AO CLARO DA LAMPARINA
Esclareço que o livro contém muitas fotos com textos elucidativos, que aqui não constam.
Cena 1
Lá, num cantinho da posse de Antônio e Maria, numa pequena abertura da mata – toda feita a golpes de machado, foice e facão – uma criança de quatro anos sobrevivia perigosamente, subindo e pulando sobre os troncos crestados, caçando calangos e lagartixas com estilingue, armando arapucas, sempre cheio de arranhões, hematomas, frieira, olhos e nariz vermelhos e inflamados. Nesse tempo, a maior dificuldade de qualquer colono era queimar as derrubadas, porque chovia quase todos os dias e, mesmo árvores cortadas há muito tempo, não pegavam fogo; pelo contrário, germinavam brotos em toda a haste. O menino nunca pensara que sua vida pudesse ser diferente.
Como todo bichinho com vida, também ele buscava comida e diversão naquele ambiente hostil. Seu estômago comandava as ações, enquanto seus olhos mostravam a direção para conseguir seu intento. Crianças para brincar, não havia, a não ser a mais de cinco quilômetros de distância: lugar em que residia um posseiro recém-chegado, pai de uma linda menina com a mesma idade que ele. Mesmo assim, para chegar lá haveria de seguir por trilhas perigosas dentro da Mata Atlântica, totalmente não aconselhável a qualquer criança desacompanhada. Não conhecia carro, televisão, rádio…. O avanço tecnológico ainda não se tornara realidade, nem para ele, nem lá por aquelas bandas. Nunca lhe passou pela cabeça, perguntar a razão de estar ali, sozinho, naquele mundo inóspito. Nem os pais, nem ele, jamais ouviram falar de cuidados, de doenças, enfim, de tudo o que hoje é comum às crianças. Qualquer um dos familiares, quando se machucava – depois de um ramerrão de palavrões – recorria à água com sal, bastante sumo de arnica e tempo que fosse necessário para que o ferimento sarasse, segundo a autodefesa do próprio organismo.
Como lugar machucado é sempre aquele que esbarra em tudo, por algum tempo as imprecações eram ouvidas, até que, já não doendo tanto, iam sendo esquecidas. Infecções graves ainda não existiam no pequeno mundo do menino, porque ninguém infectado ainda passara por aquelas plagas para semear vírus e bactérias resistentes. Ele foi registrado com o nome de Sinval – nome sugerido pelo tabelião da cidade mais próxima – porque seu pai compareceu para registrá-lo, sem qualquer opção ou preferência de nome. Mais tarde, quando foi matriculado na escola, corrigiram para Sinvaldo e, finalmente, para Livaldo. Na verdade, ele só foi saber que se chamava Livaldo no dia de sua matrícula, quando já contava com 10 anos. Até então – e mesmo por muitos anos de sua vida – sempre atendia pelo apelido de Alemão, ainda que fosse de origem italiana.
Cena 2
Tão logo surgiu a primeira escola e ele aprendeu a ler – sem jamais saber explicar as razões – Alemão começou, quase doentia e misteriosamente, a se interessar pelos livros. No quarto em que dormia, bem no cantinho esquerdo de sua cama, havia um amontoado de revistinhas, de folhas soltas e até de alguns livros que alguém havia jogado fora. Quando um livro apresentava a fotografia do autor, ele ficava alucinado, fazendo conjecturas sobre aquele homem que conseguia escrever livros. Não devia ser um homem comum: talvez um anjo de Deus… ou do diabo. Um dia, ele leu sobre um escritor que digitava suas ideias numa máquina de datilografia, e que mantinha ao lado da mesinha, dezenas de folhas de papel amassadas e jogadas ao chão. Eram capítulos ou parágrafos que, mesmo depois de prontos, não eram aprovados. Ao lado da máquina, sempre um pires cheio de bitucas e um copo de bebida alcoólica: isto não podia faltar a quem escrevesse.
E tome sonhar! Nenhuma palavra que desconhecesse o sentido podia passar em branco. Buscava o significado, lia e relia até decorar. Normalmente, dez palavras por dia eram aprendidas. Escrevendo, ele procurava sempre embutir as palavras que aprendera e, também, inserir algumas frases bonitas de livros que lera. Isto seria importante a quem lesse o que iria escrever. Afinal, ele iria ser escritor, e escritor haveria de escrever difícil, ainda que fosse plagiando. Ansioso de nascença, logo Alemão quis imitar – mesmo não entendendo nada de livros nem de Língua Portuguesa. O importante, no entanto, era ele amassar folhas e jogá-las pelo chão e, de quando em vez, tomar um gole de café com leite. O tempo foi passando, passando…. Como era o único homem da sala de aula e também o único a continuar os estudos, Alemão mudou-se com os pais para Colatina, para prosseguir seus estudos. Mas, seus pais eram pobres e ele logo procurou trabalhar, a fim de sustentar-se. O tempo coincidiu com a obrigação de servir ao exército e então, Alemão dividiu seus sonhos entre os livros, o Tiro de Guerra, o futebol e o trabalho. Claro que isto lhe roubou o natural caminho que é comum a todo jovem nessa idade: namorar.
Você poderá solicitar qualquer um dos meus 22 livros lançados, ao preço de cem reais cada um, em qualquer parte do Brasil que você esteja residindo e que haja agência dos correios, a partir do dia 30 de novembro de 2024, sem qualquer outra despesa. A coleção completa chegará às suas mãos por dois mil reais. No momento há alguns livros esgotados e em fase de reedição na editora. Sobre qualquer interesse informe-se pelo e-mail: livaldo@jupiter.com.br Havendo confirmação, utilize o
PIX 69026122268 – Kizy Fregona Nogueira