CONTOS foi minha primeira experiência como escritor. Quando criança eu achava que escrever um livro era o sonho realizado de raros agraciados pelo dom de Deus. Nesse tempo eu vivia pelas capoeiras do pequeno pedaço de terra de meus pais, perseguindo passarinhos de bando, sem tirar da cabeça a ideia fixa de um dia escrever e editar um livro. Vivia copiando frases que achava bonitas e criativas e não me cansava de escrever tudo o que acontecia ao meu redor. Foi assim que acabei juntando muitas histórias acontecidas neste meu primeiro livro. Um ou outro conto, era enviado ao protagonista, que elogiava exageradamente. Comecei a acreditar:
O DIA EM QUE MINHA MÃE TENTOU MATAR MEU PAI
Pág. 101
Meu pai foi caçador; meus irmãos foram caçadores; eu fui caçador: o mais fanático de todos. Não faz muito que, envergonhado, joguei no lixo os tristes troféus de melhor caçador em todas as incursões pelo Brasil.
Um dia, meu mano mais velho, numa de suas caçadas, achou numa sapopemba, seis verdes e lindos ovos de macuca. Trouxe-os e os presenteou a meu pai. Postos sob uma galinha choca, onze dias depois nasceram, dando sinais incontestáveis de que todos estavam galados.
Exatamente naquele dia começou a “via crúcis” de meu pai. O dia todo a gente podia vê-lo pelo fundo do quintal como se fosse uma dedicada choca, revirando paus podres atrás de grilos, ou cavoucando lugares úmidos em busca de minhocas e vermes. Com os seis filhotinhos entre as pernas, meu velho era todo cuidado, a fim de não esmagar um num momento de distração.
Se alguém se aproximasse, logo alertava: “Cuidado com meus macuquinhos!” Quando ficaram maiores, quando começaram as primeiras tentativas de voar para os poleiros, meu pai tratou logo de construir um viveiro, onde eles pudessem viver sem o risco de voar e se perder.
Só Deus poderia explicar o carinho e o amor que meu pai nutria pelas aves! Às vezes não viajava porque precisava tratar os bichinhos; às vezes levantava em madrugadas tempestivas e ia verificar se seus passarinhos estavam bem.
No paiol ele guardava a ração corriqueira: milho, amendoim, arroz em casca, grãos diversos…
Um dia, minha mãe resolveu dar “uma geral” na tulha e achou por bem arrumar a comida dos passarinhos dentro de uma velha caixa, cuja tampa era improvisada com pedaços de tábuas soltas.
A gata do vizinho que se encontrava gestante, no apuro de uma noite gelada, achou o diabo da caixa e nela entrou para o trabalho de parto.
No outro dia bem cedo, não encontrando a ração no lugar costumeiro, meu velho estrilou:
– Mariola – era como ele chamava minha mãe – onde você escondeu a comida dos meus macuquinhos?
– Na caixa – respondeu laconicamente.
Cabisbaixo, meu pai voltou ao paiol. Abriu a tramela e, sem pestanejar, foi enfiando a mão dentro da indicada caixa. A gata que ainda lambia os filhotes recém-nascidos, reagiu peremptoriamente, enfiando as afiadas unhas no objeto que ousava invadir seu sacrossanto lar.
Ato contínuo, eu chegava da padaria. Ao vê-lo lívido, trêmulo e respirando em golfadas, acorri temeroso:
– Pai, pai, que aconteceu? O senhor está passando mal? Que aconteceu? Fale, pelo amor de Deus!
Escorando-se com as mãos no corrimão de uma escada de apenas três degraus, ele sentou-se num deles, apoiou a mão direita na testa, e falou entre os dentes:
– So mare, fiol, so mare! A tanti ani lei vuoi coparme e giorno, quasi ottoneri. (Sua mãe, filho, sua mãe! Há muitos anos ela tenta me matar e hoje quase conseguiu).
O que em seu desabafo de espinhado italiano meu pai dizia que, por causa das ranhetices ou corriqueiras discussões do dia a dia, minha mãe havia feito aquilo premeditadamente.
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