EU: UM PRONOME ANTIPÁTICO
A gente vai vivendo, vivendo, e se não passar pela vida apenas respirando, começa a notar, – principalmente nos outros – o que deve ou não ser feito ou dito. Foi assim que percebi o quanto é antipático o pronome EU em qualquer escrito ou conversa. Em minha terra, resolvi denominar meu time de futebol (embora composto totalmente por membros da família) de FREGONA F.C. Não precisei mais que isso para notar que o meu time era o menos simpático do campeonato. Para maior azar dos adversários… e da simpatia, dificilmente a gente perdia uma partida.
Mesmo assim tem gente que vive pronunciando seu próprio nome em cada frase que diz. Define o mundo através de si: “Eu era; eu fui; eu sou; se fosse eu…” Não se importa com o interlocutor. Considera-se uma estrela, em torno da qual todos os planetas devem girar. Tem uns que até cortam sua conversa pelo meio, dando mostras nítidas do quanto seus assuntos e problemas lhes “interessa”. Você sim tem o dever de ouvi-lo. Ele é o melhor, o único que interessa, que pensa, que sente, que sabe…. Em toda foto, ele está no meio; em toda crônica ele mesmo menciona, a estrita amizade com o “rei”. Existem muitos subterfúgios para tentar gloriar-se, mas nenhum deles sobrepõe a humildade nata, aquela que somente espera o reconhecimento de Deus.
Quando nada temos contra a pessoa, ainda dá para engolir; mas, se já não lhe somos muito simpáticos, “aí é o diabo”: fica duro de aturar. E para maior castigo, gente assim raramente fala pouco. Dificulta até a despedida. Ah! Tem mais: conta-nos, quase sempre, a mesma história. Dessas pessoas, quase todo mundo escapar. Apesar das precauções, por azar, esbarrar com elas numa esquina é muito comum.
Vocês já ouviram alguma entrevista envolvendo o Davi? Era comum, em trinta frases, ele repetir “o deputado Davi Alves Silva” em vinte e oito delas. Dizem que ele era muito esperto – e nesse particular até preciso concordar – porque nessas tais entrevistas, ele conseguia duas proezas ao mesmo tempo: fazer-se rei diante dos fãs incondicionais e interesseiros, e ainda massacrar aqueles que lhes eram contrários por ideologias política e moral.
Quem tiver esse mau costume e não admitir a antipatia que fomenta, experimente ouvir aqueles que têm a mesma maneira habitual de ser. Se ainda assim achar normal, continue falando de si, porque já é proverbial e milenar, a necessidade de uma exceção para provar a regra. Ainda não há tratamento para curar os dependentes do EU.
Há muitos conselhos contra esse enervante hábito: “Quem se exalta, será humilhado”; “Os primeiros serão os últimos”; “Todo aquele que propala seus feitos, já recebeu aqui na Terra, sua recompensa” …, e por aí afora. É claro que não se deve “colocar a lamparina debaixo da cama”, mas a luz, que mesmo escondida clareia, é a luz da humildade. Quem de fato merece e tem valor, não precisa apregoar-se. Dia menos dia, será reconhecido… sem antipatia.