Não chores, não te desesperes, não fiques triste e abatido. Quando esgotares os recursos humanos, apela para Deus. Se o fizeres com fé, verás coisas que a ciência jamais explicará. Sentirás, mesmo na miséria e no sofrimento, a felicidade indizível daqueles que sempre aceitaram os desígnios de Deus. Não chores, não te desesperes, não fiques triste e abatido: tu tens a Deus como patrimônio, tu és o homem mais rico deste mundo.
ABISMOS é uma obra prenhe de reveses, de suspenses e de mensagens. Há nele muita história e muitos recados. Aborda a vida dos personagens, dando a cada um, um sentido singular, uma função específica, uma têmpera especial, conforme suas vicissitudes e inclinações.
Como em “MENINO DA ROÇA“, o autor mistura fatos, pessoas, datas e lugares reais, com outros tantos de sua imaginação, oferecendo com essa miscigenação, uma mensagem de fé e de esperança para as pessoas tristes e desiludidas, e mantendo intactas a boa imagem daqueles que guardam suas fraquezas no âmago de seus segredos inconfessáveis.
Não fugindo a seu estilo e forma anteriores, o autor procura traduzir a linguagem das pessoas incultas, mantendo o pensamento e a cultura, sem prejudicar a roupagem da beleza literária.
Nele, letrados e iletrados, crianças e sábios, discutem, defendem e argumentam com a mesma fluidez e retórica, demonstrando que todo ser humano é igualmente inteligente e que somente o dom da retórica os faz parecer diferentes. O autor raspa os solecismos, arruma a sintaxe dos que não tiveram a oportunidade de estudar, apresentando os pensamentos deles no mesmo nível cultural dos que estudaram, não com a intenção de achincalhar a cultura do povo, mas sim de enaltecê-la em níveis de igualdade e respeito.
É um romance que atrai, que ensina, que mostra a força da fé e da esperança e que, finalmente, nos incita a acreditar que além, depois de tudo, existe um ser superior sempre atento e disposto a estender as mãos aos que querem, acreditam e lutam por aquilo que almejam. Ética editora
Capítulo 40 – página 262
Cinquenta e cinco anos. Já não havia brilho nos seus olhos. O martírio lento, mas constante dos últimos meses a envelhecera cem anos. Recurvada, triste e mais cheia de incertezas do que um ponto de interrogação, ela vivia rejeitada pelas ruas. Há muito já não perguntava pelo filho: todos a consideravam uma demente, uma velha indigente, solitária em seus infortúnios. Sob as sacadas, ao relento, nas sarjetas… onde a noite a flagrasse, aí seria seu leito. Suas vistas cansadas fitavam as estrelas que numa noite tiveram sido tão lindas e cintilantes. Suas narinas já não sentiam o perfume das flores e seu coração relutava em prolongar aquela dolorosa agonia.
Quantas vezes, dos seus olhos, a lembrança de crianças alegres lhe roubava lágrimas. Quanto ensinara, quanto vivera! Antes, a poesia da vida, com graça nos rios, nos cantos alegres dos pássaros, na esperança de um amor platônico, no desabrochar de uma flor… Tudo lhe fora motivo de felicidade na calada oração de agradecimento por ter nascido. Agora, a poesia virava a folha, só falava do fim, da desesperança, da fome, da miséria extrema. Seu Deus parecia tê-la abandonado: era mentira que Ele conhecia o número de seus cabelos, a dor de seu estômago e o desespero de sua solidão.
Ergue meio corpo da calçada. A barriga ronca de fome, os ossos doem de tempo e de desconforto. Assentada sobre as pernas, ela olha o povo num vaivém mirabolante. Um ancião passa e deixa alguns centavos próximo a ela. Apanha-os. Já não há agradecimento a quem prolongue seus sofrimentos. Sustém-se custosamente, apoia-se num cajado e a passos incertos ganha a rua.
Um caro a tolhe. Ela rola sobre o capô, arrebenta o para-brisas e cai desmaiada e exangue no colo do motorista. O carro se desgoverna, bate contra um muro e para definitivamente. Gente próxima acorre curiosa, enquanto o motorista abre a porta e sai com a velha nos braços como se fosse um deus mitológico. Estava lívido, assustado, cheio de temor.
– Um outro carro, pelo amor de Deus! – Fala ele desconcertado.
– Não se preocupe – retruca uma voz – esta velha é maluca mesmo. Vive pelas ruas procurando por filho que não existe. Pode ficar tranquilo que isto não vai dar em nada.
Neandro olhou rápido para o interlocutor. Mesmo em meio da confusão não deixou de fulminar o homem com seu olhar de revolta. Logo em seguida um voluntário parou seu carro e ele entrou com a velhinha nos braços, seguindo para o hospital mais próximo. O médico de plantão examinou-a rapidamente:
– Acho que foi fatal.
Neandro coçou a nuca demonstrando visível sinal de desespero.
………
Ela o fitava. Devagarzinho, os olhos foram esmaecendo, sempre cravados nos de Neandro. Os lábios, atingidos por um leve tremor de choro, foram se tornando lívidos. Quando seu corpo quietou em sono para sempre, ainda uma lágrima escorreu pelo rosto morno. Procurou a vida inteira pelo filho. Encontrá-lo era tudo o que pedia a Deus. Sem que o soubesse, morreu nos braços dele.
“Quando Deus a lançou como uma pedra, na superfície calma da vida, ela a perturbou com incontáveis círculos. Agora, porém, a pedra estava no fundo e a superfície da água voltava a estar calma e tranquila.”
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