Explicando o vídeo:

Há muitas coisas que escandalizam algumas pessoas, mas que são inteiramente normais a outras, porque, tanto o conhecimento, como o discernimento são ferramentas indispensáveis a um justo juízo. A esses tipos de infratores, só Deus pode apenar ou perdoar.
Nasci caçador. Ainda menino, não tirava o embornal de pelotas do tiracolo e, quando cresci, troquei o estilingue pela espingarda. Cacei inhambus por quase todo o Brasil, durante uns 20 anos. Só caçava inhambus. Animais de pelo nunca me atraíram.
Durante quase duas décadas eu dividi a semana entre o trabalho e as matas. Tive como professor o Adalho, mano mais velho. Aprendi com ele tudo sobre como e quando piar para localizar e atrair um inhambu a meus pés.
A consciência do mal que eu fazia aos inhambus só me ocorreu muito tempo depois. Aí parei de matá-los, mas, jamais, de conviver com eles. Vendi a espingarda, mas bolei armadilhas para capturá-los e depois criá-los em cativeiro.
Por isso, certa vez, quando disse ao saudoso cientista Werner C. A. Bokerman, que eu conseguia capturar até oito espécimes por dia, ele duvidou. Duvidou e saiu do zoológico de São Paulo e veio a Linhares – ES, onde eu residia à época, para constatar. Saiu convencido.
Pois bem, o vídeo que irá assistir, para mim, é algo simples e comum. Ele foi feito às margens do rio Uruará, a 100 km da Transamazônica, no ano de 1997. Na verdade, consegui entender os Tinamídeos, como Cesar Millan, os cães; aprendi atraí-los à choça e fazê-los pisar no lacinho: artifício que levei longos e trabalhosos anos para aperfeiçoar. O lacinho é algo fantástico, porque não machuca, nem traumatiza a ave, não pesa cinco gramas e se colocar 10 na palma da mão, ainda sobrará espaço.
Se alguém disser a algum caçador, ou pessoa que gosta da Natureza, que alguém entra na mata e apanha, vivo e sem traumas, um arisco e desconfiado Tínamus tao (azulona ou tona), certamente será objeto de chacotas. Para mim, pouca coisa há mais simples, principalmente quando a ave está no período de reprodução.
Infelizmente, o vídeo foi editado e adaptado à nossa realidade digital (que apesar dos vislumbres, ainda se encontra na Idade da Pedra Lascada), mas dará ideia de como tudo funciona. Para o arquivo não ficar excessivamente pesado, cortei mais de 90% dele.
O habitat de uma ave é limitado, mas eu dificilmente me engano sobre a trilha em que ela, vindo à choça, irá passar. Ali, sob as folhas, ao lado do meu esconderijo, eu armo uns dois ou três lacinhos. A chance que tenho do atraído passar num dos locais preestabelecidos é de 90%.
Como gosto de fazer tudo sozinho (choça, piar, armar os laços, filmar…) as coisas ficam amadoras demais, mas dá para entender. Hoje, não crio mais aves: apanho-as pela dependência de estar no mato, perto delas, mas as solto em seguida. As aves de meu criadouro foram cedidas a um amigo que tentou registrá-las. Fiquei com o “Fernandinho” e mais quatro outras espécies das quais ainda preciso tirar algumas dúvidas, pois estou escrevendo o que aprendi e sei sobre algumas espécies de Tinamídeos brasileiros. Oral e provisoriamente, o IBAMA concordou.
A seguir, dê uma olhadinha no vídeo.