baixo, arrastasse o pé, tudo iria “água abaixo”. Aquilo, para um ser humano – uma criança que fosse – não era nada. Todos os dias eu passava por ali e notava que “a chaminé” estava crescendo, ainda que não visse quem a estivesse construindo.
Depois de meses, já com mais de 20 cm de altura, vi uma aranha no topo supervisionando a obra. Tudo era fantástico, maravilhoso – para ela – faraônico. E então percebi que, se a persistência de uma aranha podia construir um verdadeiro monumento, porque eu, com a ajuda de Deus, não podia fazer alguma coisa pela humanidade?
DEUS DE PORTA EM PORTA
É só aceitar
Uma vez, um homem muito poderoso resolveu dividir sua infinita fortuna com as pessoas que lhe abrissem a porta. Metido em andrajos, o homem começou a andar pelo mundo, passando pelas mansões das grandes metrópoles e também pelos casebres dos guetos das cercanias. Nos bairros ricos, os muros eram altos, protegidos por guardas e cães já adestrados a não permitirem que maltrapilhos perturbassem a paz de seu senhor.
Então, o homem partiu para as cercanias entrando por ruelas escuras e batendo nas frágeis portas de cada tapera que encontrava. Bateu na porta de centenas de barracos, mas somente pela manhã, o mais miserável dos seres, sem nada perguntar, atendeu o forasteiro que pedia para entrar. Então, o homem mais rico e poderoso do mundo entrou… e ficou morando com ele. Daquele dia em diante, o homem, até então miserável, nunca mais passou “fome nem necessidade”: ele aceitou Deus em seu coração.
“PEGADAS NA AREIA
Uma noite eu tive um sonho…
Sonhei que estava andando na praia com o Senhor e no Céu passavam cenas de minha vida. Em quase todas as cenas percebi que eram deixados dois pares de pegadas na areia: um era o meu, e o outro era o do Senhor.
Quando a última cena da minha vida passou diante de nós, olhei para trás, para as pegadas na areia e notei que, muitas vezes, no caminho da vida havia apenas um par de pegadas.
Notei, também, que isso aconteceu nos momentos mais difíceis e angustiosos do meu viver. Isso entristeceu-me deveras, e perguntei então ao Senhor:
– Senhor, Tu me dissestes que, uma vez que eu resolvi Te seguir, Tu andarias sempre comigo por todo o caminho, mas notei que durante as maiores atribulações do meu viver, havia apenas um par de pegadas. Não compreendo por que, nas horas que eu mais necessitava de Ti, Tu me deixastes.
O Senhor me respondeu:
– Meu precioso filho, Eu te amo e jamais te deixaria nas horas de tuas provações e do teu sofrimento maior. Quanto vistes na areia apenas uma par de pegadas, foi exatamente aí que Eu te carreguei nos colo.”
Autor desconhecido.
DIGA SEMPRE O QUE SENTE
Ninguém sabe o que calado quer
“Era uma vez um garoto que nasceu com uma doença incurável. Já chegara aos 17 anos e podia morrer a qualquer momento. Nunca saíra de casa até então. Um dia, porém, ele fugiu e foi caminhar pela quadra que envolvia a residência dos pais. Olhando as vitrinas, despertou-lhe a atenção uma loja de CDs, onde uma loirinha atendia no balcão. Foi amor à primeira vista! Vendo o rapaz tão admirado, a menina aproximou-se sorrindo e perguntou-lhe o que desejava. Diante daquele sorriso ainda mais encantador e sem saber o que dizer ao certo, o garoto optou por levar o primeiro CD que viu à sua frente. Apanhou-o e foi saindo devagarzinho, enquanto seu coração pedia para que jamais saísse dali.
No outro dia e durante muitos outros que se sucederam, ele voltou à loja e sempre levava um CD qualquer. Numa das vezes, quando a menina se distraiu, ele deixou um bilhete contendo seu nome e o número do telefone. No outro dia, ela ligou. A mãe atendeu desconsolada e sem perguntar pelo nome de quem telefonava, desabafou:
– Então não sabe, meu filho faleceu esta manhã!
Dias depois a mãe foi ao quarto do filho e diante de tantos CDs embrulhados, resolveu abri-los. Em todos havia o mesmo bilhete:
“Eu adoraria sair com você!”
“POR MAIS ESTRANHO QUE PAREÇA, DEUS SABE O QUE FAZ
Numa guerra deceparam a orelha do rei. Um soldado, tentando confortá-lo disse:
– Não fique triste: Deus sabe o que faz.
Irado, o rei colocou o soldado na cadeia e lá o deixou durante sete anos. Nesse ínterim o rei caiu nas mãos de canibais e foi o único a não ser devorado, exatamente porque lhe faltava uma das orelhas. Voltando, o rei imediatamente mandou soltar o soldado e teve suas mil desculpas interrompidas pelo servo que disse:
– Está vendo, meu Rei, se eu não estivesse na cadeia, estaria com o senhor e, certamente, eles me devorariam.”
“FAÇA TUDO BEM FEITO, COM AMOR.
O velho pegara a mania de passar o tempo alisando pedaços de madeira com seu canivete. Se fosse uma vara, normalmente ele tirava a casca, aparava um dos lados e, em geral, fazia uma ponta do outro. Produzia sua arte com todo tempo do mundo. Depois de pronta, ele examinava, constatava se estava tudo certinho e, por fim, jogava fora.
O primeiro que passasse por ali apanharia o objeto encontrado, mesmo que não soubesse o que fazer com ele. Levava apenas porque achava bonito. E se depois de um tempo também esse o lançasse fora, outro o tomaria. Com o tempo, não havia uma casa pela redondeza que não tivesse uma lembrança do velho.
Se usar seu tempo fazendo as coisas com amor, pode estar certo que nunca ficarão jogadas ao léu. Sempre passará alguém e as tomará para si.”
CUIDADO COM O QUE ESCREVE!
José acordou com o coração mesclado de tristezas, esperanças, planos de mudança de comportamento…. Você sabe como são essas vicissitudes tão comuns em nossas vidas!
Então, ele escreveu uma página diferente de seu estilo e do que pensava: algo referente à esperança de viver em paz, sem ódio, sem vingança, sem egoísmo…
Alguns dias depois, já refeito daquela “crise existencial”, ele viu o papel que escrevera e quase não acreditou na autoria. Um tanto envergonhado, amassou o papel e atirou-o na lixeira. Horas depois a empregada veio, apanhou a pequena lixeira e levou para o receptor de lixo da calçada.
O papel sumiu e foi esquecido por mais de 40 anos. Nesse tempo, já apoiado num cajado, passando por uma das ruas de sua cidade, ele viu um agrupamento de pessoas, tendo no meio, um homem que pregava. Era um ex-bandido que encontrara no lixo a sua carta… e se convertera.
O homem seguiu seu caminho, pensando:
“Meu Deus!, e as tantas desesperanças que escrevi, que mal poderão ter causado aos outros?”
TRINTA E QUATRO ANOS DEPOIS
Uma coisa errada encobre milhares de coisas boas que fazemos na vida… e nunca é esquecida.
Na Copa do Mundo de 1966 destacou-se o jogador Eusébio, da Seleção Portuguesa, artilheiro com nove gols. Mas, apesar da boa fase, dos tantos gols e das dezenas de jogadas incríveis, um dia ele perdeu um pênalti decisivo, fazendo com que sua equipe fosse eliminada. Trinta e quatro anos depois, na arquibancada, ao lado de dois amigos, ele assistia a uma partida do campeonato português, quando aconteceu uma falta fora da área. Um dos amigos, virando-se para ele comentou:
– Ah!, se fosse no seu tempo, heim Eusébio?
Ao que o outro amigo observou incontinenti:
– É, não sendo pênalti!…
“O JATAÍ E O JAMBEIRO
Por quê?
E todos só acorriam ao jambeiro, apesar de o jataí ser mais frondoso, oferecer mais sombra e estar com seus frutos amontoados pelo chão. Por isso, o jataí, um dia, ao ver o próprio lavrador colhendo jambos vermelhos, interpelou-o:
– Meu senhor, por que não colhe também meus frutos?
E o lavrador respondeu-lhe com uma nesga de tristeza:
– Porque seus frutos são azedos.
– E que culpa tenho eu? – Retrucou o jataí.
– Não sei – respondeu-lhe o lavrador. Não saberia dizer se nasceu assim ou se assim se transformou. O certo é que do sabor de seus frutos, ninguém gosta.
Meditando:
Quantas pessoas são como o jataí! São duras, não perdoam nada, vivem menosprezando os outros, dificilmente aceitam aqueles que são melhores que elas…. Passam a vida falando de si, de seus feitos, derrubando aqueles que lhes fazem concorrência. Por isso, por mais que tentem atrair a simpatia e o amor dos semelhantes, não conseguem. Acham-se injustiçados porque os outros não reconhecem seu valor…”
A FAMÍLIA
Nosso maior bem
“Eu estava correndo quando um estranho trombou em mim.
Nós fomos muito educados um com o outro: aquele estranho e eu. Então nos despedimos e cada um foi para seu lado.
Naquele mesmo dia eu estava fazendo o jantar e meu filho parou a meu lado tão em silêncio que eu nem percebi. Quando me virei, tomei o maior susto e dei-lhe uma bronca:
– Saia do meu caminho, filho!
Mais tarde, já no quarto, lembrei do meu remédio que estava na cozinha e fui buscá-lo. Em cima da pia, vi flores cor-de-rosa, amarelas e azuis. Formavam um buquê mal-arranjado, coisa de criança.
Naquele momento eu me senti muito pequena. Fui à cama dele e ajoelhei-me a seu lado:
– Acorde, filho, acorde. Estas são as flores que você pegou para mim?
Ele sorriu:
– Eu achei elas debaixo da árvore. Catei porque achei elas bonitas como a senhora! Tinha certeza que ia gostar, principalmente das azuis.
– Sinto muito. Não devia ter gritado com você daquela maneira…
– Ah, mamãe, não tem problema não, eu te gosto mesmo assim!
– Filho, eu também te amo. Adorei as flores, especialmente as azuis.
Você já parou para pensar que, se morrermos amanhã, a empresa para qual trabalhamos poderá facilmente substituí-lo em questão de dias? Mas as pessoas que nos amam, a família que deixamos para trás, não. Eles sentirão essa perda para o resto de suas vidas. E nós, raramente paramos para pensar nisto.
Às vezes colocamos nossos esforços em coisas muito menos importantes do que nossa família.
Lembre sempre: a sua família é seu maior bem.”
O CARRO E A BÍBLIA
O remorso
“Era uma vez um rapaz que ia muito mal na escola. Suas notas e o comportamento eram uma decepção para seus pais e mestres que, como bons cristãos, sonhavam em vê-lo formado e bem-sucedido. Um belo dia, o bom pai lhe propôs um acordo:
– Se você, meu filho, mudar o comportamento, se se dedicar aos estudos e enfim conseguir ser aprovado no vestibular para a Faculdade de Medicina, promoverei uma grande festa e, nela, darei a você um carro de presente.
Por causa do carro o rapaz mudou da água para o vinho. Passou a estudar como nunca e a ter um comportamento exemplar. O pai estava feliz, mas tinha uma preocupação: sabia que a mudança do rapaz não era fruto de uma conversão sincera, mas apenas do interesse em obter o automóvel. Isso era mau!
O rapaz seguia os estudos e aguardava o resultado de seus esforços. Assim o grande dia chegou! Fora aprovado para o curso de Medicina. Como havia prometido, o pai convidou a família e os amigos para uma festa de comemoração. O rapaz tinha por certo que na festa o pai lhe daria o automóvel.
Pedindo a palavra, o pai elogiou o resultado obtido pelo filho e lhe passou às mãos uma caixa de presente. Crendo que ali estavam as chaves do carro, o rapaz abriu o pacote, emocionado. Para sua surpresa era uma Bíblia. Ficou visivelmente decepcionado e nada disse. A partir daquele dia o silêncio e a distância separaram pai e filho. O jovem sentia-se traído e agora lutava para ser independente. Deixou a casa dos pais e foi morar no Campus da Universidade.
Raramente mandava notícias à família. O tempo passou, ele se formou, conseguiu um emprego em um bom hospital e esqueceu-se completamente de quem o criara. Todas as tentativas do pai para reatar os laços foram em vão. Até que um dia, o velho, muito triste com a situação, adoeceu e não resistiu. No enterro, a mãe entregou ao filho indiferente, a Bíblia que tinha sido o último presente do pai e que havia sido deixada para trás.
De volta à sua casa, o rapaz que nunca perdoara o pai, ao colocar o livro numa estante, notou que havia um envelope dentro dele. Ao abri-lo, encontrou uma carta e um cheque. A carta dizia:
Meu querido filho, sei o quanto você deseja ter um carro. Eu prometi e aqui está o cheque para que você escolha aquele que mais o agradar. No entanto, fiz questão de lhe dar um presente ainda melhor: a Bíblia Sagrada. Nela aprenderás amar a Deus e a fazer o bem, não pelo prazer da recompensa, mas pela gratidão e pelo dever de consciência.
Corroído de remorso, o filho caiu em profundo pranto.
Como é triste a vida dos que não sabem perdoar! Isso leva a erros terríveis e a um fim ainda pior. Antes que seja tarde, perdoe aquele a quem você pensa ter-lhe feito mal. Talvez, se olhar com cuidado, vai ver que há também um cheque ´escondido´ em todas as adversidades da vida.”
SOLIDARIEDADE
Um homem pediu ao Senhor para que lhe falasse sobre o céu e o inferno. O Senhor disse-lhe:
– Venha, vou mostrar-lhe o inferno.
Eles entraram em uma sala em que um grupo de pessoas se sentava ao redor de um caldeirão que continha um guisado. Todas as pessoas estavam famintas e desesperadas. Elas seguravam colheres que chegavam até a panela, mas que tinham cabos muitos mais longos do que os seus próprios braços, e por isso não podiam ser usadas para levar o guisado às suas bocas. O sofrimento era terrível.
– Agora, vamos, vou mostrar-lhe o céu – disse o Senhor depois de algum tempo.
Eles entraram em outra sala idêntica à primeira: o caldeirão, o grupo de pessoas, as mesmas colheres de cabos longos. Mas todas as pessoas estavam felizes e bem nutridas.
– Não compreendo – disse o homem. Por que elas estão felizes aqui se não estavam na outra sala em que tudo é igual?
O Senhor sorriu e explicou:
– Ah, isso é simples: aqui elas aprenderam a alimentar umas às outras.
COMO DIRIA MÁRIO BONATTI
“A vida terá a cor que você pintar”
“Dois homens gravemente doentes estavam no mesmo quarto de um grande hospital. O cômodo era pequeno e só havia uma janela que dava para o mundo. Um dos dois tinha, como parte do tratamento, permissão para sentar-se na cama, na parte da tarde, por uma hora. Sua cama ficava perto da janela.
O outro passava o tempo todo deitado, de barriga para cima. Seu companheiro de quarto, nas horas em que se sentava, passava o tempo descrevendo o que via lá fora:
Um parque muito bonito, com um lago. Há patos e cisnes no lago e crianças lhes atiram pão e colocam na água barcos de brinquedo. Jovens namorados caminham de mãos dadas entre árvores, flores, gramados e jogos de bola. Ao fundo, por detrás da fileira de árvores, há o belo contorno dos prédios da cidade.
O homem deitado ficava com inveja, mas não tinha permissão para se levantar. Uma noite, enquanto olhava para o teto, o outro começou a passar mal e morreu. O corpo foi retirado no primeiro movimento da manhã.
Ficando só, o homem perguntou se podia ser colocado na cama perto da janela. Então o colocaram lá e fizeram de tudo para que se sentisse bastante confortável.
Assim que os enfermeiros saíram, o velho, com esforço, apoiou-se sobre um cotovelo, virou-se e olhou para fora da janela: viu apenas um muro.”
O MAIOR DOS ANJOS
Seja grato
“Uma criança pronta pra nascer perguntou a Deus:
– Estou ouvindo dizer que serei enviado à Terra, amanhã. Como vou viver lá, sendo assim tão pequenino e indefeso?
E Deus disse:
– Entre os meus anjos, escolhi o mais especial. Ele tomará conta de você.
– Mas estou despreparado. Aqui no céu nada faço a não ser sorrir e cantar. Serei feliz assim lá também?
– Meu anjo especial cuidará para que você continue sorrindo e cantando. Você se afeiçoará a ele e não sentirá saudade daqui.
– Como poderei entender a linguagem de lá? Certamente eles falam outra língua, totalmente diferente dessa que usamos aqui.
– Com paciência e carinho, seu anjo lhe ensinará.
– Mas, e se eu precisar falar com o Senhor, precisar de sua ajuda, como farei?
– Em qualquer situação seu anjo o defenderá, ainda que isso lhe possa custar a vida.
– Mas, com certeza eu serei triste, porque não o verei tão cedo!
– Seu anjo lhe contará histórias e falará de mim, seu coração estará sempre transbordando de saudade e esperança e jamais lhe faltará a certeza de minha amizade.
Nesse tempo havia muita paz no Céu, mas as vozes da Terra já podiam ser ouvidas. A criança, apressada, pediu suavemente:
– Oh, Deus!, se devo ir, diga-me apenas como devo chamar o anjo que me dará como guardião?
E Deus lhe disse:
– Você chamará seu anjo de… MÃE!”
A TÁBUA E OS PREGOS
A grande lição
Era uma vez uma menina de temperamento muito explosivo. O pai, preocupado, deu-lhe um saco cheio de pregos e uma placa de madeira, explicando: “Filha, toda vez que perder a paciência com alguém, bata um desses pregos na tábua.”
No primeiro dia a menina bateu 11 pregos. Já nos dias seguintes, aprendendo a controlar sua raiva, o número de pregos martelados por dia foram diminuindo gradativamente.
Ela descobriu que dava menos trabalho controlar sua raiva do que ter que ir todos os dias pregar diversos pregos na placa de madeira. Finalmente chegou o dia em que a menina não perdeu a paciência durante o dia inteiro.
Ela falou com o pai sobre seu sucesso e sobre como estava se sentindo melhor em não explodir com os outros. O pai sugeriu, então, que ela retirasse todos os pregos da tábua e que a trouxesse para ele. A menina obedeceu. O pai explicou:
– Você está de parabéns, minha filha, mas dê uma olhada nos buracos que os pregos deixaram na tábua. Ela nunca mais será como antes. Assim, filha querida, quando você diz coisas estando com raiva, suas palavras deixam marcas no coração de quem gosta de você, assim como os pregos deixaram nesta tábua. Você pode enfiar uma faca em alguém e depois retirá-la. Não importa quantas vezes você peça desculpas: a cicatriz continuará nele para sempre.
Uma agressão verbal é tão ruim, ou pior, do que uma agressão física.
VOCÊ NUNCA ESTÁ SOZINHO
Alguém sempre está vendo você
Um astrônomo ajustava as lentes do seu telescópio para observar o pôr do sol. Enquanto fazia isso percebeu no horizonte algumas árvores no alto de uma colina. Com grande surpresa ele viu dois jovens roubando maçãs do pomar. Enquanto um sacudia a árvore para as frutas caírem, o outro observava ao redor, verificando se alguém os estava vendo. Eles pensavam que ninguém podia vê-los, mas o astrônomo observou cada um dos seus movimentos.
Imagine o quanto pode ver Deus que está em todos os lugares ao mesmo tempo e que sabe todas as coisas, públicas e privadas, pois conhece até os nossos pensamentos e intenções.
Esta é uma informação que pode até gerar uma certa insegurança e inquietação: não tenho mais privacidade, você pode pensar. Mas você nunca esteve ausente da presença de Deus, nem enquanto era formado no ventre de sua mãe. Além do mais, se se tornar amigo de Deus, quem poderá oferecer a você maior segurança? Esteja certo: viver na graça de Deus proporciona mais alegria e felicidade do que todas as orgias do mundo. Na verdade, viver sem medo de doenças, de desastres, de assaltos, de guerras, dos imprevistos, da morte… é muito mais confortante do que atender as fraquezas humanas e viver ressabiado, assustado, tenso, angustiado e com medo de ser surpreendido por algo inesperado que não lhe dará tempo de arrumar as malas para a viagem sem retorno.
JOSÉ
José era quase um miserável conhecido que vivia nas ruas. Todos os dias ele entrava na mesma igreja, ficava uns dois minutos e saía. O padre, estranhando aquela atitude, foi um dia até ele e perguntou:
– Por que você entra na igreja, fica apenas alguns minutos e logo sai?
– José respondeu:
– Ah, padre! É que eu não sei fazer aquelas orações difíceis, então, chego aqui e digo: oi Jesus, aqui é o Zé!, e vou embora.
O padre criticou a atitude falando que não era assim que se orava. Passado algum tempo o sacerdote estranhou a ausência do Zé em vários dias consecutivos. Descobriu, investigando, que ele havia sido atropelado, sem risco de vida, mas necessitando de cuidados médicos. No hospital o Zé promoveu mudanças incríveis, pois conseguia levar a alegria e o amor às outras pessoas. Os médicos e enfermeiros se espantaram com a benéfica e repentina mudança, até que um dia alguém lhe perguntou:
– Zé, você está sempre sorrindo e sua alegria contagia os outros pacientes. Explique-me o que acontece com você?
– Ah!, eu fico assim por causa da visita que recebo todos os dias.
A enfermeira se espantou, pois a cadeira ao lado do leito do Zé sempre estava vazia. Por isso, perguntou:
– Mas, Zé, quem vem visitá-lo se sua cadeira está sempre vazia?
– Ah, é um grande amigo que fiz na vida. Ele, todos os dias vem, senta aí um pouquinho e diz: oi Zé, aqui é JESUS! Venho retribuir suas visitas.
COMO DEUS FAZ AS COISAS
Certo homem saiu em viagem de avião. Era um homem temente a Deus. Sabia que o Senhor o protegia. Durante a viagem, enquanto sobrevoava o mar, um dos motores falhou e o avião caiu no oceano. Quase todos morreram, menos ele que conseguiu agarrar-se a uma prancha. Ficou boiando à deriva durante dois dias e duas noites, até chegar a uma ilha desabitada. Na praia, cansado, porém vivo, agradeceu ao Senhor por tê-lo livrado, milagrosamente, da morte.
Na ilha, alimentando-se de peixes, ervas e coco, foi sobrevivendo e se recuperando. Quebrou algumas varas e com muito esforço construiu um abrigo tosco e, friccionando gravetos, conseguiu fogo. Era pouco, mas estava feliz pelo abrigo e, mais uma vez, agradeceu ao Senhor.
Um dia, enquanto assava um peixe, uma faísca ateou fogo em seu barraco destruindo tudo. Diante de tamanha desgraça, ele se sentou numa pedra e lamentou em prantos:
– Senhor! Como é que foi deixar acontecer isto comigo? O Senhor sabe que eu precisava muito desta casa e o Senhor deixou que ela queimasse todinha. O Senhor não teve compaixão de mim? Eu sempre faço minhas orações diárias e tento seguir seus ensinamentos. Nunca deixo….
E assim permaneceu o homem durante algumas horas, envolvido em sua revolta e dor. Passado algum tempo, ele dormiu na areia, só despertando quando alguém lhe tocou no ombro. Assustado ele se virou fitando o homem que o havia acordado:
– Que bom encontrá-lo… você está bem? Vamos rapaz, nós viemos buscá-lo.
– Mas, como é possível? Como souberam que eu estava aqui?
– Ora, amigo! Vimos os seus sinais de fumaça enquanto passávamos ao largo. O capitão ordenou que o navio parasse e nos mandou até aqui. Ali está o barco que o levará de volta à sua família.
A PERSISTÊNCIA
Margaridas
Num dia qualquer de novembro, à beira do caminho, vi centenas de margaridas brancas. Estavam lindas, floriam o campo a perder de vista. Freei o carro e colhi uma centena de sementes, plantando-as no quintal de minha casa, num canteiro feito só para elas. Pareceu-me que todas nasceram e, por mais que arrancasse os excedentes, sempre cresciam e se tornavam demais para o tamanho do canteiro. Enjoei, meti a enxada, arrancando-as por completo.
No meio do canteiro, plantei um cajueiro. A grama invadiu tudo, acercou-se do tronco e durante anos, sequer, relembrei as margaridas.
Por insistência de minha esposa, no mesmo lugar, em volta do cajueiro, refiz o canteiro e plantei cebolas e couve. Saíram bonitas e durante dois anos tivemo-las com sobra.
Hoje, ao limpar o pequeno canteiro (1,5 x 1,5), vi nele um renovo de margarida, coisa de três centímetro de altura. Olhei-o maravilhado, imaginando a luta daquela semente para salvar a espécie. Cerquei-a de carinho, protegi-a das outras plantas, porque era uma guerreira, “alguém” que merecia continuar dando flores brancas para alegrar a vida.
A FILHA DEFICIENTE
Ao entrar em casa com um presente para a esposa, o homem cheio de problemas deparou-se primeiro com sua filha paralítica. Como de costume, ele a beijou e perguntou a seguir:
– Onde está a mamãe?
– Lá em cima – respondeu ela.
– Bem – disse o pai – tenho um presente para ela.
– Oh! – exclamou a pequena – deixe eu entregar o presente para ela?
– Filha, como fará isso se não consegue andar?
Ela ponderou:
– Isso é verdade, papai. Mas você pode me dar o presente e me carregar no colo!
E foi naquele momento que o pai percebeu sua própria posição perante Deus: ultimamente, se Deus não o estivesse carregando, ele não conseguiria progredir na caminhada.
QUANDO SE É SINCERO
“As sete lágrimas
Num cantinho de um terreiro, sentado num banquinho, pitando o seu cachimbo, Preto-Velho chorava. De “seus olhos” molhados, estranhas lágrimas desciam-lhe pela face e eu as contei: foram sete.
Na incontida vontade de saber, aproximei-me e o interroguei:
– Fala, Preto-Velho, diz ao teu filho por que externas assim uma tão visível dor?
E ele suavemente respondeu:
– Estás vendo esta multidão que entra e sai? As lágrimas contadas estão distribuídas a cada bloco dessas pessoas.
A primeira eu dei aos indiferentes que aqui vêm em busca de distração, para saírem ironizando aquilo que suas mentes ofuscadas não podem conceber.
A segunda, aos eternos duvidosos que acreditam desacreditando, na expectativa de um milagre que os façam alcançar aquilo que seus próprios merecimentos negam.
A terceira rolou pelos maus, aqueles que somente procuram a UMBANDA em busca de vingança.
A quarta, aos frios e calculistas que sabem que existe uma força espiritual, mas não conhecem a palavra gratidão.
A quinta, àqueles que chegam suavemente, mas cuja oração diz: “Creio na UMBANDA, nos teus pretos-velhos, nos caboclos e no teu Zâmbi, mas somente se resolverem meu caso.”
A sexta, aos fúteis que vão de Centro em Centro, não acreditando em nada. Buscam aconchegos e conchavos, sempre com interesses escusos.
A sétima, filho, nota como foi grande e como deslizou pesada? Foi a última lágrima, aquela que vive nos olhos de todos os Orixás. Fiz doação dessa aos Médiuns vaidosos, que só aparecem no Centro em dia de festa. Faltam às doutrinas, esquecem que há tantos irmãos precisando de caridade e tantas criancinhas precisando de amparo material e espiritual. Assim, filho meu, foi para esses todos que vistes cair, uma a uma, as sete lágrimas do Preto-Velho!”
A LIÇÃO DO BAMBU CHINÊS
A semente deste incrível arbusto, ao ser plantada, durante uns cinco anos mostra apenas um lento desabrochar de um diminuto broto a partir do bulbo.
Durante esse tempo todo o crescimento é subterrâneo, invisível a olho nu, mas uma maciça e fibrosa estrutura de raiz está sendo construída. Então, no final do quinto ano, o bambu chinês começa a crescer até atingir a altura de 25 metros.
Sobre essa particularidade, Covey escreveu:
“Muitas coisas na vida pessoal e profissional são iguais ao bambu chinês. Você trabalha, investe tempo, esforço, faz tudo o que pode para nutrir seu crescimento e, às vezes, não vê nada por semanas, meses ou anos. Mas se tiver paciência para continuar trabalhando, persistindo e nutrindo, o seu quinto ano também chegará”.
UMA HISTÓRIA PARA VOCÊ QUE SE IMAGINA ESQUECIDO
Há certas coisas que talvez seriam difíceis de ser explicadas até mesmo por Freud. Um pedacinho de ferro retirado num desbaste qualquer está em algum lugar, enferrujado, esquecido…. Subentende-se que nunca mais será notado, nem que atrairá a curiosidade de alguém. Mas, num dia qualquer (e sempre os há em toda história), uma criança que quebrou seu brinquedo de Natal ou de aniversário, manipulou, perto do pedacinho de ferro esquecido, a parte que continha o ímã.
E ele, que jamais imaginava ser visto ou atraído, de repente se vê arrancado de sua desesperança.
TUDO O QUE FIZER DE BOM OU DE MAU, UM DIA TORNARÁ A VOCÊ
Naquela noite, um rapaz pobre que vendia mercadorias de porta em porta para pagar seus estudos percebeu que, apesar da fome, só lhe restava uma simples moeda de cinquenta centavos. Decidiu que pediria comida na próxima casa. Porém, seus nervos o traíram quando uma encantadora mulher lhe abriu a porta. Desconcertado, ao invés de comida, pediu um copo d’água. Ela notou que o jovem estava faminto e ofereceu-lhe um grande copo de leite. Ele bebeu devagar e depois perguntou:
– Quanto lhe devo
– Não me deves nada – respondeu ela.
Quando o rapaz saiu daquela casa, sentiu-se mais forte fisicamente, mais confiante em Deus e nos homens. Continuou a luta e acabou formando-se em medicina.
Anos depois, a mulher que lhe dera o leite ficou gravemente doente. Os médicos locais estavam confusos. Finalmente a enviaram à cidade grande e um especialista foi chamado para estudar sua rara enfermidade.
O especialista, quando escutou o nome do povoado do qual ela viera, sentiu algo estranho perpassar-lhe o corpo. E aquela sensação tinha fundamento: a paciente era a mulher que lhe dera um copo de leite quando estava faminto e pronto a abandonar os estudos.
Depois de uma demorada luta pela vida da enferma, ele ganhou a batalha.
Tendo recebido alta, a paciente pediu à administração do hospital que lhe enviasse a fatura total dos gastos. O médico conferiu as despesas e depois escreveu algo, mandando entregar à paciente. Ela estava com medo de abrir o envelope porque sabia que levaria o resto da sua vida para pagar o tratamento. Mas finalmente tomou coragem e, abrindo, leu:
Pago totalmente há muitos anos com um copo de leite.
SE FOSSEM SÓ ESSES!
– Que me diz? – Pergunta o juiz
– Nada a contestar – responde o homem acusado. Ele apenas numerou um pouco de minhas más qualidades. O mal que supôs em mim, sei que o tenho. Faz somente um ano que ele me conhece e não pode saber as faltas que cometi em todos os meus 70 anos. Ninguém, senão Deus, sabe de todas as minhas faltas. Nunca conheci alguém que me atribuísse tão poucos defeitos! Se for promotor contra mim no dia do Juízo, serei beneficiado.
Sejamos humildes quando o véu de nossa reputação for arrancado por alguém. Ninguém, por mais que aumente, consegue se aproximar da realidade de nossas fraquezas.
“LIÇÃO DE MORAL
A funcionária, para fazer média com o novo chefe, saiu-se com esta:
– Chefe, o senhor nem imagina o que me contaram a respeito do Silva. Disseram que ele…
Nem chegou a terminar a frase, o chefe, apartou:
– Espere um pouco. O que vai me contar passou pelo crivo das três peneiras?
– Peneiras? Que peneiras, chefe?
– A primeira é a da VERDADE. Você tem certeza de que o que lhe contaram é verdadeiro?
– Não. Não tenho. Como posso saber? O que sei foi o que me contaram. Mas eu acho que…
E, novamente, a funcionária é interrompida pelo chefe:
– Então sua história já vazou a primeira peneira. Vamos então para a segunda peneira que é a da BONDADE. O que você vai me contar, gostaria que os outros também dissessem a seu respeito?
– Claro que não! Deus me livre, chefe.
– Então, – continua o chefe – sua história vazou a segunda peneira.
– Vamos ver a terceira peneira, a da NECESSIDADE. Você acha mesmo necessário me contar esse fato ou mesmo passá-lo adiante?
– Não, chefe. Passando pelo crivo dessas peneiras, vejo que não sobrou nada do que eu iria contar ao senhor.
– Pois é!, já pensou como as pessoas seriam mais felizes se todos usassem essas peneiras? – Diz o chefe, continuando:
– Da próxima vez em que surgir um boato por aí, submeta-o ao crivo destas três peneiras: VERDADE – BONDADE – NECESSIDADE, antes de obedecer ao impulso de passá-lo adiante. Lembre que:
PESSOAS INTELIGENTES FALAM SOBRE IDÉIAS.
PESSOAS COMUNS FALAM SOBRE COISAS.
PESSOAS MEDÍOCRES FALAM SOBRE PESSOAS.”
AMIGOS
Tenho alguns, ainda que nem saibam. São aquelas pessoas que representam, para mim, uma canoa bem perto quando estou atravessando as águas revoltas da vida, sentindo que poderei não alcançar a margem. Sabendo-os por perto perco o medo, pois na hora H eles me estenderão o remo e me erguerão para dentro do casco. Não são muitos, mas estão sempre por perto, prontos para me estender as mãos. E às vezes penso: que será de mim se todos esses meus amigos se forem? Ficaria na mão de desconhecidos, pessoas que acham que, neste mundo, é “cada um pra si e Deus por todos”.
Como disse Vinícius de Moraes: “Se todos eles morrerem, eu desabo! A gente não faz amigos, reconhece-os.”
É!… Sem amigos você morre afogado tendo ao lado uma canoa.
E VAMOS QUE VAMOS
Joel era o tipo do cara que você gostaria de conhecer. Estava sempre de bom humor e sempre tinha algo de positivo a dizer. Se alguém lhe perguntasse como ele estava, ainda que estivesse vivendo um problema qualquer, a resposta seria logo:
– Se melhorar, estraga.
Ele era um gerente especial de restaurantes, pois seus garçons o seguiam para a casa em que ele fosse trabalhar. Era um motivador nato. Se um colaborador estivesse tendo um dia ruim, Joel estaria sempre dizendo como ver o lado positivo da situação. Fiquei tão curioso com seu estilo de vida, que um dia lhe perguntei:
– Você não pode ser uma pessoa tão positiva todo o tempo. Seu excesso de otimismo humilha a gente. Por que age assim?
Ele me respondeu:
– A cada manhã, ao acordar, digo para mim mesmo: Joel, você tem duas escolhas hoje. Pode ficar de bom humor ou de mau humor. Eu escolho ficar de bom humor. Cada vez que algo de ruim acontece, posso escolher bancar a vítima ou aprender alguma coisa com o ocorrido. Eu escolho aprender algo. Toda vez que alguém reclama, posso escolher aceitar a reclamação ou mostrar o lado positivo da situação.
– Certo, mas não é fácil – argumentei.
– É fácil sim, disse-me Joel. A vida é feita de escolhas. Examinada a fundo, toda situação oferece escolha.
Anos mais tarde soube que Joel cometera um erro deixando a porta de serviço aberta. Foi rendido e dominado por assaltantes. Enquanto tentava abrir o cofre, sua mão trêmula pelo nervosismo desfez a combinação do segredo. Os ladrões entraram em pânico e atiraram nele. Por sorte ele foi encontrado a tempo de ser socorrido e levado para um hospital. Depois de oito horas de cirurgia e semanas de tratamento intensivo, teve alta ainda com fragmentos de balas alojadas em seu corpo. Encontrei Joel mais ou menos por acaso. Quando lhe perguntei como estava, respondeu:
– Se melhorar estraga.
– Ah, não! – Retruquei.
Perguntei-lhe o que havia se passado em sua mente na ocasião do assalto.
– A primeira coisa em que pensei foi que deveria ter trancado a porta de trás – respondeu em tom de brincadeira. Então, deitado no chão, ensanguentado, lembrei que tinha duas escolhas: poderia viver ou morrer. Escolhi viver.
– Você não estava com medo de morrer? – Perguntei.
– Quando entrei na sala de emergência e vi a expressão dos médicos e das enfermeiras, fiquei apavorado. Em seus lábios eu lia: “esse aí já era”. Decidi então que tinha de fazer algo.
– E o que fez?
– Bem, havia uma enfermeira que fazia muitas perguntas. Perguntou-me se eu era alérgico a alguma coisa. Eu respondi que sim. Todos pararam para ouvir a minha resposta. Tomei fôlego e falei bem alto:
– Sou alérgico a balas!
Entre as risadas, disse-lhes: “Eu estou escolhendo viver, operem-me como um ser vivo, não como morto.”
Joel sobreviveu graças à persistência dos médicos, mas também graças à sua atitude. Aprendi, também, naquele momento, que todo dia temos a opção de viver plenamente.
Escolha confiante que dá certo.
O PACOTE DE BOLACHA
“Existem três coisas na vida que não se recuperam: a palavra, depois de proferida; a ocasião, depois de perdida e o tempo, depois de passado”.
“Era uma vez uma moça que estava à espera de seu voo na sala de embarque de um grande aeroporto. Resolveu comprar um livro para matar o tempo. Comprou, também, um pacote de bolachas. Sentou-se numa poltrona da sala VIP do aeroporto para que pudesse descansar e ler em paz. Ao seu lado sentou-se um homem.
Quando ela pegou a primeira bolacha, o homem também pegou uma. Ela não gostou, mas não disse nada. Apenas pensou: “Mas que cara de pau! Se eu estivesse mais disposta lhe daria um soco no olho para que nunca mais esquecesse”.
A cada bolacha que ela pegava, o homem também pegava uma. Aquilo a deixava cada vez mais irritada. Quando restava apenas uma bolacha, ela pensou: “O que será que este abusado vai fazer agora?”
Então o homem dividiu a última bolacha ao meio, deixando a outra metade para ela. Ah, aquilo era demais! Bufando de raiva ela pegou suas coisas e se dirigiu ao local de embarque.
Quando se sentou confortavelmente numa poltrona já no interior do avião, olhou dentro da bolsa e, para sua surpresa, o seu pacote de bolachas estava lá… ainda intacto, fechadinho.”
DIÁRIO DE UM BEBÊ
Abortar deliberadamente é assassinar uma criança indefesa e inocente. Se pecado fosse medido por tamanho, este talvez fosse o maior de todos.
Mamãe, tudo parece indicar que eu serei a criança mais feliz do mundo! Já passou um mês desde que fui concebida e o meu corpinho já começa a se formar. Não estou tão linda quanto você, mas me dê uma oportunidade! Estou muito contente, mas tem algo que me deixa preocupada. Ultimamente me dei conta de que há algo na sua cabeça que não me deixa dormir, mas tudo bem, isso vai passar, não se desespere.
Mamãe, já se passaram dois meses e meio! Estou muito feliz com minhas novas mãos. Sabe, já tenho até vontade de brincar.
Mamãezinha, diz pra mim o que foi? Por que você chora tanto todas as noites? Por que quando você e o papai se encontram, gritam tanto um com o outro? Vocês não me querem mais?
Três meses! Mamãe, percebo que a senhora está muito deprimida. Não entendo o que está acontecendo. Hoje pela manhã fomos ao médico e ele marcou uma visita para amanhã. Não entendo, porque me sinto muito bem. Por acaso é a senhora que está se sentindo mal?
Mamãe, já é dia, aonde vamos? O que está acontecendo, mamãe? Por que chora? Não se deite, ainda são 11 horas. Não tenho sono, quero continuar brincando com minhas mãozinhas.
Êi! O que esse tubinho está fazendo na minha casinha? É um brinquedo novo? Olha! Êi, por que estão sugando minha casa? Mamãe, espere, essa é a minha mãozinha! Moço, por que a arrancou? Não vê que me machuca? Mamãe, me defenda! Mamãe, me ajude! Não vê que ainda sou muito pequena para me defender sozinha? Mãe, a minha perninha, estão arrancando! Diga para eles pararem, juro a você que vou me comportar bem e que não vou mais chutar a senhora. Como é possível que alguém possa fazer isso comigo? Ele vai ver só quando eu for grande e forte…ai…mamãe, já não consigo mais… ai… mamãe, mamãe, me ajude! …
LIÇÃO DE VIDA
Cuidado com seus pensamentos: eles se transformam em palavras. Cuidado com suas palavras: elas se transformam em ações. Cuidado com suas ações: elas se transformam em hábitos. Cuidado com seus hábitos: eles moldam o seu caráter. Cuidado com seu caráter: ele decidirá o seu destino.
“O pequeno Zeca entra em casa, após a aula, batendo forte os seus pés no assoalho da casa. Seu pai que estava indo ao quintal para fazer alguns serviços na horta, ao ver aquilo chama o menino para uma conversa. Zeca, de oito anos de idade, acompanha-o desconfiado. Antes que seu pai dissesse alguma coisa, explica-se irritado:
– Pai, estou com muita raiva. O Juca não devia ter feito isso comigo. Desejo tudo de ruim para ele. Quero matar esse cara!
Seu pai, um homem simples, mas cheio de sabedoria, escuta calmamente. O filho continua a reclamar:
– O Juca me humilhou na frente dos meus amigos. Não aceito isso! Tomara que tudo de ruim aconteça a ele.
O pai continua calado enquanto caminha até um abrigo em que guardava um saco cheio de carvão. Tomou-o e o levou para o fundo do quintal. O menino o acompanhou. Viu o saco ser aberto e antes mesmo que pudesse fazer uma pergunta, o pai propôs-lhe:
– Filho, faz de conta que aquela camisa branquinha que está secando no varal é o seu amigo Juca e que cada pedaço de carvão são maus pensamentos seus, endereçados a ele. Quero que jogue todo o carvão do saco na camisa, até o último pedaço. Depois eu volto para ver como ficou.
O menino achou que seria divertido e pôs as mãos à obra. O varal com a camisa estava longe do menino e poucos pedaços acertavam o alvo. Uma hora depois o menino terminou a tarefa. Então, o pai que espiava de longe se aproximou do menino:
– Filho, como está se sentindo agora?
– Estou cansado, mas estou alegre porque acertei muitos pedaços de carvão no Juca. O pai olha para o menino e carinhosamente lhe fala:
– Venha comigo. Quero lhe mostrar uma coisa.
O filho acompanha o pai até ao quarto e é colocado na frente de um grande espelho. Que susto! Só se conseguia enxergar seus dentes e os olhinhos. O pai, então lhe diz ternamente:
– Filho, você viu que a camisa quase não se sujou, mas, olhe só para você. O mal que desejamos aos outros, os comentários maldosos, o uso constante de assuntos negativos… são como o que lhe aconteceu. Por mais que possa atrapalhar a vida de alguém avivando seus erros e suas fraquezas, a borra, os resíduos e a fuligem ficarão sempre em você. E se houver alguém por perto, você o sujará também.”
NÃO SE DESESPERE
Tudo passa
Havia um rei muito poderoso que tinha tudo na vida mas, mesmo assim, vivia deprimido. Por isso, resolveu consultar os sábios do reino e falar para eles sobre seu problema:
– Preciso de algo que torne possível eu quebrar essa rotina. Alguma coisa que me torne alegre quando eu estiver deprimido e que me entristeça quando eu estiver alegre demais.
Os sábios, depois de confabularem, resolveram dar um anel de presente ao rei, alertando-o:
– Debaixo da pedra deste anel há duas mensagens sobrepostas. Deverão ser lidas, uma em cada momento drástico de sua vida: de grande tristeza e desespero ou de imensa alegria e felicidade.
O rei aceitou o desafio.
Um dia o país do rei entrou em guerra e seus soldados foram vencidos. Juntando seus homens de confiança, o rei fugiu.
Houve vários momentos em que a situação ficou terrível, mas o rei não abriu o anel porque ainda não era o fim. O reino estava perdido, mas podia recuperá-lo. O inimigo o perseguiu, mas o rei cavalgou até que perdeu, também, os companheiros de sua confiança e o próprio cavalo. Seguiu a pé, sozinho, e os inimigos atrás; era possível ouvir-lhes o ruído. Os pés sangravam, o inimigo se aproximava e o rei, quase desmaiado, alcançou a beira de um precipício. Os perseguidores estavam cada vez mais pertos e não havia saída, mas o rei ainda pensou:
– Estou vivo, talvez eles mudem de direção. Ainda não é o momento de ler a mensagem.
Olhou o abismo e viu pedras pontiagudas lá embaixo. Não tinha por onde escapar. Os inimigos estavam muito próximos. Era chegada a hora e o rei abriu o anel e leu a primeira mensagem. “Isto passará”.
De súbito, o rei acalmou-se. O inimigo mudou de direção. O rei exilou-se e, tempos depois, reuniu novamente seus exércitos e reconquistou seu país. Houve uma grande festa. O povo dançava nas ruas e o rei estava felicíssimo, chorando de tanta alegria. Aí se lembrou da recomendação dos sábios… e do anel. Era hora de ler a segunda mensagem, pois felicidade maior não iria ter na vida. Abriu e leu:
“Isto também passará”.
A INVEJA
Cuidado com os invejosos, eles são capazes de atos que até Deus duvida.
Certa feita uma cobra começou a perseguir um pirilampo que, solitário, pisca-piscava pela noite escura. Sua preocupação era apenas a sobrevivência, a busca de alimento. Mas, para sua desdita, principalmente em noites muito escuras, seu abdome luminescente chamava a atenção dos moradores daquele nicho ecológico. Entre eles, a de uma cobra invejosa.
Mas, o vaga-lume precisava se alimentar e, por isso, voava de um canto para outro, apesar do medo da cobra que o vivia espreitando.
Numa das noites, ao sair de sua pequena toca, o pirilampo percebeu que a cobra descobrira seu esconderijo e o aguardava ameaçadora. Voou quanto pôde, mas quando retornou, viu que a cobra continuava a postos, esperando-o no tronco da árvore em que dormia. E assim as noites foram se sucedendo, sempre com o vaga-lume fugindo e a cobra perseguindo-o noite após noites, ininterruptamente.
Já sem forças, não suportando mais tanta perseguição, o pirilampo parou de fugir e entregou-se ao triste destino de ser eliminado pela cobra. Antes, porém, ele quis tirar uma dúvida que não era menor que o medo de ser engolido por aquele animal asqueroso:
– Sei que vou ser devorado por ti. Antes, porém, queria te fazer três perguntas, posso?
– Podes. Não costumo abrir esse precedente para ninguém, mas já que te vou comer, podes perguntar.
– Pertenço à tua cadeia alimentar?
– Não.
– Fiz-te alguma coisa?
– Não.
– Então, por que queres me comer?
– Simplesmente porque não suporto ver-te brilhando.
NÃO TENHA MEDO DE MUDAR
Sempre é bom tentar coisas novas
Conta-se que um sábio saiu a passear com seu discípulo. Depois de horas de caminhada pelo sertão, eis que avistaram um casebre perdido no meio do cerrado. Foram até lá. Encontraram uma família com três filhos pequenos, um tanto desnutridos e melequentos. O sábio perguntou ao dono da casa:
– Como o senhor sobrevive aqui com sua mulher e seus filhos? De que se alimentam, afinal?
Com voz de matuto acomodado, ele respondeu:
– Nois tem uma vaquinha que dá pra nois alguns litros de leite. Nois bebe dele e fazemo quejo com a sobra. Quando em vez eu mato um tatu, acho ovos de seriema, encontro uma abeieira, e assim nois vai vivendo.
Sem fazer comentários, o sábio despediu-se e saiu com seu discípulo. No caminho de volta, encontrou a vaquinha do sertanejo e a matou, ante o olhar espantado e atônito do discípulo:
– Mestre, o senhor matou o único meio de sobrevivência daquela pobre família?
– Sim, respondeu o mestre, matei. Em seguida quietou-se.
Dez anos mais tarde, o discípulo, já homem formado, resolveu voltar lá. Pretendia pedir perdão pelo sábio mestre que, cruelmente matara a pobre vaca. No entanto, no lugar do casebre, ainda de longe, ele avistou uma linda sede, com carro na garagem e muitas crianças brincando alegremente no quintal. Aproximando-se mais, perguntou ao homem que consertava uma cerca:
– O que foi feito daquela família pobre que morava aqui?
O homem respondeu:
– Continua aqui.
Intrigado, ele pediu permissão e adentrou na casa. Quis saber o que havia acontecido para que conseguissem tudo aquilo. O homem, demonstrando inclusive grande mudança cultural, explicou:
– Há dez anos eu vivia aqui na penúria, sobrevivendo apenas de uma pobre vaca. Um dia, porém, ela morreu. Sem a vaca eu vi que precisava fazer alguma outra coisa ou, então, minha família morreria de fome. Começamos novos negócios e hoje…. Pois é:
Embora ninguém possa modificar o passado, você pode, partindo de onde se encontra, estabelecer-se um novo futuro.
COMO CONSERTAR O MUNDO
“Um cientista vivia preocupado com os problemas do mundo e estava procurando meios de minorá-los. Passava dias em seu laboratório em busca de respostas para suas dúvidas. Certo dia, seu filho de sete anos invadiu o seu recinto de trabalho. O cientista, nervoso pela interrupção, insistiu para que o filho fosse brincar em outro lugar. Vendo que seria impossível demovê-lo, o pai procurou algo que pudesse distraí-lo. Tomou um velho mapa do mundo e, com o auxílio de uma tesoura, recortou-o em vários pedaços. Em seguida tomou um rolo de fita adesiva, entregou-o ao filho dizendo:
– Filhinho, vou lhe dar o mundo para consertar. Aqui está ele todo quebrado. Veja se consegue consertá-lo pra mim! Faça tudo sozinho, em silêncio, ali naquele canto!
Calculou que a criança levaria o resto do dia para recompor o mapa, mas passadas algumas horas ele ouviu a voz do filho que o chamava eufórico:
– Pai, pai, já fiz tudo. Consegui terminar tudinho!
A princípio o pai não deu crédito às palavras do filho. Seria impossível, na idade dele, recompor um mapa que jamais havia visto. Relutante, o cientista levantou os olhos de suas anotações, certo de que veria um trabalho digno de uma criança. Para sua surpresa, o mapa estava completo. Como seria possível?
– Você não sabia como era o mundo, meu filho, como conseguiu?
– Pai, eu não sei como é o mundo, mas quando o senhor tirou o papel da revista para recortar, eu vi que do outro lado havia a figura de um homem. Quando me deu o mundo para consertar, eu tentei, mas não consegui. Foi aí que me lembrei do homem. Virei os recortes e comecei a consertar o homem que eu sabia como era. Quando consegui, virei a folha e descobri que havia consertado o mundo.”
AMIGO NÃO TEM DEFEITO
Na vida não importa como somos, mas que alguém nos aprecie pelo que somos, e nos aceite e ame incondicionalmente.
De trás da loja de animais saiu uma cadela correndo, seguida por cinco cachorrinhos. Um deles estava ficando consideravelmente para trás. O menininho apontou para ele e perguntou ao dono da loja:
– O que aconteceu com aquele cachorrinho?
O homem explicou-lhe que nascera com uma perna defeituosa e que andaria mancando pelo resto de sua vida. O menininho se emocionou:
– Pois é aquele que eu quero comprar!
E o homem respondeu:
– Não, filho, você não vai comprar aquele filhote. Se realmente o quer, eu o dou de presente. Para mim, ele não vale nada.
O menininho agachou-se e levantou a barra de sua calça para mostrar sua perna esquerda cruelmente retorcida e inutilizada, suportada por um aparato de metal. O homem, envergonhado, não conteve as lágrimas. Em seguida sorriu e disse:
– Filho, só espero que cada um destes outros cachorrinhos tenha um dono como você.
AS APARÊNCIAS ENGANAM
Um padre vestido de batina passava por uma rua quando percebeu um vira-lata a revirar uma lixeira. Sem pestanejar desfechou-lhe violento pontapé, ferindo-lhe a mandíbula. Uivando de dor, o cão foi pedir “justiça”, aninhando-se aos pés de um guarda que estava de plantão na esquina da rua.
O guarda que vira tudo retrucou ao padre:
– Por que fez isto ao pobre animal?
– A culpa foi dele, não minha! Ele me manchou a batina.
O cachorro, porém, gemia cada vez mais.
Disse-lhe o guarda:
– Por que não se afastou quando viu o padre?
E o cão explicou:
– É que, ao vê-lo de batina, tive confiança nele, seu guarda. Jamais imaginaria que fosse me machucar. Sem o manto, eu o teria evitado. Esse foi meu erro.
Se quer castigá-lo – explicou o guarda – tire a roupa reservada aos justos, para que ninguém mais se engane com sua aparência.
O TEMPO
Imagine que você tenha uma conta corrente e a cada manhã você acordasse com um saldo de R$ 86.400,00. Só que não é permitido transferir o saldo para o dia seguinte. Todas as noites seu saldo é zerado, mesmo que você não tenha conseguido gastá-lo durante o dia. Todos nós somos clientes desse banco que se chama TEMPO.
Todas as manhãs é creditado para cada um, 86.400 segundos. Todas as noites, o saldo é zerado novamente. Não é permitido acumular para o dia seguinte. Invista, então, no que for melhor: na saúde, na fé, na felicidade e no sucesso! O relógio está correndo. Cada segundo que passa é um passo que se dá para o fim. Portanto, dê valor ao seu tempo.
Para perceber o valor de um ano, pergunte a um estudante que o repetiu; de um mês, pergunte a uma mãe que teve seu bebê prematuramente; de uma semana, pergunte a um editor de jornal semanal; de uma hora, pergunte aos amantes que estão esperando para se encontrar; de um minuto, pergunte a uma pessoa que perdeu o avião; de um segundo, pergunte a uma pessoa que conseguiu safar-se de um acidente; de um milésimo de segundo, pergunte a alguém que ficou com a medalha de prata em uma Olimpíada.
O BEM EXIGE ESFORÇO, MAS SEMPRE HÁ UMA RECOMPENSA
Ainda que não perceba, a recompensa pelo bem praticado sempre é paga.
Um homem rico e inteligente colocou uma pedra enorme no meio de uma estrada, escondeu-se e ficou observando o comportamento das pessoas que passavam. A maioria passou e simplesmente atalhou caminho. Alguns até esbravejaram contra o prefeito porque ele não mantinha as estradas limpas. Em determinada hora do dia passou um camponês com uma boa carga de vegetais em sua carroça. Ao notar o obstáculo ele amarrou a mula num arvoredo e tentou remover a pedra.
Após muita força e suor, finalmente ele conseguiu. Voltou, desatou a carroça e ia prosseguir sua viagem quando notou que havia uma bolsa no local em que estava a pedra. A bolsa continha 500 notas de 100 reais e uma folha escrita por quem a deixara, dizendo que o dinheiro era para a pessoa que removesse aquela pedra do caminho.
MUITO É MAIS DO QUE UM
É mais inteligente dividir
À noite, num grande salão, bem no centro, havia uma vela com dois metros de comprimento, acesa, tentando iluminar todo o recinto. Mas, o que se notava era apenas uma luz sem presteza que mal denunciava vultos.
Então, alguém a cortou em vários cotos, acendeu-os e os postou por todo o recinto. E com a luz multiplicada, todo o salão ficou iluminado.
E aquela vela que poderia ter ficado entristecida por ter sido mutilada, agora se alegrava, na certeza de que, mesmo dividida, desempenhava – e melhor – sua função de iluminar.
QUEM NASCEU SEM FÉ, DEVE PEDI-LA ATÉ O FIM DE SEUS DIAS
Era uma vez um menino aparentemente igual a todos os demais. A diferença é que havia nele uma descrença em tudo. Ainda que seus pais fossem religiosos, ele só os acompanhava aos cultos por estrita incapacidade de se antepor. E assim o menino foi crescendo. Era-lhe comum surpreender-se pensativo, olhar fixo em algum ponto do Universo, vasculhando a razão das coisas. Mesmo não acreditando em Deus ele sentia que havia algo de estranho vibrando e que, com certeza, alguma coisa misteriosa existia por trás de tudo aquilo.
Começou a “rezar”! Eram palavras soltas, mecânicas, algo como o ronronar de um gato em sua preguiçosa modorra ou como o sibilar de fortes ventos em tempo de verão. Todos os dias e, em alguns dias todas as horas, ele pedia a “alguém” que lhe desvencilhasse dos tantos mistérios que confundiam sua mente.
E no rodízio eterno das coisas o tempo foi caminhando, passo a passo, empurrando-o para a velhice sem que entendesse como “o Deus bom, justo e poderoso” que apregoavam, permitia tanta miséria e desgraças no mundo.
E em cada passo de sua caminhada ininterrupta rumo ao destino dos seres ele começou a perturbar-se ainda mais. Sentia que a hora da verdade estava chegando sem que seus pedidos, “sem fé”, tivessem surtido qualquer efeito. Não desistindo continuou “rezando”, balbuciando ou dizendo claramente: “Deus, se existe, ajude-me, esclareça-me porque o tempo urge”.
Esta frase, entre tantas do mesmo teor, parecia enlouquecê-lo a cada semana que se esvaía. Até que um dia ele caiu muito enfermo: a idade o prostrara em extremo cansaço. O turbilhão de dúvidas continuava sendo a inseparável companhia em seu leito de dor.
E ele insistia, agora, mais que antes, no pedido de socorro a um “deus” que procurara a vida inteira sem o encontrar.
De repente seus olhos embaçados viram um rebuliço no quarto… e duas pequenas velas tremelicantes foram colocadas em suas mãos.
Foi então que o prêmio de sua persistente busca chegou, porque “Deus tarda, mas não falha”. Aqueles fragmentos de fé que cultivara a vida inteira, juntados um a um, transformaram-se num alto brado que chegou aos céus. E naquele último segundo, Deus, em sua infinita misericórdia, mandou que seus anjos descessem com o prêmio da persistência. E o menino incrédulo, agora decrépito e moribundo, num delírio de imensa paz cerrou os olhos ouvindo um lindo canto de anjos que sobre ele entoavam o hino da recompensa: “Vem, bendito de meu Pai…”.
EXPERIMENTE PARA VER
Numa entrevista, o médico Drauzio Varella disse que a gente tem um nível de exigência absurdo em relação à vida, que queremos que absolutamente tudo dê certo, e que, às vezes, por aborrecimentos mínimos, somos capazes de passar um dia inteiro de cara amarrada.
E aí ele deu um exemplo trivial que acontece todo dia na vida das pessoas…
“É quando um vizinho estaciona o carro muito encostado ao seu na garagem (ou pode ser na vaga do estacionamento do shopping). Em vez de simplesmente entrar pela outra porta, sair com o carro e tratar da sua vida, você bufa, pragueja, esperneia e estraga o que resta do seu dia.
Eu acho que esta história de dois carros alinhados impedindo a abertura da porta do motorista é um bom exemplo do que torna a vida de algumas pessoas melhor, e de outras, pior.
Tem gente que tem a vida muito parecida com a de seus amigos, mas não entende por que eles parecem ser tão mais felizes.
Será que nada dá errado para eles? Dá aos montes. Só que, para eles, entrar pela porta do lado, uma vez ou outra, não faz a menor diferença. O que não falta neste mundo é gente que se acha o último biscoito do pacote.
Que “audácia” os contrariar! São aqueles que nunca ouviram falar em saídas de emergência: fincam o pé, compram briga e não deixam barato. Alguém aí falou em complexo de perseguição? Justamente. O mundo versus eles.
Eu entro muito pela outra porta e, às vezes, saio por ela também. É incômodo, tem um freio de mão no meio do caminho, mas é um problema solucionável. E como esse, a maioria dos nossos problemões podem ser resolvidos assim, rapidinho. Basta um telefonema, um e-mail, um pedido de desculpas, um ´deixar barato´.
Eu ando deixando de graça…. Pra ser sincero, vinte e quatro horas têm sido pouco pra tudo o que eu tenho que fazer, então não vou perder ainda mais tempo ficando mal-humorado.
Se eu procurar vou encontrar dezenas de situações irritantes, e gente, idem; pilhas de pessoas que vão atrasar meu dia. Então eu uso a ´porta do lado´ e vou tratar do que é importante de fato.
Eis a chave do mistério, a fórmula da felicidade, o elixir do bom humor, a razão por que parece que tão pouca coisa na vida dos outros dá errado.
Quando os desacertos da vida ameaçarem o seu bom humor, não estrague o seu dia… Use ´a porta do lado´ e mantenha a sua harmonia. Lembre-se, o humor é contagiante – para o bem e para o mal – portanto, sorria, e contagie todos ao seu redor com a sua alegria. A porta do lado pode ser uma boa entrada… ou uma boa saída.”
PRESSA…
Inimiga da perfeição
– “Mestre, quantos anos levarei para me tornar um ótimo professor de Filosofia? – Perguntou o jovem discípulo.
– Se você se esforçar quatro horas por dia, em oito anos.
– Então, Mestre, eu me esforçarei oito horas por dia. Nesse caso, em quanto tempo eu serei um excelente professor?
– Em dezesseis anos.
– E se eu me esforçar doze horas?
– Em trinta e dois anos – disse o Mestre.”
MUNDO INGRATO
Adaptado da ideia de Danilo Bacelar
Na sexta-feira, do serviço para casa, você sintoniza o rádio do painel de seu carro e ouve a notícia: “Numa cidadezinha tal morreram três pessoas de uma gripe até agora desconhecida.”
Não dá muita atenção ao acontecimento. Na segunda-feira quando acorda, escuta que já não são três, mas 30.000 as pessoas mortas pela tal gripe, nas colinas remotas da Índia.
Na terça-feira a tal gripe já é a notícia mais importante, ocupando todos os jornais, rádios e televisões do mundo. Já não está só na Índia, mas também no Paquistão, Iran, Afeganistão e países limítrofes.
Estão chamando a doença de “La Influenza Misteriosa” e todos se perguntam: “Que faremos para controlá-la?”
Começa o pânico na Europa. As informações dizem que o vírus mata em questão de uma semana e os infectados nem percebem quando ele chega. Depois de quatro dias de sintomas horríveis a pessoa morre.
Todos os países começam a fechar suas fronteiras, ao menos, até que uma vacina seja descoberta.
No dia seguinte as pessoas começam a se reunir nas igrejas em oração pela descoberta da cura, quando entra alguém aos gritos:
“Liguem o rádio! Liguem o rádio! Duas mulheres morreram da gripe aqui bem pertinho da gente.”
Em questão de horas a coisa invadiu o mundo inteiro. Os cientistas continuam trabalhando na descoberta de um antídoto, mas nada funciona.
Enfim, a notícia esperada: “Conseguiram decifrar o código genético do vírus. É possível fabricar a vacina! Para tanto, é preciso de um tipo de sangue especial.”
Corre por todo o mundo a notícia de que as pessoas devem ir aos laboratórios para que o sangue seja analisado.
Então você, com toda sua família, vai ao hospital mais próximo. Sangue de seus filhos é retirado.
Meia hora depois o médico vem gritando o nome de alguém, dizendo ter ele o sangue de que a humanidade precisa. Seu filho caçula agarra-se à sua jaqueta e diz:
– Pai? Sou eu!
Você, que havia levado o filho mais para um desencargo de consciência, desperta e grita: “Esperem!”
Mas os médicos respondem: “O sangue dele está limpo, é sangue puro. É o único que pode salvar a humanidade.”
E pela primeira vez alguém ri naquela semana. O médico mais velho se aproxima e diz: “Obrigado senhor! O sangue de seu filho é perfeito, está limpo e puro; a vacina, finalmente, poderá ser fabricada.”
A notícia se espalha por todos os lados. As pessoas estão orando e rindo de felicidade. O médico se aproxima de você novamente:
“Podemos falar um momento? Não sabíamos que o doador seria uma criança e precisamos que assine uma autorização para usarmos o sangue de seu filho.”
“Qual a quantidade de sangue que vão usar dele?”
O sorriso do médico desaparece e ele responde: “Não pensávamos que fosse uma criança. Não estávamos preparados, precisamos de todo o sangue de seu filho.”
Você não acredita no que ouve e trata de contestar: Mas…
O médico insiste: “O senhor não compreende? Estamos falando da cura para o mundo inteiro! Por favor, assine! Nós precisamos de todo o sangue. Por favor assine!
Em silêncio e sem ao menos poder sentir a caneta na mão, você assina.
“Se quiser ver o seu filho, caminhe na direção da sala de emergência. Será triste porque o verá numa maca, implorando sua ajuda!”
Você vai, segura na mão dele e diz: “Filho, jamais permitiria que lhe acontecesse algo que não fosse necessário, você entende?”
“Sinto muito, senhor – interfere o médico – precisamos começar. Gente do mundo inteiro está morrendo. Pode sair? Terá de dar as costas ao seu filho ouvindo-lhe o queixume: pai, por que está me abandonando?”
E na semana seguinte, quando fazem uma cerimônia para honrar o seu filho, algumas pessoas ficam em casa dormindo, outras não vêm porque preferem fazer um passeio ou assistir a um jogo de futebol na TV; outras vêm com um sorriso falso, como se realmente não se importassem. E você tem vontade de parar e gritar:
“MEU FILHO MORREU POR VOCÊS! NÃO SE IMPORTAM COM ISSO?”
É curioso que as pessoas reclamem dizendo que não entendem como o mundo caminha de mau a pior; é curioso como acreditamos em tudo aquilo que lemos nos jornais, mas questionamos a Bíblia; é curioso como todos querem ir para o Céu, mas nada fazem para merecê-lo; é curioso como as pessoas dizem acreditar em Deus, mas com suas ações mostram o contrário; é curioso como a luxúria crua, vulgar e obscena passa livremente através do espaço, mas a discussão pública de DEUS é suprimida nas escolas e locais de trabalho.
SÓ JESUS SALVA
Brincadeirinha inteligente
Certa vez o diabo fez um desafio a Jesus:
– Aposto como digito muito mais rápido do que você.
O desafio foi aceito.
No dia marcado, Jesus de um lado com um XT e o diabo com um Pentium III 600Mhz, rodando Windows XP, 1024Mb de memória cache.
Todos a postos. O diabo estala os dedos enquanto Jesus olha calmamente para o seu oponente. Inicia-se a competição. Aquele que digitasse mais palavras em 30 minutos seria o vencedor.
O Diabo digita de maneira feroz, numa base de 900 toques por minuto.
Do outro lado da sala Jesus digita usando apenas os dois dedos indicadores, no melhor estilo “catador de milho de Jerusalém”.
A plateia fica nervosa com a performance do Messias, e rói as unhas. Quinze minutos se passam. O diabo já digitou cerca de 10Mb de texto, sem erros, enquanto Jesus ainda está na casa dos 5Kb. Os olhares se tornam mais nervosos. Vinte e cinco minutos passados. O diabo já anda pela casa dos 20Mb de texto. Jesus anda pelos 8Kb.
Vinte e nove minutos passados.
E aí, PLUM!, acaba a energia. Desespero geral, pânico, gritaria. Os juízes decidem terminar a competição pelo tamanho final do arquivo. Jesus: 10 Kb; diabo: 0 Kb, porque ele não salvara nada. Mas não pode ser…
O diabo protesta:
– Isso é roubo!
E então os juízes explicam:
– Você esqueceu de algo muito importante: SALVAR.
DEPOIS DA GUERRA
Todo jovem é filho de alguém.
Esta história é sobre um soldado que finalmente estava retornando da guerra. Ele ligou para seus pais um pouco antes de embarcar:
– Mãe, pai, eu estou voltando para casa, mas tenho um amigo que gostaria de levar comigo.
– Claro, filho! Nós adoraríamos conhecê-lo!
– Há algo que vocês precisam saber – continuou o filho – ele pisou em uma mina e perdeu um braço e uma perna. Não tem nenhum lugar para ir e, por isso, eu quero que ele venha morar conosco.
– Sinto muito em ouvir isso, filho! Talvez possamos encontrar um lugar para ele morar.
– Não, pai, eu quero que ele venha morar conosco.
– Filho, você não sabe o que está pedindo! Alguém com tanta dificuldade seria um grande fardo para nós. Temos nossas próprias vidas e não podemos deixar que uma coisa como essa interfira em nosso modo de viver. Acho que você deveria voltar para casa e esquecer este rapaz. Ele encontrará uma maneira de viver por si mesmo. Você me entende, não é mesmo?
Neste momento o filho baixou o telefone. Os pais não ouviram mais nenhuma palavra dele.
Alguns dias depois eles receberam um telefonema da embaixada brasileira dizendo que o filho deles havia morrido depois de ter caído de um prédio. A polícia acreditava em suicídio.
Os pais angustiados voaram para o local e foram levados ao necrotério a fim de identificar o corpo. Eles reconheceram o filho e, para maior angústia, descobriram que tinha apenas um braço e uma perna.
ÀS VEZES TEMOS MEDO DE NADA
Ter medo é natural; covarde mesmo é aquele que se deixa vencer por ele.
Um cãozinho medroso já estava no terceiro dia sem beber água porque ficava com medo da figura refletida na única poça que restava. Sua própria imagem parecia-lhe outro cão a espreitá-lo no fundo do poço.
No quarto dia, já desfalecendo de sede, mesmo “diante do perigo” iminente, ele se atirou na poça d´água. Ao tocá-la, as marolas desvaneceram a imagem refletida. Nos dias seguintes, perdido o medo, ele continuou matando a sede sem se importar com aquela imagem que, a princípio, parecia-lhe tão ameaçadora.
UMA VERDADE
Antes de nascer eu já era eterno
Escrevemos livros, mas quando queremos impressionar, inserindo neles alguma citação, sempre a buscamos entre os nomes e as obras consagrados. Um dos maiores milagres que se processa na criatura humana e surgir do nada e se tornar eterna.
Pensava sobre isto enquanto folheava um livro simples, de gente humilde e desconhecida do mundo literário: Aguillar Portela. É um poeta de Babaçulândia – TO, autor de “Nos meandros do Caminho”.
Em certa parte, ele escreveu:
“Eu nunca deixarei de existir, porque sempre haverá criaturas com traços de mim”.
É possível que carreguemos traços genéticos de “Adão e Eva”, assim como a última geração que viver na Terra, certamente terá traços de nós.
SÁBIOS PORCOS ESPINHOS
Conta-se que, certa vez, uma vara de porcos-espinhos estava a perecer de frio por causa de uma longa nevada e, também, por não ter um abrigo conveniente. Percebendo esta situação, os porcos resolveram se juntar agasalhando-se e se protegendo mutuamente. Mas os espinhos de cada um feriam os companheiros mais próximos, justamente os que forneciam calor. Para não se ferir, cada porco foi se afastando… e morrendo congelado.
Logo entenderam que desapareceriam da face da Terra caso não aceitassem os espinhos do semelhante.
O CEGO E O PUBLICITÁRIO
Persistir demais naquilo que não funciona é virtude por bom tempo; depois, é burrice.
Havia um cego sentado numa calçada, com um boné a seus pés e um pedaço de madeira em que se lia: “Por favor, ajude-me, sou cego”.
Um publicitário da área de criação, que passava por ali, parou e viu umas poucas moedas no boné. Sem pedir licença, pegou o cartaz, tomou o giz e escreveu outra frase. Recolocou o pedaço de madeira aos pés do cego e foi embora.
Ao cair da tarde o publicitário voltou a passar em frente ao cego que pedia esmola. Seu boné, agora, estava cheio de notas e moedas. O cego reconheceu as pisadas do publicitário e lhe perguntou o que escrevera para sensibilizar as pessoas.
O publicitário respondeu: “Nada que não esteja de acordo com o seu anúncio, mas com outras palavras”. E, sorrindo, continuou o seu caminho.
O cego nunca soube o que estava escrito, mas seu novo cartaz dizia:
“Hoje é primavera em Paris e eu não posso vê-la”.
COMO NASCE UM PARADIGMA
“É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito”. Albert Einstein.
”Não me pergunte quem eu sou, não me peça para permanecer o mesmo”. (Arqueologia do Saber – Foucault).
Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula. No centro, os pesquisadores puseram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas. Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato de água fria nos que estavam no chão. Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de pancadas, porque sabiam que, caso subisse, o jato de água fria aconteceria.
Passado mais algum tempo, nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação das bananas. Então, os cientistas substituíram um dos cinco macacos. Sem saber de nada, ele logo tentou alcançar as bananas. Foi derrubado pelos demais. Depois de algumas surras, também o novo integrante do grupo não mais subia a escada.
Um segundo foi substituído e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, da surra ao novato. Um terceiro foi trocado e o fato repetiu-se. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído.
Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse chegar às bananas. Se fosse possível perguntar a algum deles por que batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria:
“Não sei, mas as coisas sempre foram assim por aqui”.
A ESTRANHA PORTA
“Numa terra em guerra havia um rei que causava espanto.
Cada vez que fazia prisioneiros, não os matava. Levava-os a uma sala em que havia um grupo de arqueiros em um canto e uma imensa porta de ferro do outro. Nessa porta o rei mandou pintar figuras de caveiras, induzindo os prisioneiros a tétricas conclusões.
Uma vez na sala, ele obrigava os capturados a ficarem em círculo, e então dizia:
– Vocês podem escolher: morrer flechados por meus arqueiros ou passar por aquela porta que será trancada por mim.
Todos escolhiam ser mortos pelos arqueiros.
Ao término da guerra, um soldado que por muito tempo servira o rei, humildemente perguntou:
– Senhor, o que há por detrás daquela assustadora porta?
– Vá e veja você mesmo – disse o rei.
O soldado, então, abre a porta vagarosamente e percebe que raios de sol adentram e clareiam o ambiente. Nota, também, que adiante segue um caminho coberto de flores rumo à liberdade.
Sorrindo o rei explicou:
– Eu dava a eles a escolha, mas preferiram morrer a arriscar.
Quem sabe se a partir de agora você não cria coragem para abrir aquela porta que lhe mostrará o caminho da realização de seus mais antigos sonhos reprimidos pelo medo de arriscar?”
HÁ DE SE PENSAR… E DEPOIS AGIR
As coisas se tornam simples depois de descobertas.
Conta-se que Cristóvão Colombo foi convidado para um banquete em que lhe haviam designado um lugar de honra. Um cortesão enciumado dirigiu-se a ele perguntando com impertinência:
– Por acaso não existem outros homens na Espanha que poderiam ter descoberto a América?
Como resposta Colombo levantou-se, pegou um ovo de galinha fresco e convidou os presentes a colocá-lo de pé sobre a face lisa da mesa. Todos tentaram, mas ninguém conseguiu. Então, Colombo, com ar solene, pegou o ovo e o bateu levemente contra a superfície da mesa fazendo com que o pequeno achatamento causado pelo impacto mantivesse o ovo na posição vertical.
– Desta maneira qualquer um faz! – Objetou o cortesão.
– Sim, qualquer um poderá fazê-lo agora, mas ninguém teve esta ideia antes – observou Colombo.
PRECISO DE ALGUÉM
Sir Charlie Chaplin que me olhe nos olhos quando falo.
Que ouça as minhas tristezas e neuroses com paciência e que mesmo não compreendendo, respeite os meus sentimentos.
Preciso de alguém que venha brigar ao meu lado sem precisar ser convocado.
Alguém amigo o suficiente para dizer-me as verdades que não quero ouvir, mesmo sabendo que posso odiá-lo por isso.
Nesse mundo de céticos preciso de alguém que creia nessa coisa misteriosa, desacreditada, quase impossível: a amizade.
Que teime em ser leal, simples e justo, que não vá embora se algum dia eu perder o meu ouro e não for mais a sensação da festa.
Preciso de um amigo que receba com gratidão o meu auxílio, a minha mão estendida, mesmo que isto seja muito pouco para suas necessidades.
Preciso de um amigo que também seja companheiro nas farras e pescarias, nas guerras e alegrias e que no meio da tempestade grite em coro comigo:
“Nós ainda vamos rir muito disso tudo”, e ria muito.
Não pude escolher aqueles que me trouxeram ao mundo, mas posso escolher meu amigo.
E nessa busca, empenho a minha própria alma, pois com uma amizade verdadeira a vida se torna mais simples, mais rica e mais bela.
DESEJO
Carlos Drumond de Andrade
Desejo a você
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom
com letra de Chico
Frango caipira em
pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir
a palavra não
Nem nunca,
Nem jamais e adeus
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de amor
que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender uma nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr do sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.
DALAI LAMA:
Leve em conta que grande amor e grandes compromissos envolvem grandes riscos.
Quando perder a luta, não perca a lição.
Lembre-se de que não conseguir o que quer, às vezes, é um maravilhoso golpe de sorte.
Não permita que uma pequena disputa fira uma grande amizade.
Quando perceber que cometeu um erro, tome imediatas providências para corrigi-lo.
Passe um tempo sozinho todos os dias.
Lembre-se de que o silêncio é, às vezes, a melhor resposta.
Viva uma vida boa, honrada. Assim, quando ficar mais velho e olhar para trás, poderá regozijar-se a segunda vez.
Nas desavenças com os entes queridos, trate somente da situação atual. Não relembre coisas passadas.
Compartilhe seu conhecimento. É uma das maneiras de atingir a imortalidade.
Seja gentil para com a Terra.
Uma vez por ano vá a algum lugar em que jamais esteve.
ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY
Medite
“Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, pois cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra. Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, mas não vai só nem nos deixa sós. Leva um pouco de nós mesmos, deixa um pouco de si mesmo. Há os que levam muito, e os que levam pouco. Essa é a maior responsabilidade de nossa vida e a prova de que duas almas não se encontram por acaso.”
Diga isto a todos aqueles que entraram em sua vida e que sem nenhum laço sanguíneo deram-lhe algo de bom, fazendo-o acreditar que nada acontece ao acaso. Não esqueça nunca de fazê-los sentir o quanto são importantes para você. E creia: nunca será por acaso.
As pessoas passam pelas nossas vidas, sejam elas boas ou más. Cultive as boas pessoas, dê-lhes todo o carinho e o amor que puder dar. Às más, reze por elas e deixe seu exemplo como lição.
OS DIVERSOS CAMINHOS
Não fique sem um
Insisto em afirmar que as principais religiões do mundo: Cristianismo, budismo, judaísmo, confucionismo, hinduísmo, islamismo, jainismo, sikhismo, taoismo, zoroastrismo – possuem parecidos princípios morais: ideais de amor, o mesmo objetivo de beneficiar a humanidade por meio da prática espiritual e a mesma determinação de aprimorar seus praticantes como seres humanos.
Todas as “religiões” pregam preceitos morais para o aperfeiçoamento da mente, do corpo e da fala. Todas nos ensinam a não mentir, a não roubar e a não tirar a vida de outras pessoas. A essência de todos os preceitos morais preconizados pelos grandes mestres da humanidade é o não-egoísmo. Esses mestres tinham por objetivo remir os praticantes de ações negativas, frutos da ignorância, e conduzi-los ao caminho do bem.
NÃO TENTE ENTENDER DEUS
Deixe apenas que Ele o entenda
Como pode Deus, que se apregoa onisciente, onipresente, justo, bom e poderoso, permitir tantas maldades no mundo? Como permite Ele que alguém nasça sabendo que será condenado? Por que aceita que apareçam no mundo seres que escravizam os irmãos, definhando-os pela fome e pela miséria? Por que exige tanto sacrifício, desprendimento e humildade aos que pretendem a salvação?
Poderia Ele, ou não, com um simples “FAÇA-SE”, transformar a Terra num paraíso, em que os homens se amassem de verdade como se fossem membros de uma única família unida? Não terá nosso Deus de bondade, forças para destruir o deus da maldade? Haverá uma guerra entre eles, ainda indefinida? Como pode haver alguma coisa sem princípio? Haverá mesmo alguma coisa infinita? Mas se não há, o que haverá depois das finitas? Qual a justificativa para um Deus que tem poder e bondade, enviar Seu próprio Filho para ser crucificado pelos homens? Por que, tantas vezes, a gente pede e implora e nada consegue? Por que já se disse que ninguém se salva por suas obras e sim pelo desejo de Deus? …
Não sei! Eu amo a Deus e, mesmo sem entender nada continuarei pedindo para que tenha compaixão de mim. É tudo que posso fazer. Se não a Ele, a quem recorrer?
É INGENUIDADE ACREDITAR EM MILAGRES SOLITÁRIOS
Cada um pode ser mais forte que o mundo todo.
Por mais de meio século tomei decisões e não as cumpri! Minhas fraquezas doíam, sim! Jamais me senti bem depois de atos insensatos. Mesmo assim os cometi por mais de meio século… e muitos ainda cometo e sei que, como humano, irei cometer enquanto respirar. Mas, o que conta não é apenas a gente se livrar de todas as fraquezas, mas lutar para diminuí-las. Eliminar algumas é preciso, quando nada, aquelas que ferem a consciência com maior rigor.
Para mudar é preciso CRER.
Hoje estou convencido que somente por meio de Deus os homens conseguirão mudar para melhor. As forças policiais, políticas e econômicas jamais acabarão com as guerras, com os criminosos, com os traficantes, com os ladrões, com os egoístas…
No entanto, o que todos os exércitos do mundo não conseguem, você, sozinho, poderá conseguir quando, por conta própria, por amor a Deus, resolver mudar.
DEPENDÊNCIAS
Uma luta de titãs
Mesmo tomando uma decisão sincera diante de Deus, não conte com a batalha vencida. Não duvide de sua fraqueza. Haverá momentos em que a dependência de seus vícios virá mais forte que todas suas decisões de mudar. A dependência do vício é igual a um animal feroz ferido de morte. Diante do irreversível ele usa toda força possível e restante para se defender. Compare seu esforço para se desvencilhar de muitas coisas erradas, com a luta quase desumana de quem passou uma vida entregue ao vício do cigarro, das bebidas ou de outras drogas ainda piores.
Tudo aquilo que fazemos por muitos anos predispõe nosso organismo ao apego. Com uma simples retrospectiva de vida qualquer um pode assegurar-se desta assertiva. Veja como há pessoas que vão ao banheiro quase sempre no mesmo horário; que não podem perder a hora do almoço, do cafezinho ou do chá… Pessoas que em determinadas horas do dia ou da noite sentem forte necessidade de fazer tal e tais coisas. Nosso organismo se parece com um relógio programado.
Com as coisas espirituais não é diferente. Também o espírito pode ser programado. Para quem passou anos de vida levantando cedo aos domingos para ir à Missa, com certeza, nesses dias e hora, sem que perceba, ele deixa a cama e já começa a se vestir para atender àquela programação.
Todos nossos hábitos ruins podem ser mudados. Somos seres racionais e com um detalhe curioso e importante: temos força de vontade. Essa força, com o aval de Deus, pode mudar o rumo de nossas vidas. A maior e a pior investida é a primeira. Reze muito nesse dia. Fique com Deus no pensamento e lute com todas as forças. As tentações subsequentes serão menores: irão sendo vencidas mais facilmente e, se não desistir, conseguirá mudar, para melhor, os rumos de sua vida.
NÃO SE PERTURBE
com coisas passageiras
Passar horas ou alguns dias triste porque aconteceu algo inesperado que não desejava, tem explicação. Mas há dias em que, mesmo sem saber a razão, a gente acorda triste, abatido, deprimido…
Do mesmo modo, quando em vez nos invade uma felicidade que não sabemos de aonde vem. São os tais dias que nos acusam de termos visto “passarinho verde”.
Não entendo bem essas vicissitudes, embora sejam comuns a todos os seres humanos. Duram no máximo um dia. São frequentes e explicadas de maneira pouco convincente pelos psicólogos.
Portanto, quando a tristeza lhe invadir o coração e a alma sem motivo aparente, não se desespere: com certeza será apenas por um dia. É normal e comum a todos nós, seres humanos.
Sabendo disso é possível até sorrir, mesmo sentindo angústia no coração, porque coisas que passam logo não devem nos perturbar nem preocupar.
Acordar cheio de tristeza sem motivo aparente é como amanhecer com a conta bancária no vermelho, mas com a certeza de que o dinheiro para quitação estará chegando à tarde.
PARÁFRASE
O que aprendi da vida
Aprendi: que não importa quão amiga seja uma pessoa, ela me ferirá de quando em vez;
que levo anos para construir um sonho e apenas alguns segundos para destruí-lo;
que posso, num instante, praticar algo do qual irei me arrepender pelo resto da vida;
que as pessoas de quem mais gosto me são tomadas muito depressa;
que não importa onde cheguei, mas para aonde estou indo;
que posso ir mais longe do que sempre imaginei;
que: ou controlo minhas fraquezas ou elas me controlarão;
que a ajuda em geral me vem de onde nunca imaginei;
que tudo o que gastei (tempo e dinheiro) ajudando aos outros, nunca me fez falta;
que Deus só atende meus pedidos honestos, no limite de minha resistência;
que os milagres acontecem agora mais do que no tempo de Jesus;
que há mais dos meus pais em mim do que eu suponho;
que possa estar eu na pior das situações, o mundo continua como se eu não existisse;
que nem sempre Deus chega nos momentos em que a gente quer, mas sempre chega.
que Deus não nos dá tudo o que pedimos, mas sim, tudo aquilo que for melhor para nossa salvação.
O CÉU TEM DE SER CONQUISTADO
mas, a batalha é dura.
Muitas vezes dizemos que nossas inclinações em cometer certos desatinos são mais fortes em nós do que naqueles que se esquivam, que as evitam. Até pode ser, porque não nascemos iguais, mas é bom pensar se não estamos sendo fracos. Que ninguém imagine que seja fácil para alguém – principalmente no mundo de hoje – evitar o adultério e toda tentação que se torna disponível a cada dia.
É infantilidade imaginar que um grande campeão o é apenas pelo dom de Deus. Ele luta, esforça-se diuturnamente para ser o melhor.
Assim também deve fazer aquele que quer ser grande no Reino de Deus. É preciso lutar… e lutar muito, abster-se de muitos prazeres, alcançar o objetivo com muito sofrimento.
CORRENDO OU SE ARRASTANDO
Caminhe sempre
Caminhe forte enquanto suas pernas estiverem sadias. Amanhã elas estarão bambas e, ao lado, nem um bastão talvez encontre. Mesmo assim, quando chegar esse dia, não desista: agarre-se com as mãos em alguma coisa e se arraste, prossiga, porque pode ser que sua salvação esteja a poucos metros do local em que se encontra.
Todos nós fomos criados com condição de perfazer o caminho, desde que não desanimemos na viagem.
É PRECISO FÉ E PERSISTÊNCIA
para melhorar o mundo.
Às vezes nos perguntamos: de que vale escrever contra as injustiças sociais, contra a corrupção, contra todo tipo de desmando, se não se percebe qualquer mudança nas pessoas?
Temos a impressão de que, denunciar, lutar por fraternidade e melhor divisão das coisas não passa de baldado esforço de desocupados ou – como se defendem os gananciosos – de gente pusilânime, preguiçosa, incapaz de crescer financeiramente.
Mas, com certeza, tudo o que se faz neste mundo perpetua-se, deixando seu rastro pelos caminhos sem fim. Por inveja, despeito… por qualquer coisa, às vezes fica latente ou é sufocado temporariamente, dando a impressão de que foi jogado no vazio. Mas não é bem assim. Cada palavra, cada gesto, cada elogio ou acusação… cumpre seu papel ao ser escrito ou proferido. É como se fosse um germe em vida latente, sempre pronto para despertar e cumprir seu destino.
Precisamos sempre combater os erros, denunciar os conluios, levantar os problemas, apresentar sugestões… dar nossa parcela de contribuição em prol de um mundo mais justo.
Vejam quantos absurdos já foram banidos de nosso planeta nos últimos anos, ainda que ao preço de vidas preciosas. Muitos desses mártires se foram imaginando a inutilidade de seus esforços, mas, ainda que não saibam, construíram a parte da estrada que lhes foi confiada: agora é a nossa vez de continuar o serviço.
A ÚLTIMA BATALHA
Há no mundo uma imensa variedade de opções.
Na lei dos contrários, temos de tudo, porque jamais entenderíamos o belo se não houvesse o feio.
Mas o Criador, com certeza, não criou as coisas pequenas, nem as grandes para ninguém, especificamente. Todas as melhores coisas estarão sempre à disposição de quem as queira para si, salvo os casos de predestinação.
Só que, para isso há um preço altíssimo de sacrifício, luta, determinação, persistência e coragem. Que ninguém imagine que os primeiros do mundo conseguem, de graça, a distinção que ostentam.
Se você deseja um lugar ao sol, vá à luta. Não espere que alguém faça isso por você. Encontrará milhares de dificuldades. Entre elas o cansaço, o desânimo, a fraqueza de achar que não irá conseguir e, por fim, a mais terrível de todas: a inveja dos pusilânimes, dos fracos e derrotistas que tudo farão para destruir seus sonhos. Essa será a última, mas a mais difícil das batalhas. Nela, a maioria sucumbe.
ESTENDA A REDE E DURMA EM PAZ
Conviver é condição do ser humano. Quem não convive consciente de seus deveres e obrigações empobrece o espírito e prejudica a criação. Acolher os outros é o grande passo para alcançar a felicidade em maior plenitude.
Ninguém é feliz sozinho. Felicidade sempre é partilha. Ela vem de alguém, por causa de alguém e vai para alguém. Vai e volta, porque amar é dar e receber. Quem apenas pensa em receber é egoísta. E nenhum egoísta é feliz.
O homem precisa sentir que é útil: que faz alguém sorrir; que faz alguém prosseguir; que está disposto a estender as mãos para aqueles que se encontram em dificuldades e precisam de ajuda.
Apenas quem dá é digno de receber. Apenas quem dá, compreende o quanto o amor compensa e é sublime. É muito mais fácil a gente estar alegre quando todos estão contentes.
Por favor: experimente fazer alguma coisa por alguém que sofre, que está com problemas… alguém que precisa de ajuda. À noite, ao recostar a cabeça para descansar, veja se sente alguma diferença dos outros dias em que só pensou em você, em seus negócios ou em sua família.
“VOCÊ FOI ESCOLHIDO
De que vale acumular riquezas, à custa do sofrimento alheio?
Para que ser o defunto mais rico do cemitério, se a morte a todos nivela?
O que realmente importa é “ajudar Deus” no aperfeiçoamento da humanidade: obra prima de sua criação.
Você foi um dos escolhidos. PARTICIPE”.
“ESPERAMOS DEMAIS PARA…
…fazer o que precisa ser feito, num mundo que só nos dá um dia de cada vez, sem nenhuma garantia do amanhã. Enquanto comentamos que esta vida é curta, agimos como se fosse eterna.
DEUS também está esperando; esperando que paremos de esperar, esperando que comecemos a fazer AGORA tudo aquilo para o qual esta vida nos foi dada.”
SEJA GRATO
Lembre-se de quem o ajuda
“Quando se levantou pela manhã, eu já havia preparado o sol para aquecer o seu dia e o alimento para a sua nutrição. Sim, eu providenciei tudo isso enquanto vigiava e guardava seu sono, a sua família e a sua casa. Esperei pelo seu bom-dia, mas você se esqueceu. Bem, você parecia muito apressado e eu perdoei!
O sol apareceu, as flores deram abriram, a brisa da manhã soprou e você nem pensou que eu é quem havia preparado tudo para você!
Seus familiares sorriam, seus colegas o saudaram, você trabalhou, viajou, realizou negócios, alcançou vitórias, mas nem percebeu que eu estava cooperando com você, e mais teria ajudado se me tivesse dado uma chance. Eu sei, você corre tanto! Eu o perdoei!
Você leu bastante, ouviu muita coisa, viu mais ainda e não teve tempo de ler ou de ouvir a minha palavra. Quis falar, mas não parou para ouvir-me. Eu quis até aconselhá-lo, mas você nem pensou na possibilidade. Se o fizesse, seus olhos, pensamentos, lábios seriam melhores. O mal seria menor e o bem seria muito maior em sua vida.
A chuva que caiu à tarde foram minhas lágrimas por sua ingratidão, mas foram também a minha bênção sobre a Terra, para que não falte o pão e a água a todos os meus filhos.
Você trabalhou, ganhou dinheiro, e não foi mais longe porque, por dinheiro não me interesso muito em ajudar. Mais uma vez se esqueceu que eu desejo sua participação no meu Reino com a sua vida, seu tempo, seus talentos…
Findou seu dia. Você voltou para casa. Mandei a Lua e as estrelas tornarem a noite mais bonita para lembrá-lo do meu amor. Certamente, agora, vai dizer um “obrigado” e saudar com uma “boa-noite”.
Psiu… está me ouvindo? Já dormiu! Que pena!… Boa-noite, durma bem. Eu fico velando por você. Jesus”.
Deus está sempre pronto a lhe dar o melhor, mas para isso é preciso que peça, aguarde e aceite o que receber, na certeza de que é o melhor para sua salvação: única coisa que realmente vale a pena. Quem não pede fica sem o compromisso da proteção divina. Todo mal é a expressão mais incontestável da ausência de Deus.
AMAR DE VERDADE
Se não se doar por completo, veio a este mundo inutilmente.
Se for poliglota, um campeão… mas viver distante dos problemas do mundo e não empenhar sua voz em favor dos fracos e injustiçados, seu saber é inútil.
E se tiver a melhor casa de sua rua, o carro mais bonito e a conta mais vultosa nos bancos de sua cidade, mas se esquecer das pessoas sem lar, que andam a pé e passam fome, não tem nada: na verdade é um miserável.
Se você estuda no melhor colégio da cidade, mas se esquece dos jovens da sua idade que moram debaixo das pontes, que não têm família, que vivem nas favelas sem escolas e sem condições mínimas de vida humana, você não é gente.
Se se vestir como um príncipe, mas não se lembrar dos que andam de pé no chão e se cobrem de andrajos, será apenas uma sombra colorida.
Se passa o fim de semana em festas, boates, farras e programas, sem ver a fome, o analfabetismo, a doença e o desemprego de seus semelhantes, você não serve para nada.
UM CENTAVO DE CONTRIBUIÇÃO
Faça sua parte
Ame a Deus sobre todas as coisas. Não acredite em tudo que ouve. Não gaste tudo o que tem. Não durma o tanto que quer. Quando você disser “eu te amo”, que seja verdadeiro. Quando você disser “sinto muito”, olhe nos olhos da pessoa. Nunca ria dos sonhos dos outros, porque todos nós temos fantasias. Não julgue as pessoas pelos seus parentes ou aparências. Fale devagar e pense para falar. Importe-se com as pessoas, se quer que elas se importem com você. Não deixe uma pequena disputa destruir uma grande amizade. Quando você se der conta que cometeu um erro, tome as atitudes necessárias: seja humilde, reconheça o seu erro e peça desculpas.
Sorria ao atender o telefone. A pessoa que estiver chamando sentirá isso em sua voz. Leia mais livros bons, viva mais a vida, aproveite o tempo. Num relacionamento com entes queridos, enfoque a situação atual. Não fale do passado triste. Reparta o seu conhecimento sem ostentação: é uma forma de multiplicar a sabedoria sem afetar a humildade.
Uma vez por ano vá para um lugar em que nunca esteve antes. Se você ganhar muito dinheiro, lembre-se dos que nada têm. Faça o melhor para o seu semelhante, mesmo sabendo que ele pode não fazer nada por você.
Se exigir honestidade, seja honesto primeiro. Se exigir justiça, seja um exemplo dela. Fale do amor de Deus a todos que cruzarem o seu caminho. A cada dia, procure se aperfeiçoar para ser cada vez melhor para as pessoas que convivem com você.
Lute por um mundo melhor. Se cada um dos quase sete bilhões de seres humanos que hoje povoam a Terra lhe enviassem um centavo, já imaginou com quanto ficaria? Pois bem, dê sua pequena contribuição e o mundo ficará melhor.
SORRI
(Charles Chaplin)
Quando a dor te torturar
e a saudade atormentar
os teus dias tristonhos, vazios…
sorri.
Quando tudo terminar
quando nada mais restar
do teu sonho encantador…
sorri.
Quando o sol perder a luz
e sentires uma cruz
nos teus ombros doridos…
sorri.
Vai mentindo a tua dor
e ao notar que tu sorris
todo mundo irá supor
que és feliz!
“E mesmo na dor poderás produzir felicidade aos corações menores que o teu.”
ALGUMAS REGRAS E GURDJIEFF:
Faça pausas de dez minutos a cada duas horas de trabalho.
Aprenda a dizer não sem se sentir culpado ou achar que magoou.
Querer agradar a todos causa um desgaste enorme.
Concentre-se em apenas uma tarefa de cada vez. Por mais ágeis que sejam os seus quadros mentais, você se exaure.
Esqueça, de uma vez por todas, que você é imprescindível.
Peça ajuda, sempre que necessário, tendo o bom senso de pedi-la às pessoas certas.
Tente descobrir o prazer de fatos cotidianos como dormir, comer e tomar banho, sem achar que isso é pecado.
É preciso ter sempre alguém em quem se possa confiar. Conte seus problemas a ele.
Saiba a hora certa de sair de cena, de retirar-se do palco, de deixar a roda. Nunca perca o sentido.
Uma hora de intenso prazer substitui, com folga, três horas de sono perdido. O prazer recompõe mais que o sono. Logo, não perca as oportunidades de se divertir.
Por fim – entenda de uma vez por todas – definitiva e conclusivamente: você é o que fizer de si mesmo.
O QUE MAIS ME SURPREENDE…
é que as pessoas desejam crescer e, estando crescidas, querem ser crianças outra vez;
que agridam a saúde e depois gastem tudo o que têm para restaurá-la;
que vivam como se nunca fossem morrer e que morram como se nunca tivessem vivido;
que não aprendam que o mais valioso não é o que se tem na vida, mas quem se tem na vida;
que não entendam que só é preciso alguns segundos para abrir profundas feridas nas pessoas e muitos anos para curá-las;
que não tomem consciência de que duas pessoas podem olhar para a mesma coisa e vê-la totalmente diferente;
que não percebam que amigo verdadeiro é aquele que sabe tudo sobre nós e mesmo assim gosta da gente.
SEMEIE ALEGRIA
Seja um cara pra frente
Faça como a maior parte dos passarinhos: comece o dia cantando. A música é alimento para o espírito. Cante qualquer coisa, cante desafinado, mas cante! Cantar dilata os pulmões e abre a alma para tudo de bom que a vida oferece.
Ria da vida, ria dos problemas, ria de você mesmo. A gente começa a ser feliz quando é capaz de rir da gente mesmo. Ria das coisas boas que lhe acontecem, ria das besteiras que você já fez. Ria abertamente para que todos possam se contagiar com a sua alegria.
Não se deixe abater pelos problemas. Se você procurar se convencer de que está bem, vai acabar acreditando que realmente está, e quando menos perceber vai se sentir realmente bem. O bom e o mau humor são contagiantes. Se você estiver bem-humorado, as pessoas ao seu redor também ficarão e isso lhe dará mais força.
Leia coisas positivas, seja em forma de poesia, de romances, de contos ou crônicas, de mensagens; leia a Bíblia, histórias de amor, ou qualquer coisa que faça reavivar seus sentimentos mais puros. A boa leitura aumenta seu conhecimento, desvenda mistérios e lhe oferece um leque de opções para viver melhor neste mundo.
Pratique algum esporte. O peso da cabeça é muito grande e tem de ser contrabalançado com alguma coisa! Você certamente vai se sentir bem-disposto, mais animado, mais jovem. Alma sadia precisa de corpo sadio.
Encare suas obrigações com satisfação. É maravilhoso quando a gente gosta do que faz. Por isso, escolha um trabalho que goste de fazer. Tendo-o escolhido, mergulhe de cabeça! O que fizer, faça com amor, faça bem feito. Você pode até sair no prejuízo financeiro, mas verá que valeu a pena.
Não deixe escapar as oportunidades que a vida lhe oferece: elas não voltam! Não é você quem está passando, são as oportunidades. Poucas barreiras serão intransponíveis se você estiver disposto a lutar contra elas; se seus propósitos forem positivos e possíveis, nada poderá detê-lo.
Não deixe que seus problemas se acumulem, resolva-os logo. Fale, converse, explique, discuta, brigue: o que mata é o silêncio, o rancor, o medo, a tensão, a desistência, o desânimo, o adiamento. O que tem de ser, que seja logo.
Volte-se para as coisas puras, dedique-se à Natureza. Cultive o seu interior e ele extravasará pelos poros. Não desista nunca: faça. Você pode! Todos nós podemos. Então, vamos lá. Arranque aquele velho projeto do fundo do baú, agora.
Tenha sempre um motivo para desejar que o dia seguinte amanheça: visitar um amigo, adquirir alguma coisa, ler uma revista, cuidar de um passarinho, escrever uma carta, telefonar para alguém que está aniversariando, consertar a bicicleta, pescar mandi na beira do Tocantins… Não se acomode, pois como disse Tancredo Neves: “Para descansar temos a eternidade”.
RIR OU CHORAR?
A liberdade plena parece ser o único “presente de grego” que Deus nos deu.
Quantas vezes nossa fé é prejudicada pelos tantos infortúnios que acontecem no mundo! Roubos, assassinatos, drogas, guerras, traições… Foi Deus quem criou tudo isso? Não, não foi. O mal não existe por si; nós o criamos utilizando a liberdade plena que nos foi dada.
Ponha Deus no seu coração, ande conforme os conselhos de Jesus Cristo e jamais se sentará desesperado sobre uma pedra.
ONDE VOCÊ SE SITUA?
“Se pianti e se lacrime ancora inserra, è giovin la terra” – Se há pranto e lágrimas, ainda, a terra é jovem.” Do poeta italiano, Giacomo Zanella.
Se a população do mundo inteiro pudesse ser reduzida a uma vila de 100 pessoas, mantendo as proporções de todos os povos existentes no mundo, esta vila seria composta assim:
57 asiáticos
21 europeus
08 africanos
14 americanos.
52 seriam mulheres e 48 homens.
30 seriam brancos e 70 não brancos.
30 seriam cristãos e 70 não cristãos.
89 seriam heterossexuais e 11 homossexuais.
6 pessoas possuiriam 59% da riqueza: todas elas seriam norte-americanas.
80 viveriam em casas sem condições higiênicas.
70 seriam analfabetos.
50 seriam mal alimentados.
1 estaria a ponto de morrer.
1 estaria a ponto de nascer.
1 possuiria um computador.
1 teria título superior.
Sim, só um teria título superior.
Considerando-se o mundo por esta perspectiva, está clara a
necessidade de aceitar-se, compreender-se, tratar-se de forma humana, educada, respeitosa.
Considerem também isso:
Se você acordou hoje com mais saúde do que doença, você tem mais sorte que milhões de pessoas que não chegarão a ver a próxima semana.
Se você nunca passou pelos perigos de uma batalha, pela solidão da prisão, pela agonia da tortura, pelo desespero da fome, você é mais feliz que 500 milhões de habitantes deste mundo.
Se você puder ir para a igreja sem ter medo de ser ameaçado, preso, torturado ou morto, você tem mais sorte que três bilhões de pessoas no mundo.
Se você tem comida na geladeira, tem roupas, tem um teto sobre a cabeça, e um lugar para dormir, você é mais rico que 75% dos habitantes deste planeta.
Se você tem algum dinheiro no banco ou na carteira, e uns trocados no bolso, você se encontra entre os 8% de pessoas mais bem aquinhoadas do mundo.
Se os seus pais ainda estão vivos e casados, você é uma pessoa verdadeiramente rara.
Se pode ler esta mensagem, é uma pessoa de sorte, porque não está somado aos dois bilhões de pessoas que não aprenderam a ler.
PARA ALGUNS SERES ESPECIAIS
Madre Tereza de Calcutá
“Tenha sempre presente, que a pele se enruga, que o cabelo se torna branco, que os dias se convertem em anos, mas o mais importante não muda! Tua força interior e tuas convicções não têm idade. Teu espírito é o espanador de qualquer teia de aranha.
Atrás de cada linha de chegada há uma de partida.
Atrás de cada triunfo, há outro desafio.
Enquanto estiveres vivo, sinta-te vivo. Se sentes saudades do que fazias, torna a fazê-lo.
Não vivas de fotografias amareladas. Continua, apesar de todos esperarem que abandones.
Não deixes que se enferruje o ferro que há em você.
Faz com que em lugar de sentirem pena, te respeitem.
Quando pelos anos não conseguires correr, trota.
Quando não puderes trotar, caminha.
Quando não conseguires caminhar, usa bengala.
Mas nunca te detenhas!!!”
Na bandeirada final, aquele que não parou, que progrediu mesmo se arrastando, estará na frente de quem parou.
FÁCIL E DIFÍCIL
Fácil é falar quando se tem o dom da retórica; difícil é viver como se prega.
Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias; difícil é tentar ajudá-las.
Fácil é analisar a situação alheia e aconselhar; difícil é meter a mão na massa para resolver o problema de quem está no sufoco.
Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo lhe deixa irritado; difícil é perdoar e expressar o seu amor a quem o ofendeu.
Fácil é mentir para o mundo; difícil é convencer a consciência.
Fácil é ver o que queremos enxergar; difícil é convencer-se do que realmente se está vendo.
Fácil é dizer “oi”, ou “como vai?”; difícil é dizer “adeus”!
Fácil é abraçar, apertar a mão; difícil é segurá-la para sempre.
Fácil é perguntar o que deseja saber; difícil é ouvir a resposta com humildade.
Fácil é querer ser; difícil é ser.
Fácil é prometer; difícil é cumprir.
Fácil é ferir quem nos ama; difícil é curar essa ferida.
Fácil é ditar regras; difícil é segui-las.
Fácil é exibir a vitória; difícil é assumir a derrota.
Fácil é viver o presente; difícil é se desvencilhar do passado.
Fácil é estar rodeado de conhecidos; difícil é encontrar, no meio deles, um único amigo.
Fácil é orar, pedir conselhos a Deus todas as noites; difícil é seguir os conselhos que Ele dá.
NÃO PERCA SUA SERENIDADE
A raiva faz mal à saúde, o rancor estraga o fígado, a mágoa envenena o coração. Domine suas reações emotivas. Seja dono de si mesmo. Não jogue lenha no fogo de seu aborrecimento. Havendo desentendimento, dê um tempo e depois procure quem o magoou e converse com ele. É possível que ele esteja arrependido e esperando pela oportunidade de se retratar. Experimente, vale a pena.
Esforce-se para não ficar pensando em coisas desagradáveis. Não perca sua calma. Pense antes de falar; não ceda à sua primeira impulsividade. Há coisas que, de fato, precisam ser ditas ou feitas; faça isso somente depois de longos dias de reflexão. E que não seja por vingança e sim pela possibilidade de fazer com que seu irmão se transforme para melhor.
Disse William Shakespeare: “Guardar ressentimentos é como tomar veneno e esperar que outra pessoa morra”.
O SEGREDO DE VIVER MELHOR E DE SABER MAIS
É só deixar a preguiça de lado
Deve-se sempre lutar pelo melhor, isto é claro, notório e aconselhável. O que não se deve é querer que tudo seja de seu jeito. Além de não conseguir, ainda viverá azedo, mal-humorado, descontente, revoltado…
Outra coisa digna de se pensar é a atividade. Note que tudo o que fica parado, sem uso, mais rapidamente dá problemas. Se deixar uma casa fechada durante um ano, quando reabrir as portas, verá o estrago que o desuso causou; se tiver um carro com condicionador de ar, vidros eletrônicos, alarmes sofisticados etc. e não utilizar sempre tais recursos, com o tempo deixarão de funcionar.
O corpo enfraquece muito mais rapidamente se inativo, sedentário. A movimentação e a utilização causam, principalmente à mente, grandes benefícios. Nossa cabeça, quanto mais é usada, mais vigorosa fica. Cultura ocupa espaço sim, mas nosso cérebro tem lugar para todos os conhecimentos do mundo. O mais potente computador até hoje inventado não representa um milésimo de nossa capacidade cerebral.
DE GRÃO EM GRÃO
A mais longa caminhada só é possível passo a passo.
O maior livro do mundo foi escrito letra por letra.
Os milênios se sucedem segundo a segundo.
Os maiores rios se formam de pequenas nascentes.
A imponência do jequitibá e a grandeza da sequoia começaram, ambas, na simplicidade de minúsculas sementes.
Sem as gotas das chuvas, não haveria vendavais.
Um monumento surge de pequenos blocos sobrepostos.
As imensas dunas se formam de areia fina.
Com apenas sete notas musicais, trilhões de músicas diferentes são compostas e tocadas no mundo.
Também o mundo de paz, de harmonia e de amor com que tanto sonhamos só será construído a partir de pequenos gestos de compreensão, solidariedade, respeito, ternura, fraternidade, benevolência, indulgência e perdão. Não é fácil, não é rápido, mas vale a pena a gente contribuir com um tijolinho nessa construção.
UM CONSELHOZINHO
– Quando vocês discutirem, não deixem que seus corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta.
NOSSO TEMPO
Com jeitinho, sempre cabe mais um pouquinho
Nosso tempo é como um vidro cheio de pedras grandes. Não cabem mais pedras grandes, mas cabe muita areia fina. E quando não couber nem mais um grão de areia fina, experimente jogar água dentro: ficará abismado com a quantidade de água que ainda caberá.
DESCONTROLE
Principalmente quando estiver com raiva, pense duas vezes.
Num belo dia de sol, Mário, um velho caminhoneiro, chega em casa todo orgulhoso e chama sua esposa para ver o lindo caminhão que comprara depois de longos e árduos 20 anos de trabalho.
Ao entrar na garagem, encontra seu filhinho de seis anos martelando alegremente a lataria de seu reluzente caminhão. Irado e aos berros pergunta o que o filho está fazendo e, sem hesitar, completamente fora de si, martela impiedosamente as mãos do garoto que se põe a chorar desesperadamente sem entender o motivo da agressão.
A mulher do caminhoneiro correu em socorro do filho, mas pouco pôde fazer. Chorando junto ao menino ela consegue trazer o marido à realidade, e juntos levam o garoto ao hospital para cuidar dos ferimentos provocados.
Passadas várias horas de cirurgia, o médico desconsolado e bastante abatido chama os pais e informa que as dilacerações foram de tão grande extensão, que todos os dedos da criança tiveram de ser amputados. Porém, o menino era forte e resistira bem ao ato cirúrgico, devendo os pais aguardá-lo no quarto.
Ao acordar, o menino ainda sonolento olhou para suas mãos sem os dedos, esboçou um sorriso e disse ao pai:
– Papai, me desculpe. Eu só queria consertar seu caminhão, como você me ensinou outro dia. Não fique bravo comigo!
O pai, enternecido e profundamente arrependido, debruçou-se sobre o filho e disse que aquilo não tinha mais importância. Não estava bravo e sim arrependido de ter sido tão duro com ele e que a lataria do caminhão não tinha estragado. Então, o garoto com os olhos radiantes perguntou:
– Quer dizer que não está mais bravo comigo?
– É claro que não! – Respondeu o pai.
Ao que o menino pergunta:
– Se estou perdoado, papai, quando meus dedinhos vão nascer de novo?
Nos momentos de raiva cega, machucamos as pessoas que mais amamos e, muitas vezes, não podemos “sarar” a ferida que deixamos. Nessas horas, pare e pense a fim de evitar que os danos sejam irreversíveis. Não há nada pior que o irreversível.
JESUS E LÚCIFER
Negócio arriscado
Um dia Jesus interpelou Lúcifer para saber o que ele estava fazendo com as pessoas lá na Terra. Lúcifer respondeu:
– Estou me divertindo com elas! Ensino-as a fazerem bombas e a matar, a usarem revólveres, a odiarem umas às outras, a casarem e desrespeitar o casamento; ensino-as a abusarem de criancinhas, a usarem drogas, a beberem, enfim, a fazerem tudo o que não se deve!
Estou me divertindo muito com elas!
Jesus quis saber mais:
– E depois, o que você vai fazer com essas pessoas?
– Vou matá-las e jogá-las no inferno!
– Quanto você quer por elas, Lúcifer?
– É bom nem entrarmos em negociação. Você não vai querer essas pessoas! Elas são traiçoeiras, mentirosas, falsas, egoístas e avarentas! Não o amarão de verdade! Vão bater e cuspir no seu rosto, desprezá-lo. Nem vão levar em consideração o que você fizer!
– Quanto quer por elas, Lúcifer!? Insistiu Jesus.
– Quero toda a sua lágrima e todo o seu sangue.
MENSAGEM DO CHICO
Chico Xavier
Nasceste no lar que precisavas, vestiste o corpo físico que merecias, moras onde melhor Deus te proporcionou de acordo com teu adiantamento.
Possuis os recursos financeiros coerentes com as tuas necessidades, nem mais, nem menos, mas o justo para as tuas lutas terrenas.
Teu ambiente de trabalho é o que elegeste espontaneamente para a tua realização.
Teus parentes e amigos são as almas que atraíste com tua própria afinidade. Portanto, teu destino está constantemente sob teu controle.
Tu escolhes, recolhes, eleges, atrais, buscas, expulsas, modificas tudo aquilo que te rodeia a existência.
Teus pensamentos e vontades são a chave de teus atos e atitudes… são as fontes de atração e repulsão na tua jornada.
Não reclames nem te faças de vítima.
Antes de tudo, analisa e observa. A mudança está em tuas mãos.
Reprograma tua meta, busca o bem e viverás melhor.
Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.
VOCÊ SABIA QUE, NORMALMENTE…
Quando inveja alguém, é porque realmente gostaria de ser como a pessoa que inveja?
Aqueles que gastam tempo protegendo os outros são os que realmente precisam de proteção?
As três coisas mais difíceis de se dizer são: “Eu te amo, desculpe-me, ajude-me”?
Pessoas que oferecem companhia são aquelas que, na verdade, mais precisam dela?
Quando você ajuda alguém, a ajuda lhe é retornada em dobro?
Se você pedir algo possível e bom, com fé, seus desejos serão realizados?
Pois é, amigo!, é assim que é.
OUSE!
Autor desconhecido – lido por Ana Maria Braga
Conta uma antiga lenda que na idade média, um homem muito religioso foi injustamente acusado de ter assassinado uma mulher. O autor do crime era pessoa influente do reino e, por isso, desde o primeiro momento procurou-se um “bode expiatório” para inocentar o verdadeiro assassino.
O homem foi levado a julgamento e o resultado seria a forca. Ele sabia que tudo iria ser feito para condená-lo e que teria poucas chances de sair vivo daquele conluio. O juiz, que também estava combinado para levar o pobre homem à morte, simulou um julgamento justo, fazendo uma proposta ao acusado. Disse o juiz:
– Sou de uma profunda religiosidade e, por isso, vou deixar sua sorte nas mãos do senhor. Escreverei em um pedaço de papel a palavra inocente e no outro pedaço a palavra culpado. Você sorteará um dos papéis e aquele que sair será o veredicto. Assim, você mesmo decidirá seu destino.
Sem que o acusado percebesse, o juiz separou os dois papéis, mas em ambos escreveu culpado, de maneira que, naquele instante, não existia nenhuma chance de o acusado se livrar da forca. Não havia saída para o pobre homem.
O juiz colocou os dois papéis em uma mesa e mandou o acusado escolher um. O homem pensou alguns segundos e pressentindo o embuste aproximou-se confiante da mesa, pegou um dos papéis e rapidamente o colocou na boca e o engoliu. Os presentes ao julgamento reagiram surpresos e indignados com a atitude do homem.
– Mas o que você fez? E agora? Como vamos saber qual o veredicto?
– É muito fácil, respondeu o homem. Basta olhar o outro pedaço e saberemos que acabei engolindo o seu contrário, ou seja, a sorte que me caberá.
Imediatamente o homem foi libertado.
Por mais difícil que seja uma situação, não deixe de acreditar e de lutar até o último momento. Use a criatividade! Quando tudo parecer perdido, ouse!
SEJA UM IDIOTA
Arnaldo Jabor
A idiotice é vital para a felicidade
Gente chata essa que quer ser séria, profunda e visceral sempre. Putz! A vida já é um caos, por que fazermos dela, ainda por cima, um tratado? Deixe a seriedade para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores e afins. No dia a dia, pelo amor de Deus, seja idiota!
Ria dos próprios defeitos. E de quem acha defeitos em você. Ignore o que o boçal do seu chefe disse. Pense assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente, é ele. Pobre dele!
Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia… mas pela ausência de idiotice. Trate seu amor como seu melhor amigo, e pronto. Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselho pra tudo, soluções sensatas, mas não consegue rir quando tropeça?
Hahahahahahahahaha!…
Alguém que sabe resolver uma crise familiar, mas não tem a menor ideia de como preencher as horas livres de um fim de semana. Quanto tempo faz que você não vai ao cinema?
É bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas. E daí o que elas farão se já não têm por que se desesperar? Desaprenderam a brincar. Eu não quero alguém assim comigo. Você quer? Espero que não.
Tudo que é mais difícil é mais gostoso, mas… a realidade já é dura; piora se for densa. Dura, densa, e bem ruim. Brincar é legal. Entendeu?
Esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar besteira, não ser imaturo, não chorar, não andar descalço, não tomar chuva…
Pule corda! Adultos podem (e devem) contar piadas, passear no parque, rir alto e lamber a tampa do iogurte. Ser adulto não é perder os prazeres da vida – e esse é o único “não” realmente aceitável.
Teste a teoria. Uma semaninha, para começar. Veja e sinta as coisas como se elas fossem o que realmente são: passageiras. Acorde de manhã e decida entre duas coisas: ficar de mau humor e transmitir isso adiante ou sorrir… Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração!
Aliás, entregue os problemas nas mãos de Deus e que tal um cafezinho gostoso agora?
“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance e viva intensamente antes que a cortina se feche”.
TESTE INTERESSANTE
Ana Maria Braga
Quer fazer um teste interessante?
- Diga o nome das cinco pessoas mais ricas do mundo;
2) Diga o nome dos cinco últimos ganhadores do prêmio Nobel da Paz;
3) Agora, diga o nome das cinco últimas misses universo;
4) Dê agora o nome de 10 ganhadores de medalha de ouro nas Olimpíadas;
5) E, para terminar, os últimos 12 ganhadores do Oscar. Lembrou de algum? Difícil, não? E são pessoas famosas, não são anônimas, não! - O aplauso morre, prêmios envelhecem, grandes acontecimentos são esquecidos.
- Agora, tente esse outro teste:
- 1) Escreva o nome dos professores que você mais gostava;
2) Lembre de três amigos que ajudaram você em momentos difíceis;
3) Pense em cinco pessoas que lhe ensinaram alguma coisa valiosa;
4) Pense nas pessoas que fizeram você se sentir amado e especial;
5) Pense em cinco pessoas com quem você gosta de estar.
Mais fácil esse teste, né? Sabe o motivo? As pessoas que fazem diferença em nossas vidas não são as que têm mais credenciais, dinheiro ou prêmios. São as que se importam conosco! Você pode ser anônimo para o mundo, mas é uma pessoa especial para alguém.
PARA O MELHOR AMIGO, O MELHOR PEDAÇO
Adaptado de um texto do Pe. Enrico Galimberti
Serapião era um velho que perambulava pelas ruas da cidade. Ao seu lado, o fiel escudeiro: um vira-lata que atendia pelo nome de Malhado. Serapião não pedia dinheiro. Aceitava sempre um naco de pão, uma banana, um pedaço de bolo ou um prato feito com as sobras de comida de alguma família que acabava de almoçar. Quando suas roupas já não cobriam boa parte do corpo, alguém o socorria com uma muda em melhor estado.
Era conhecido como um homem bom que perdera boa parte da razão, a família, os amigos e até a identidade. Não bebia bebida alcoólica. Estava sempre tranquilo, mesmo quando não recebia nem um pouco de comida. Dizia sempre que Deus lhe daria um pouco na hora certa e, sempre na hora determinada por Deus, alguém o socorria. Serapião agradecia com reverência e rogava pela pessoa que o ajudava. Toda comida que ganhava era dividida com o Malhado.
Os dois não tinham lugar fixo para dormir: onde anoitecesse, ali dormiam. Se o tempo estivesse ameaçando chuvas, procuravam abrigo embaixo de pontes ou de marquises. Nessas noites o mendigo meditava, sempre com o olhar perdido no horizonte. Vi-o muitas vezes assim!
Aquela figura exótica e triste me deixava pensativo, pois eu não entendia aquela vida vegetativa, sem progresso, sem esperança, sem perspectiva.
Certo dia, com a desculpa de lhe oferecer umas bananas, fui bater um papo com o velho Serapião. Iniciei a conversa falando do Malhado. Perguntei pela idade dele. Serapião não sabia. Dizia não ter ideia, pois se encontraram certo dia quando ambos andavam desolados pelas ruas:
– Nossa amizade começou com um pedaço de pão. Ele parecia estar faminto e eu lhe ofereci um pouco do meu almoço. Ele agradeceu abanando o rabo. Daí pra frente não me largou mais. Ele me ajuda muito e eu retribuo essa ajuda sempre que posso.
Ainda mais curioso, perguntei:
– Como vocês se ajudam?
– Ele me vigia quando estou dormindo; ninguém pode chegar perto que ele late, arreganha os dentes e se for preciso, ataca. Também quando ele dorme, eu fico vigiando para que outros cachorros não o incomodem.
Continuando a conversa, especulei:
– Serapião, você tem algum desejo na vida?
– Sim, respondeu ele – tenho vontade de comer um cachorro-quente, daqueles que a Zezé vende ali na esquina.
– Só isso?
– É, no momento é só isso que eu desejo.
– Pois bem, vou satisfazer agora mesmo esse seu “grande” desejo.
Saí e comprei o tal cachorro-quente feito pela Zezé. Voltei e o entreguei a ele. Arregalou os olhos, deu um sorriso, agradeceu a dádiva e em seguida tirou a salsicha, deu para o Malhado e comeu o pão com os temperos. Não entendi aquele seu gesto, pois imaginava ser a salsicha o melhor pedaço. Não me contendo, mais uma vez perguntei intrigado:
– Por que você deu para o Malhado, logo a salsicha?
E ele respondeu:
– Para o melhor amigo, o melhor pedaço!
INDECISÃO?
Todas as vezes que estiver pensando em tomar uma atitude que atentará contra os princípios sociais, morais, religiosos…, experimente fazer-se a seguinte pergunta: “Que faria Jesus se estivesse em meu lugar?”
Somente aqueles que não conhecem a paz que se aninha no coração de quem anda direito, anda errado.
PARA SER O MELHOR
Quando lemos a vida de Rui Barbosa, Machado de Assis… Quando vemos pela televisão as jogadas criativas e incríveis levadas a efeito por Pelé, Garrincha, Zico… Quando nos falam da vida de Chico Xavier, da irmã Dulce, de Antônio F. Lisboa… Quando, depois de tanto tempo, ainda se derramam lágrimas pela morte de Ayrton Senna… Quando ficamos orgulhosos por nossas celebridades maiores, imaginamos que foi a graça de Deus que os fez sobrepujar outros tantos competidores.
Também acredito que sem a anuência de Deus, sem Seu veredicto proclamado nos céus no dia da geração da vida, nenhuma criatura chegaria a se destacar entre os milhões de concorrentes que existem em cada ramificação dos esportes, da cultura, da música, dos inventos, das artes e de tudo quanto o homem se digne realizar.
No entanto, jamais (e se apontarem um, é falso) houve um maior, um melhor, pela simples graça de Deus. Não é que Deus seja incapaz de fazer de um preguiçoso, um campeão. A verdade é que, embutida no contrato, vem a cláusula que exige a nossa força de vontade, a nossa coragem e a nossa determinação, tão necessárias quanto a graça de Deus. Como testemunhas temos grandes homens que desempenharam missões que embasbacaram o mundo, e que foram escolhidos entre pessoas simples, humildes e até deficientes.
Ninguém nasce sabendo tudo. É muito abrangente o provérbio que diz que o espinho nasce com a ponta. Deus dá a inteligência, mas não o conhecimento; dá a ginga, mas não os passos; dá os músculos sadios, mas não a velocidade e a força; dá o raciocínio rápido, mas não resolve os problemas; dá o caniço, mas não o peixe; dá a vocação, o tino, o dom, a perspicácia: dá o diamante bruto, mas não o burila para que brilhe por si.
É indispensável nosso consentimento e participação a cada minuto de nossas vidas, para que o dom de Deus atinja sua plenitude e o homem venha a ser o melhor em sua atividade. Isto custa muito esforço, horas de sono, anos de dedicação, abstinências, mortificações, estudos, disciplina, enfim, uma série completa de virtudes, tão custosas quanto a glória a que equivale: a de ser o melhor naquilo que faz, entre mil, milhões ou até bilhões de concorrentes – se enquadrarmos o homem no contexto mundial.
Durante os meus “muitos poucos anos”, conheci milhares de pessoas, tanto nos esportes como nas artes e no trabalho. Vi, no futebol, muitos Pelés serem Zés Pretinho; muitos Ruis Barbosa gritando pelas ruas: “Olha o jornal!”…; muitos Robertos Carlos, fazendo serestas, embriagados pelas ruelas escuras de minha vila; muitos grandes homens relegados ao anonimato por causa da pusilanimidade.
Eu notava neles a grande facilidade de tocar na bola, de dar o drible; de escreverem um lauda inteira e bem escrita, sem erguer a caneta do papel; de cantarem músicas de improviso, quase sem tropeço algum. Era fácil perceber que haviam nascido (cada um, respectivamente) com o dom para jogar futebol, ser escritor ou um exímio cantor. A graça de Deus era quase palpável, mas foi desconsiderada por causa do desleixo, da preguiça, da falta de coragem e da pouca força de vontade. Transformaram-se em mortais comuns.
Em rodas de amigos, hoje – depois de tantos anos – lembramos deles com pesar, pois seriam grandes e imortais homens, orgulho da Terra, não fosse a cachaça, as drogas, a vida airada e o pouco caso para com a graça de Deus.
Aquele que acompanha a evolução da história, percebe que, quando está escrito nos fastos do Eterno, só nossa preguiça pode impedir que a graça de Deus realize em nós, maravilhas. Por isso a Irmã Dulce – talvez a mais pobre e debilitada das baianas – propiciou mais bem-estar e conforto aos pobres e necessitados de Salvador, do que muitos milionários do mundo inteiro. Ela recebeu a semente, plantou-a, irrigou-a, cuidou dela e colheu seus frutos.
Qualquer um, quando tem vocação, pode se destacar. Não é preciso ser rico, ter patrocinadores…, é necessário apenas querer e lutar, ou seja, fazer sua parte. Não é por menos que temos grandes pintores sem os braços; grandes altruístas extremamente doentes e pobres; grandes campeões vindos dos guetos e das favelas; grandes alpinistas totalmente cegos; grandes homens em todo o mundo, passado e presente, que nos estontearam e estonteiam pela capacidade incrível de superar todas as dificuldades. O homem pode falhar com Deus, mas Ele jamais com os homens.
Gostaria muito que os adolescentes lessem e acreditassem nisso. Há entre eles, certamente, muitos Shakespeares, Einsteins, Freuds, Moisés, Spencers, Cíceros, Platões, Demóstenes, Da Vincis, Zicos, Ayrtons Senna, Daiane dos Santos, em suma, grandes cientistas, atletas, inventores, sábios, cirurgiões, artistas, atores…, anônimos portadores de dons presenteados por Deus e que vivem despercebidos entre nós por causa do medo de enfrentar as adversidades.
Não duvidem: quem quer uma coisa possível e honesta, e luta por ela, consegue. Quando se almeja algo assim, temos o aval de Deus, e com Ele, sem restrições, se fizermos a nossa parte, as coisas acontecem.