Abaixo, apenas uma tentativa de expressar algumas ideias em forma de versos.

Saudade dos meus tempos de criança

Quando lembro meu torrão
de planície e de serra,
a saudade me abraça de morte,
então sigo como rês de corte
para o holocausto de pedra.

Curvo a cabeça sem lágrimas,
submisso e conformado,
viver já me é castigo,
fui expulso do paraíso,
sinto-me velho e apenado.

Quando do túmulo a “pedra tombar”
a vida surgirá de verdade
e no milagre dos céus
talvez os anjos de Deus
me devolvam a felicidade.

Das estrelas e planetas
serei errante peregrino,
pularei como criança,
agarrado à lembrança
de quando era menino.

A hora do adeus

Eu sinto a hora do adeus!
É chegada a hora
De despedir-me…
De ir embora.

O azul do céu  parece distante
A natureza perdeu o encanto
A chuva, os passarinhos…
Já não me são tão vibrantes
As revoadas cantantes
Que amei com tanto carinho.

A partida chega para todos
No soluço dorido
Segando o fio de vida
E sem apoio nem guarida
Parte-se para o desconhecido.

É chegada a hora!
Adeus mulher e filhos
Amigos e todos que ficam
Só espero que haja outro lado
Para que lá, irmanado
Eu possa reviver esta vida.

Não desista nunca!

Era imenso o deserto
Quase inalcançável o oásis
E vi você, tartaruguinha
Arrastando-se pela areia quente
Determinada e consciente
Em direção de sua vida.

O helicóptero passou por você
E o rastro na areia desapareceu
Horas depois baixamos no oásis
Ali o dia amanheceu.

Vários dias passamos ali
A gente ia à missão e retornava
E num domingo em que se descansava
Enquanto do oásis eu fitava o deserto
Percebi numa duna, um espectro:
Era a tartaruguinha que chegava.

Tudo passa

Relâmpagos, trovões!
Barulho de pingos
Caindo no telhado
Mostrando o outro lado
Dos dias cheios de luz.

A água escorre pelo chão
Os pássaros engurujam-se pelos galhos
Na enxurrada, a borboleta indefesa
Despida da realeza
Luta pela salvação.

Mas a torrente rigorosa
Arrasta tudo sem piedade
Parece os anos no corpo
Marcando, sulcando o rosto
Com as rugas da crueldade.

Enfim, do céu as nuvens se vão
E o sol volta a brilhar
Lembrando que tudo passa:
Bons tempos e borrascas
Nesse eterno caminhar.

Egoísmo cruel

O ganancioso não lembra
Que logo não estará mais aqui
Trabalha, mata, junta e briga
Comete injustiças, escraviza
Querendo o mundo todo pra si.

O que seria das riquezas
Se não afetassem o coração
No ouro haveria tropeço
Aos diamantes, desapego:
Tudo correria de mão em mão.

Mas assim não é!
Somos cegos a insistir
Estúpidos racionais
Que não entenderemos jamais
O prazer de dividir.

Amor de criança nunca se esquece

Queria ter a chance
De nascer outra vez
Ser criança novamente
E brincar plenamente
Sempre com você.

Seria eu na nova experiência
Ainda solteiro ou já casado?
Para saber eu precisaria
Em cada amanhecer
Retomar o meu cajado.

Estou certo de uma coisa:
Não iria mais perder a esperança
Reviver aquela acre frustração
De deixar escapar pelas mãos
A menina dos meus tempos de criança.

Amor e rejeição

O amor é o maior dos sentimentos
É a graça mãe da emoção
Mas, às vezes a perdemos
Diante da rejeição.

Jesus Cristo veio por amor
Foi crucificado no calvário de então
Apesar do que fez pela humanidade
Muitos Lhe tiveram rejeição.

Amor é vida quando se faz transplante
Ou do sangue se faz doação
Mas, às vezes, tudo se anula
A ausência de Deus se acumula
Diante da rejeição.

Ainda bem que o amor existe em tudo
E a rejeição poucas vezes acontece
É isto que move a humanidade
Quando com carinho e bondade
Diante do amor se enternece.

Apenas amigos

Fosse eu um jovem apaixonado
Vivendo os idos da emoção
Por certo não resistiria
E com todo carinho lhe falaria
Dos desejos de meu coração.

Mas sou apenas um velho
Espírito novo, corpo antigo
Amo todas as pessoas que posso
Confesso até com dor e remorso
Que quero ser apenas… amigo.

Não tenha medo de mim
Sua aura, poucos têm
É graciosa, é diferente…
Responsável e inteligente
Quero apenas o seu bem.


Dependente de você

Há dias em que a saudade bate forte
E a fraqueza atropela a razão
Então, num delírio impensado
Deixo tudo o que é certo de lado
E sigo os impulsos do meu coração.

Depois retorno feliz e sorridente
Do pecado redimido
Certo de que seus suspiros ofegantes
Sem disfarces, elegantes
Valem qualquer perigo.

E nessa guerra sem fim
Travada entre a moral e o prazer
Serei sempre o fraco soldado
Que de fuzil ou de cajado
Estarei lutando por você.

A esfinge

És fórmula para meus problemas
problemas que me enchem de tensão
tensão que me deixa em dilemas
dilemas para meu velho coração.

Irmã, amiga… mais que amiga e irmã.
Desapareces e ressurges em cada momento
és de minh’alma paz e tormento
deste tempo de esperança vã.

Ora és irmã, ora és mulher,
ora me estendes a mão,
ora as tira sem demora.
És esfinge que me diz:
me decifra ou te devoro.

Tens jeito de criança, malícia de pecadora:
entregas e tiras com a mesma temeridade.
És enigmática esfinge
que meu coração tinge
com a cor da felicidade.

Assim, brincando de poeta
diminuo a saudade
embaralho a emoção
buscando no coração
um pouco de cumplicidade.

Manoel Procópio

A retrospectiva traz
Índios, peixes, aves, animais…
Um rio, ora caudaloso, ora sereno
Trazendo um frei de nome Manoel
Mais destemido que um bravo coronel.
Para eternizar este terreno.

No rio Tocantins
Peixes pulavam nos remansos
Sem saber que uma semente
Já plantada se erguia
Ela seria o descalabro
À festança que se via.

Nela um navegador estranho
Médico de almas, doutor sem estetoscópio
Tendo Deus como norte
Fez sua parte até à morte
Saudoso frei Manoel Procópio.

De julho de 1852
Ao mesmo mês de 2002
150 anos se passaram!

E nós, geração presente
Relembramos a história
Do pioneiro do lugar
Que errando e acertando
Desta margem fez a glória.

Lugar nativo, paisagens naturais,
Matas debruçadas sobre o Tocantins
De aves várias e peixes brutais.

Aqui perdido e sem socorro
Procópio escapou por um triz
Mas viu, antes de partir para sempre
O renovo virente:
A vila de Imperatriz.

Que Deus perdoe suas fraquezas
E leve em conta seus sacrifícios
Que tantos benefícios
Plantou neste quinhão
Hoje grande e respeitado
Em todo o Maranhão.

Mulher

Às vezes marginalizada,
pisada, maltratada.
Vulgarizada, objeto…
Algo divino que se orienta pelo coração.

E os homens,
como nas savanas o leão,
orgulhoso de sua tutela
Não lembra que sem as “costelas”
morreria de solidão.

“Coisas” fantásticas
graciosas, atraentes
ontem, hoje e eternamente
que mesmo desdenhando
sempre queremos pra gente.

Mulher!

Sonho dos homens, tesouro dos filhos…
Nela o próprio Criador comovido
Fez de Maria uma delas
Para enviar para a Terra
Jesus Cristo, Seu próprio Filho.

Ao meu saudoso pai

Lembro dos teus braços fortes
Carregando desta vida a cruz
Ensinando-me o bom caminho
Falando-me de Jesus.

Ainda vejo teus músculos retesados
Manejando os instrumentos
Capinando tuas lavouras
Amassando o cimento.

Teu viver era exemplo
Uma constante lição
Como humilde agricultor
Cumprias tua missão.

Foste sempre pai estremado
Esposo, amigo e guardião
Mas o tempo malvado
Tirou-te a força das mãos.

Já não tinhas os braços fortes
Para sustentar os filhos teus
Apenas os elevava aos céus
Pedindo a proteção de Deus.

Deus, meu Deus! Proteja de agora em diante
Que me encontro velho e cansado
Estes meus filhos queridos
Que já não têm os meus braços fortes
Para defendê-los da morte
E de todos os perigos.

Pai, hoje dormes numa tumba fria
Aguardando com emoção.
Logo, logo estarei contigo
Por uns tempos também dormindo
Aguardando a ressurreição.

Meu pecado

Foram tantas as vezes que eu não podia
Mas o telefone tocava: “sou eu… preciso te ver!”
E de tudo o que havia de mais importante,
Nada o era mais que você.

Muitos anos se passaram assim!
A nosso favor, o mundo girando
Porque quando me convidava
Eu já estava chegando.

Em paixões como a nossa
Nunca há acordo firmado
Tudo começa com um telefonema,
E termina no prazer do pecado.

De mão em mão

Estranho: estou aqui!
Chove lá fora,
A campainha toca:
Gente como eu.

Não estou só,
No meio dessa incógnita,
Penso surpreso:
De onde vim, pra aonde estou indo?

Enquanto isso o mundo gira,
Do infinito, na amplidão,
Eu esqueço os mistérios,
Tomo-o em minhas mãos.

Rio, choro, penso, protesto…
Ele gira indiferente.
Meu mundo!…
Amanhã estaremos juntos,
Nas mãos de outras gentes.

Uma vida
Dedicado ao amigo Ulisses Braga, por ter trocado a presidência da “Sociedade Organizada”, pela política partidária.

Uma vida: tijolo a tijolo,
Setenta anos, talvez,
Construí um monumento,
Com bravura e altivez.

Cabelos brancos testemunham
Meu trabalho incansável,
Pelas ruas e pelo povo,
Firmeza inabalável.

E no tal segundo de fraqueza,
Que dizem todos possuir
Retirei as escoras de sustentação,
E vi meu castelo sucumbir.

Frustrado, olho os escombros,
Os amigos me olham desolados:
Retirei a sustentação,
Num momento impensado.

Hoje volto ao começo,
Setenta anos em vão!…
Não imaginei que um segundo,
Machucasse tanto o coração.

Gethsemani

Nasce o sol:
raios em açoite;
músculos cansados,
aproxima-se a noite.

Desce o véu, ribombam trovões.
Desponta a lua: o Homem falece.
A noite negra entra no seu peito.
Tudo o que fez pela humanidade
Volta à sua consciência.
E, então, numa quase dormência
Ele desfalece, morrendo sufocado.

Parta, Filho de Deus,
Porque tua lágrima é sangue
Derramado  pelos pecados da humanidade
Que cada gota se transforme em oração
E invada de Deus Pai, o coração
Matando nos homens toda maldade.

Às minhas filhas queridas

Um dedo só, letra por letra
Punho dolorido, dedos algemados
Buscando definir um sentimento
Que carrego aqui dentro
De dois entes amados.

Filhas, jamais irão entender
O que é amar sem dizer
Porque embora calado
Eu jamais morrerei
Enquanto não ver
Seus sonhos realizados.

Sri Lanka: sorriso e lágrima

Vendo a reportagem de um pai que, no Sri Lanka, vendia a filha por necessidade financeira extrema. A filha chorava desesperadamente:

Chora, menina, porque tua lágrima chega a Deus
Diante dessa decisão insana!
Que cada gota se transforme em oração
E encha Deus de emoção
Subtraindo a desigualdade humana.

Chora menina vendida: mostra no teu semblante,
Tua grande dor de filha negociada
Que tuas lágrimas comovam os mercadores
E que teus pais se encham de dores
Pela angústia em tua alma derramada.

Pronto, menina, Deus te ouviu. Teus pais não irão vender-te mais:

Agora sorri, menina criança
Mostre ao mundo que para ser feliz
Basta apenas ter uma tenda, pais e irmãos
Ainda que seja numa ilha em que falte o pão.

Obrigado pelas lágrimas e pelo sorriso
Que mostraram ao mundo as duas faces:
A da doce alegria e a do cruel castigo.

Que a humanidade aprenda, enfim
Que entre tantos crimes e matanças
Apenas resplandece e perdura
O imaculado sorriso das crianças.

Dia dos pais

Há muitos homens que põem filhos à luz
Depois os abandonam e pelo mundo saem.
São simples geradores de vida
Que jamais deviam ser chamados de pais.

Mas há outros que na labuta envelheceram
Para criar a família sadia
A esses dedico meus versos
Quando se comemora seu dia.

Acróstico à Talissa

Teus olhos claros e bonitos
Azuis como um céu enxaguado
Límpidos como nascentes de rochas
Íris dos arcos do sol
Singela és, como as lufadas do mar
Sonhas com a vida em cada arrebol
Almejas a felicidade alcançar.

Somos teus anjos-da-guarda
Ingla, Anderson: teus pais
Lutaremos; de tua felicidade
Vamos sempre correr atrás
Até que um dia, com a vontade de Deus…

Faremos tudo acontecer
Riremos do passado triste
E das pirraças do anoitecer
Guardaremos doces lembranças!
Ouviremos sempre teu dolente choro
Nos chamando cheia de esperanças
Amor nosso: de olhos azuis e tranças de ouro.

Egoísmo cruel

Nem sempre a esperança
É a última que morre!
Depois dos setenta
Ela quase já não se aguenta
A vida se torna um porre.

Já não servimos pra nada
A visão enturvece
A memória padece
Viramos estorvo
Chacota da meninada.

Para comprovar o que digo
Basta policiar-se ao almoçar
Um carocinho de arroz
No cantinho da boca, atroz
É prova que o tempo chegou.

Aí, só resta ser palhaço
Vingança de avós contida
É a vida dando o troco
Para que conheçamos um pouco
O triste jogo da vida

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Em abril de 2018, Marilândia – ES – minha Terra Natal – resolveu homenagear dois de seus filhos que, segundo a Secretaria de Educação, mais se destacaram. Na política, foi chamado o senador e ex-governador do estado, Gerson Camata; na Literatura, o escritor Livaldo Fregona. Nesse dia fiz o lançamento de meu décimo oitavo livro: Marilândia – vale de sonhos e lágrimas e aceitei dar uma palestra improvisada. Desejando ver e ouvir o que se passou naquela noite, clique no link abaixo: