MISTÉRIO, COINCIDÊNCIA OU MILAGRE?
Livaldo Fregona
” Deus é Pai de todas as coisas. Suas criaturas são irmãos e irmãs.” Santo Antônio de Pádua.
Neste Natal de 2009 eu completei 70 anos e vinte e nove dias de vida, já que nasci no dia 26 de novembro de 1939. E todo este tempo eu quis acreditar na existência da vida após a morte, embora nunca tivesse conseguido plenamente. Durante o tempo em que tive consciência de mim, procurei, incansavelmente, obter uma prova contundente, algo que me desse segurança em relação ao porvir. Foram mais de 50 anos pedindo, esperando!
E, às 12 horas do dia 26 de dezembro de 2010, um dia após o Natal de 2009, ao menos para mim, esse dia chegou.
Sempre gostei de criar inhambus e estava, nesse dia, com um filhote de Tinamus Tao (foto acima), vulgarmente conhecido aqui na região por azulona, já com 16 dias de vida. O filhote vivia pela casa, sempre atrás de mim. Se o perdia de vista, eu chororocava e o bichinho vinha correndo, às vezes, dando vôos rasantes, o que indicava que podia exagerar, passar por cima do muro e perder-se. Chamei minha filha e, juntos, cortamos as aletas maiores de uma das asas dele, responsáveis pelo vôo.
Mas, nesse dia 26, sábado, às 12 horas, o bichinho desapareceu. Procuramos por todos os lugares possíveis. Andei o tempo todo chororocando, pela casa e quintal, pois ele sempre vinha correndo aos meus pés, quando eu assim o chamava, porque era compensado com algum inseto ou com minhocas que eu cavoucava no fundo do quintal, mas ele não apareceu.
As 15h30min, eu e minha mulher fomos caminhar numa pista, ao lado do aeroporto. Durante todo o exercício, o assunto conversado não foi outro: o que teria acontecido ao filhote. Um gavião de cidade, sorrateiro? Teria sido roubado? Alguém pisara em cima e o escondera para evitar repreensão?…
Retornamos da caminhada às 18h. O sol já se pusera no ocaso e a noite vinha chegando levemente. Pela última vez saí pelo quintal, chororocando, chamando (ele me atendia pelo nome de “Cuquinho”, uma síncope de macuquinho.
E, naquele momento, uma saudade muita forte do bichinho me bateu aqui no peito e, então, eu liguei para minha amiga Kássya, devota de Santo Antônio de Pádua, em quem acredita com fé inabalável. Ela sempre me falava dele, emprestou-me o livro que trata da biografia do santo e disse que jamais a Terra viu um santo mais milagreiro, considerado o santo de todos e para tudo. Num impulso, liguei pra ela e pedi que reforçasse meu pedido a ele, já que minha fé seria insuficiente para que ele me atendesse.
Desligado o telefone, bastante emocionado, eu continuei lembrando Santo Antônio, pedindo a ele que fizesse meu bichinho aparecer. Ele podia estar morto, mas argumentei que, para Deus, nada é impossível. Nisso, correu-me pelo corpo um arrepio que jamais eu sentira na vida e me pareceu que, embora invisível, o frade agostiniano/franciscano estava ali, perto de mim.
Um macuquinho é apenas um bichinho! Ao pensar nisso, imaginei que estaria sendo inconveniente. Afinal, teria o santo tempo disponível para compartilhar de coisas tão aparentemente pequenas?
Minha filha mais nova estava na sala, juntamente com o namorado, assistindo a um filme na TV. Ambos sempre foram muito incrédulos e também haviam me ajudado, durante toda a tarde, a procurar o filhote. Nesse momento, ela estava de pé, frente ao namorado sentado na poltrona, procurando um DVD que pretendiam assistir após o filme.
De repente, vindo não se sabe de onde, o filhote baixou num curto rasante, no meio dos dois.
Eu me encontrava no quintal, ainda sentindo a mais estranha sensação que já senti na vida. Foi quando, num grito de espanto, minha filha e o namorado dela chamaram por mim, dizendo que o bichinho, vindo do nada, pousou entre eles. Vieram com ele nas mãos e mo entregaram.
Apesar de meus 70 anos, vendo tantas coisas estranhas acontecerem, não consegui falar. As palavras não saíam e tão logo se retiraram, chorei em soluços.
Pedi e esperei uma vida inteira, e quando em muitos, nem a esperança mais vinga, recebi a graça de não mais duvidar de que Deus existe, está presente e pronto a atender até bobagens que lho pedimos. De fato, ele é Pai. Agora não tenho mais qualquer dúvida: Deus existe e Santo Antônio de Pádua é um dos maiores amigos de Jesus. Obrigado, meu Deus! De fato, o Senhor não brincou quando nos orientou a pedir, pedir sempre, porque um dia seremos ouvido. Obrigado. Muito obrigado.
Digam e pensem o que quiserem, mas, para mim, o, agora, Fernandinho, foi o maior presente que já recebi nos natais de minha vida.
Fernandinho é em homenagem ao nome de batismo de Santo Antônio.