JABINO, o predestinado.

Este é um trabalho que envolve, embora superficialmente, os fenômenos da predestinação, da função humana de cada homem neste mundo segundo os desígnios de Deus para cada criatura. Nele vamos encontrar justificativa para muita coisa errada e também nosso potencial inato, capaz de demover do mau caminho, o mais ferrenho e inveterado dos mortais.

Especula a mente humana, demonstra suas falhas, suas fraquezas e sobretudo, o valor intrínseco da força de vontade. É, a bem da verdade, um livro prenhe de fatos estranhos, todos baseados em fenômenos imaginários, mas, possíveis.

Não há neste trabalho, qualquer pretensão teológica ou filosófica, nem tão pouco a preocupação quanto a datas, lugares ou personagens. O autor divagou como se estivesse rabiscando ideias num sábado chuvoso. O objetivo foi provocar e ao mesmo tempo dar vazão à grande necessidade transcendental do leitor.

Vai direto ao assunto, narra os acontecimentos mais importantes e faz emergir, sem rodeios, o mundo inexpugnável e misterioso dos personagens. No fim, tudo se encaixa e fecha, como numa escrita contábil organizada.

Escrito num período de grande instabilidade espiritual, JABINO retrata a própria angústia do autor. Num tempo em que os seres humanos parecem confiar mais nas coincidências, no destino ou acaso, ele vem fundamentar e lembrar que sob o véu da obscuridade, sempre há uma força maior norteando os passos dos homens. Tenta mostrar que a esperança deve sempre existir enquanto o homem estiver vivo, não se importando que esteja chafurdado em erros e vícios.

Na parte íntima, na solidão de nós mesmos, somos todos iguais, principalmente em relação às inclinações e desejos da carne. Os desejos que envolvem um homem e uma mulher, independem de nós e estamos sempre sujeitos a tais reações, embora, ajudados pela força de vontade e pela graça de Deus, possamos sufocar ou mesmo extirpar aquelas que ferem os princípios morais e religiosos.

Capítulo 13 – pág. 101

O caminhão zuiu o velho motor com os silenciosos danificados e desapareceu na primeira esquina. Havia por sobre o mar, manchas avermelhadas de sol. Os primeiros pardais já cruzavam as ruas em busca das migalhas dos desjejuns. Um velho capenga, de bengala na mão, cruzava a praça rumo à padaria. Ouvia-se também guizos de gargantas a pigarrear e o ranger de portas e janelas que se abriam. Era o dia que amanhecia para alegria e tortura de muita gente.

Tomás permanecia petrificado na calçada, como a mulher de Lot no deslumbramento de Sodoma em chamas. Como se fosse um alto mar em trevas, a cidade não tinha lugar algum a sugerir-lhe. Seu coração sentiu as agruras da vida, e ele chorou sem trejeito, deixando apenas as tépidas gotas descerem pela face morena. O vento que vinha do mar, arrefecia o calor que lhe vagava pelo rosto.

Começou a caminhar, vagar sem destino, à deriva de seus rumos incertos. Andava e andava, olhava sem ver – uma criança: apenas um menino sem lar, regido pelo instinto de viver a qualquer custo. As horas foram passando, o estômago doendo. Numa lanchonete, muitas pessoas fartavam-se, riam e conversavam, sem se dar contar da triste realidade que as circundava. Por baixo das cadeiras, um vira-latas recolhia as migalhas de pastéis: Tomás invejou-o. Ficou olhando as pessoas a comerem e a beberem. Podia pedir (talvez alguém se apiedasse) mas nem para isto estava preparado em sua nova vida. E seu estômago exigia ainda mais diante do cheiro e da presença dos alimentos que fumegavam.

Voltou a caminhar, até que viu num latão de lixo, um saco com pães embolorados. Encostou, olhou medroso pelos derredores. Vã preocupação: o povo não se apercebia da miséria que o envolvia. Sorria e conversava como se fosse comum o confinamento das facções de Deus e do diabo. Bem e mal, riqueza e miséria, felicidade e lágrimas, barriga cheia e fome… tudo estava ali, palmo a palmo de cada olhar que se projetasse. Mas todos pareciam achar tudo aquilo muito normal.

Tomás quebrou um naco e mastigou-o enojado. Uma senhora que passava, observou revoltada:

– É uma vergonha que as autoridades permitam que isso aconteça em pleno século vinte – e seguiu seu caminho rumo aos sinos que indicavam a hora da Ave-maria. Ia em busca de um Deus só seu, que também estava como Tomás: cheio de fome, mas só lhe ofereciam restos deteriorados.

E a primeira noite foi se avizinhando, chegando de mansinho. O sol declinava-se devagar, mas inexorável. Tomás ainda caminhava, levado pela mão dos anjos, para um ponto qualquer. Mais adiante, um magote de crianças saía das areias da praia, com uma bola de borracha debaixo do braço, matraqueando como se fossem um bando de psitacídeos nas ingazeiras – todos sabiam onde tinha que chegar.

Tomás assentou-se na areia, bem próximo onde as ondas quebravam. A brisa quente do dia arrefecia-se ante a despedida do sol que estendia seu lenço escarlate lá no ilusório horizonte da terra. As ondas batiam devagar e compassadamente: vinham até perto dos pés do menino e ali se infiltravam na areia, deixando flóculos de espuma espalhados na superfície lisa da areia. O menino olhava o sol sumindo, as ondas barulhando, o azul das águas eternas… olhava o mundo e a vida, e de seus pequenos olhos, as lágrimas rolavam. Depois, suas mãos pequenas apertaram a areia úmida e ele declinou-se cansado, e dormiu.

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